Zootecnista, formado pela Universidade Estadual Paulista – UNESP, Câmpus de Ilha Solteira-SP, mestre em Administração de Organizações Agroindustriais pela UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP. É analista e consultor de mercado da Scot Consultoria. Coordena as divisões de pecuária de leite, grãos e avaliação e perícia. Editor-chefe do Relatório do Mercado de Leite, publicação da Scot Consultoria. Atuação nas áreas de análises, estabelecimento de cenários, estratégias de mercado, realização de projeções de preços, oferta, demanda, análises setoriais e pesquisa de opinião e imagem. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado de leite, boi, grãos e assuntos relacionados à agropecuária em geral.
Artigo originalmente publicado na Revista Agroanalysis
No confinamento bovino, os custos com a aquisição do boi magro representam por volta de 70,0% dos custos operacionais da atividade, segundo estimativa da Scot Consultoria.
A alimentação é o segundo item de peso no bolso do pecuarista. Representa entre 20,0% e 25,0% dos custos, dependendo da dieta.
A sanidade representa entre 1,0% e 2,0% e o restante é composto pelos demais custos operacionais, além da depreciação.
Preços da arroba
Em 2014 o mercado do boi gordo se manteve em um bom patamar de preço, mesmo na safra. A oferta restrita de boiadas para abate ditou o mercado.
Com a entressafra, o mercado firmou ainda mais e os preços subiram fortemente. A arroba do boi gordo atingiu em setembro as maiores cotações nominais do ano.
Segundo levantamento da Scot Consultoria, na região de Barretos, em São Paulo, a arroba do boi gordo foi negociada por R$129,00, a vista. Veja a figura 1.
Figura 1.
Preços da arroba do boi gordo na região de Barretos, em São Paulo, em R$ por arroba, à vista.
Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br
Apesar da demanda por carne bovina patinar em meados de setembro, a menor oferta de rebanhos para abate foi mais forte neste momento (entressafra) e tem ditou os preços no mercado do boi gordo.
Em relação a setembro do ano passado, o pecuarista recebeu 21,4% mais pela arroba.
As expectativas são positivas, apesar das cotações terem caído no mercado futuro (especialmente o out/14 e o nov/14).
Os contratos futuros de boi gordo com vencimento em outubro/14 fecharam cotados em R$127,90 (12/9).
Para novembro/14 o mercado aponta para uma arroba de R$128,74/@. Para dezembro/14, os contratos fecharam em R$129,10/@.
Considerando o boi magro e a alimentação, tivemos comportamentos distintos entres os preços destes itens.
Boi magro
Os preços do boi magro estão firmes.
Além de procurado nesta época do ano pelos confinamentos, a oferta está menor e os preços subiram.
Em São Paulo, o boi magro de12@, anelorado, foi negociado por R$1.570,00 por cabeça, uma alta de 22,2% na comparação com o mesmo período do ano passado (figura 2).
Figura 2.
Preço médio do boi magro em São Paulo, média estadual, em R$ por cabeça.
Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br
Mas neste patamar de preço de boi magro, o confinamento é lucrativo?
Antes de responder, vejamos como se comportou o custo da dieta
Alimentação
A queda do preço do milho foi o grande destaque.
A baixa liquidez no mercado interno, com os vendedores retraídos devido às quedas das cotações, as exportações brasileiras patinando, a elevada disponibilidade interna e o início da colheita nos Estados Unidos, com expectativa de safra cheia, são os principais fatores de baixa.
Na região de Campinas, em São Paulo, o preço do milho caiu 35,4% desde março e o pecuarista está pagando 13,9% menos pelo grão em relação a setembro de 2013.
Figura 3.
Preço médio do milho em São Paulo - Reais/sacas de 60kg
Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br
Em curto prazo, não estão descartadas quedas nos preços do milho. Os leilões têm ajudado com o escoamento da produção, mas não têm sido suficientes para dar sustentação aos preços.
No mercado internacional, as cotações caíram às mínimas do ano na Bolsa de Chicago (CBOT), com o início da colheita norte-americana, cuja produção está estimada em 366,65 milhões de toneladas nesta temporada.
Os preços do farelo de soja também caíram, acompanhando a desvalorização da soja grão. A tonelada do alimento concentrado ficou cotada em R$1.078,00, sem o frete, 8,9% menor frente ao mesmo período do ano passado.
As quedas das cotações do milho e do farelo de soja pressionaram para baixo os preços dos alimentos alternativos, tais como a polpa cítrica, o sorgo, e o farelo e o caroço de algodão.
Resultado econômico
Para a estimativa do resultado econômico, consideramos a cotação das diárias que os confinamentos cobram para engordar bois de terceiros, é uma boa medida para mensurar de forma genérica o resultado que a atividade poderá gerar em 2014.
As diárias neste ano estão oscilando entre R$5,50/cabeça/dia em estados como Mato Grosso e Goiás, grandes produtores de grãos, e R$7,50 a R$8,50/cabeça/dia em São Paulo.
Neste modelo de parceria, aproximadamente 75% da diária é composto pela dieta. Os custos operacionais, que envolvem custos fixos e variáveis correspondem a 15%. O restante, 10%, referem-se ao que sobra para o prestador do serviço.
Foram considerados os extremos de preços cobrados pelos boiteis em São Paulo.
O preço de venda da arroba do boi gordo considerado foi de R$128,74, referente ao fechamento do dia 12 de setembro, para o contrato futuro de boi gordo de novembro/14.
Consideramos 90 dias de engorda, e o preço médio do boi magro anelorado com 12@ em agosto deste ano, em R$1.532,50 por cabeça. O ganho de peso médio foi de 1,5 quilo por dia.
O resultado obtido foi de R$129,13 por cabeça, com uma taxa de retorno do capital de 5,85% em três meses, com o custo do boitel em R$7,50 por dia.
Levando em conta o boitel custando R$8,50 por dia, o resultado fica mais apertado para ao pecuarista. O lucro cai para R$39,13 por cabeça, com rentabilidade média de 1,70% no período. Veja tabela 1.
Tabela 1.
Simulação de resultado econômico do confinamento bovino em 2014.
Fonte: Scot Consultoria - www.scotocnsultoria.com.br
Considerações finais
O planejamento da atividade é fundamental para antecipar os movimentos de altas e baixas de preços e garantir bons resultados econômicos.
No caso do confinamento bovino, o resultado positivo está diretamente relacionado a uma boa compra do boi magro e/ou dos insumos, em especial dos alimentos.
A proteção dos preços de venda é fundamental para o pecuarista que conhece os seus custos e, pensando em longo prazo, a permanência na atividade.
Na pecuária de corte moderna, em especial nos sistemas intensivos, como é o caso do confinamento, não existe espaço para erros.
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