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Scot Consultoria

Economia feijão com arroz: quando “criatividade” demais pode atrapalhar


Segunda-feira, 19 de outubro de 2015 - 11h13

Problemas sociais - soluções liberais
Liberdade política e econômica. Democracia. Estado de direito. Estado mínimo. Máxima descentralização do poder.


Morando fora do Brasil, sabia que o clássico feijão com arroz seria um dos itens que mais sentiria falta. Mas, felizmente, a Flórida é uma espécie de América Latina que deu certo, deixando de fora boa parte dos problemas que enfrentamos em nossos países de origem, mas conseguindo preservar o que eles têm de bom. Por exemplo, o pão de queijo mineiro e, sim, o feijão com arroz.

Como economista, não consigo evitar a analogia de minha área com o prato tradicional dos brasileiros. Quem leu o clássico de Adam Smith sobre a riqueza das nações sabe que não é preciso inventar muito a roda para ter prosperidade: basta deixar o mercado funcionar o mais livre possível, com sua "mão invisível" realizando verdadeiros "milagres".

Chegaram a cunhar até uma sigla para resumir a mensagem válida aqui: KISS, que significa "Keep It Simple, Stupid". Os economistas sérios sabem o que um país necessita para sua economia deslanchar: instituições sólidas, regras previsíveis, liberdade econômica e estabilidade monetária, de forma bem resumida. Claro, o difícil é colocar isso em prática quando há muita ignorância espalhada pela nação.

Mas não existem fórmulas mágicas ou receitas complexas e mirabolantes: basta o bom feijão com arroz e deixar o mercado fazer sua parte. Infelizmente, os brasileiros aprendem desde cedo a detestar o mercado, a atribuir a ele todas as mazelas do mundo, olhando para o estado como o messias salvador. Não queremos o feijão com arroz na economia, e sim as experiências malucas dos "chefs" contemporâneos.

O economista Rubem de Freitas Novaes, doutor por Chicago, escreveu um ótimo artigo no jornal GLOBO sobre essa nossa mania de querer ser "criativo" demais na gestão econômica. Nossos laboratórios de economia já pariram um monte de invenções esquisitas, todas fadadas ao fracasso.

Rubem fornece uma pequena lista de exemplos: "fórmulas matemáticas para as correções monetária, cambial e de salários, prefixação das variações do câmbio e da correção monetária, congelamento de preços e "tablitas", sequestro da poupança, bandas cambiais e sua forma suprema de pajelança: a banda diagonal endógena, a "nova matriz econômica", de Mantega e Rousseff etc. etc."

Quando tivemos algo que efetivamente funcionou, era inspirado no feijão com arroz, como a URV do Plano Real, adaptada por Gustavo Franco de uma ideia simples alemã. Mas são as exceções raras que comprovam a regra: o Brasil adora uma medida exótica na economia, adora fazer experimentos nessa área, como se não fosse de conhecimento geral dos bons economistas o que realmente funciona.

Agora mesmo o Brasil vive uma enorme crise econômica causada pela "nova matriz macroeconômica", inspirada no "desenvolvimentismo" inflacionista da turma da Unicamp. E qual a solução proposta pelo pessoal de esquerda? Mais heterodoxia, mais do veneno que causou nossa doença! O presidente do PT, Rui Falcão, diz em entrevista na Folha hoje que o governo deveria estimular o crédito público e reduzir a taxa de juros, ignorando que foi exatamente isso que Dilma fez e nos trouxe até esse abismo. Rubem conclui:

Precisamos deixar de lado os expedientes e passar a focar na situação crítica do Estado, este sim um ente que, descontrolado, é a razão de nossos males maiores. Nada do que se cogita nos gabinetes será solução se o governo não conseguir passar para a sociedade confiança em instituições sólidas e num quadro dinâmico de estabilidade fiscal.

É certo que o encaminhamento de soluções deve ser conduzido por um governo dotado de plena legitimidade e apoio popular, o que talvez não tenhamos, no momento. Mas as discussões devem focar na limitação legal das despesas e do endividamento público. E numa reforma drástica da Previdência. Pois é no controle do Estado, e não no controle dos mercados, que encontraremos o caminho para o progresso sustentável.

Mas ninguém quer fazer o feijão com arroz, pois ele não tem "charme", e exige o óbvio: a redução drástica dos gastos públicos para estancar a sangria fiscal. Nosso governo gasta muito, é perdulário, e vai quebrar a nação de vez se nada for feito para reverter isso. É o básico, a aritmética. Mas nossos economistas de esquerda preferem "inovar", querem implantar medidas "criativas" que permitam burlar a realidade. Pura magia.

São como um cozinheiro de restaurante humilde de beira de estrada achando que pode bancar o chef francês mais renomado, e produzir um prato novo de buchada de bode com espuma de caviar. Vai "dar ruim", claro. Era tão mais fácil e melhor se concentrar para fazer o bom e velho feijão com arroz...

Por Rodrigo Constantino


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