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Scot Consultoria

Mas afinal, o consumo de carne bovina caiu ou não?


Terça-feira, 28 de junho de 2016 - 14h48

Engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.


A contração de 3,6% da economia em 2015 reduziu em 4,0% a renda média per capita do brasileiro, que caiu de R$2,5 mil ao mês em 2014 para R$2,4 mil/mês (IBGE) no ano passado. Essa queda reduziu o poder de compra da população.  

Carne bovina x carne de frango

Em relação às carnes bovina e de frango, Na média, com o preço de um quilo de carne bovina no varejo em São Paulo era possível comprar 4,3 quilos de frango inteiro. Se considerarmos somente os cortes de dianteiro de carne bovina, mais baratos e, portanto, mais competitivos em termo de preço, essa relação vem para 2,9 quilos de carne de frango, ou seja, substituir a carne de boi pela de frango ficou atraente.

Queda da disponibilidade interna de carne bovina.

Tal cenário justifica os números de consumo interno aparente do produto. O recuo foi de 10,9% em um ano, como mostra a tabela 1.

Tabela 1.
Consumo per capita de carne bovina.

Há, porém, ressalvas. A análise deste número precisa estar associada a outros indicadores. O entendimento do cenário macroeconômico, é o primeiro deles.

Isso porque o cálculo de consumo per capita, é feito a partir da produção de carne do país, que se soma ao volume importado, subtraído da exportação e dividido pela população naquele ano.

Portanto, se a economia nacional estivesse a pleno vapor e a população com poder de compra intacto, em nada, ou muito pouco, esse resultado de consumo seria diferente. Dessa forma, a oferta de carne, essencialmente, é que determina esse número. E, por sua vez, quem determina a oferta de carne é a disponibilidade de bovinos para abate. E todos sabem que a oferta de rebanhos está curta desde 2014.

Além disso, historicamente, 80,0% da carne bovina brasileira é consumida no mercado interno. Agora, imagine que se pressão de compra da população fosse grande e estivesse sendo vantajoso para as indústrias manter mais carne no mercado interno do que exportar. A parcela de 20,0% que exportamos, alteraria, mas pouco, a disponibilidade interna.

Em última análise, se estivéssemos com grande empenho em consumir carne e a oferta fosse limitante, certamente estaríamos importando mais. O que não aconteceu.

Então, partiremos para outros indicadores, que somados à análise da conjuntura econômica nos permitirá entender com clareza o que pode ter ocorrido com o consumo de carne bovina. A margem do varejo é um bom indicativo. Figura 1.

Figura 1.
Mark up dos açougues e supermercados paulistas com a venda de carne bovina.

Note na figura 1 que mesmo em um cenário de redução na disponibilidade de carne (tabela 1), os açougues e supermercados não conseguiram elevar os preços. Note ainda que foram pouquíssimas às vezes em que o mark up ultrapassou os 60,0%.

Outro indicador é a elasticidade renda da população. Para a carne bovina de cortes de traseiro, por exemplo, esse índice é de aproximadamente 0,53 e indica que a cada 1,0% de variação da renda, a despesa com este produto varia 0,53%. E, se a população perdeu renda, isso indica que o consumo de carne de cortes de traseiro caiu.

O cenário econômico em 2016 está sendo semelhante ao de 2015. Embora a inflação projetada até o final do ano esteja em 7,0%, ainda assim está acima do teto da meta do governo. A recessão, novamente, deverá se aproximar dos 4,0%. O país passará por dois anos seguidos de economia em retração e as consequências se acumulam.

Ou seja, os produtos cujos valores são mais altos deverão apresentar dificuldade de escoamento.

A margem dos frigoríficos em 2016 tem mostrado isso. Desde janeiro a receita de uma indústria que desossa não chega a 16,0% superior ao preço pago pela arroba. Ante uma média histórica de 21,0%.

Neste começo de entressafra, mais precisamente em maio, o resultado chegou ao pior patamar do ano, 13,0%. Ou seja, é só a arroba subir pela falta de oferta, que os resultados da indústria pioram já que está difícil elevar o preço da carne.

Segundo o IBGE entre janeiro/2015 e março/2016 as vendas de alimentos, bebidas e fumo nos supermercados saíram de um índice positivo de 0,9 para um negativo de 2,9. É sempre bom lembrar que, mesmo não sendo a carne bovina analisada separadamente nesses índices, é considerada um produto "mais caro".

Figura 2.
Índice do volume de vendas no varejo, em supermercados, para alimentos, bebidas e fumo.

Em resumo, associando esses indicadores, fica claro que está difícil vender carne bovina diante de um cenário tão complicado para a economia.

Ao pecuarista, atenção ao resultado dos frigoríficos.

Fonte: Revista DBO. Ano 35. Número 428. Junho de 2016.

Colaborou Alex Lopes


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