Zootecnista, formada pela Universidade Estadual Paulista-UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP. É analista de mercado da Scot Consultoria. É editora-chefe do informativo diário Tem Boi na Linha, publicação da Scot Consultoria. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado do boi e assuntos relacionados à agropecuária em geral.
O último trimestre do ano é marcado sazonalmente pelo aumento das vendas no comércio varejista.
Entretanto, o cenário de deterioração da economia brasileira está acabando com a esperança de aumento de vendas dos empresários do setor.
Segundo o Relatório Focus, elaborado pelo Banco Central, o PIB deve recuar 2,85% e a taxa de inflação ficará em 9,49%, os piores índices já registrados desde a criação do Plano Real.
O resultado de tudo isso. Segundo um levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), nove em cada dez empresários não contrataram e não pretendem contratar funcionários para o fim do ano.
A pesquisa indica que 45% dos empresários acreditam que os resultados das vendas em 2015 serão piores que o ano passado.
Isso tudo dever afetar, e muito, a cadeia da carne.
No último trimestre do ano, com a entrada da massa salarial extra, decorrente das contratações temporárias, que não vão acontecer em 2015, às vendas dos frigoríficos, açougues e supermercados, crescem.
Veja na figura 1 o comportamento histórico ao longo do ano da taxa de ocupação (taxa de emprego das regiões metropolitanas) e o preço do traseiro e do dianteiro bovino com osso.
A correlação entre o traseiro e a evolução das contratações é alta, 0,87. A correlação é obtida por uma equação matemática e quanto mais próximo de 1 mais alta é a relação entre as variáveis, indicando que elas tendem a se comportar de forma semelhante, variar juntas, no mesmo sentido.
Para o dianteiro a correlação é negativa, em -0,54, ou seja, ele varia em sentido oposto a taxa de ocupação.
Portanto, mais dinheiro no bolso do brasileiro, mais carne de traseiro, de maior valor agregado, é comercializada e menos de dianteiro.
Figura 1.
Evolução dos preços da carne bovina no atacado e da taxa de ocupação, em relação a janeiro (base 100).
Obs: Variações da carne no período de 1996 a 2014 e taxa de ocupação de 2004 a 2014.
Eixo da esquerda refere-se aos preços de traseiro e dianteiro e o eixo da direita a taxa de ocupação.
Fonte: IBGE / elaboração Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br
Em 2015 deve ser diferente
Segundo dados da Scot consultoria, em 2015, no mercado varejista de São Paulo, entre janeiro e a primeira quinzena de outubro, os cortes de dianteiro acumulam, em média, valorização de 18% contra 10,0%, pouco acima da inflação, para a carne de traseiro.
Mesmo com a queda nas importações de carne brasileira pela Rússia, principal cliente de dianteiro bovino do país, o que aumentou a oferta desse produto no mercado interno, os preços do dianteiro seguem em alta.
O atual cenário econômico brasileiro repercutiu negativamente nas vendas de carne durante todo o ano diminuindo o consumo do traseiro e aumentando a procura por dianteiro, "mais barato".
Daqui em diante, até o final de 2015, pouca coisa deve mudar nesse mercado e o comportamento normal, demonstrado na figura 1, não deve se repetir.
Sem as contratações temporárias e com a inflação sem limite para novas altas, o consumo de traseiro deve ficar para depois. Pode ser, inclusive, que seja mantido o nível de venda dos produtos mais baratos e os preços não caiam, fugindo também do movimento sazonal.
O problema deve ficar na mão das indústrias já que a arroba seguirá em alta até o começo do último bimestre. Sem espaço para repasses, as margens podem diminuir. Para o produtor, isso pode frear o movimento de alta da arroba.
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