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Scot Consultoria

Abates bovinos em 2015: recomposição do rebanho a caminho


Segunda-feira, 4 de julho de 2016 - 14h00

Zootecnista pela UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, consultor de mercado. Coordenador da divisão de mercado de reposição e de planilhas eletrônicas de custos da atividade agropecuária. Atua nos Diagnósticos e Análises Técnicas e Econômicas (DATE) realizados pela empresa. Editor chefe da Carta Gestor. Editor chefe da Carta Boi. Editor chefe do informativo Tem Boi na Linha.

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Em meados de março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados referentes ao abate inspecionado de bovinos no último trimestre de 2015.

Este era um balanço aguardado pelo mercado, já que permite a análise da participação de fêmeas no abate total de bovinos no fechamento do ano.

O indicador de participação de vacas e novilhas no abate total é utilizado para medir a força com que se espera que o rebanho cresça ou diminua.

Além disso, aponta como estão as expectativas dos produtores quanto ao mercado do bezerro e dá uma ideia da safra para o próximo ciclo produtivo.

Os abates

Os dados apresentados são referentes apenas aos abates inspecionados, portanto, não refletem o volume absoluto de abates do país no período.

Segundo o IBGE, foram abatidos em estabelecimentos inspecionados 30,64 milhões de cabeças de bovinos. Frente as 33,91 milhões de cabeças abatidas em 2014, houve uma queda de 9,6% nos abates no ano passado.

Quando decompomos estes números em machos (bois e novilhos) e fêmeas (vacas e novilhas), fica evidente a diferença de comportamento.

Foram abatidas 18,71 milhões de cabeças de machos e 11,93 milhões de cabeças de fêmeas, uma queda de 5,2% e 15,8% frente a 2014, respectivamente. Em resumo, houve queda nos abates de machos e fêmeas, mas de maneira bem mais pronunciada para as fêmeas.

Computando estes dados, tivemos a primeira queda considerável para a participação de fêmeas no abate desde 2010.

Figura 1.
Participação das fêmeas no abate total bovinos em cada ano.

Esta tendência aponta estímulos positivos para a atividade de cria, com o preço do bezerro exercendo forte influência na decisão do produtor em manter as matrizes em produção.

Para efeito de comparação, enquanto a cotação da arroba do boi gordo subiu em média 22,7% e 15,1% em 2014 e 2015, respectivamente, considerando a cotação média de São Paulo, a cotação média do bezerro desmamado (6@) subiu, no mesmo período, 31,7% e 30,6%, respectivamente.

Impactos no mercado

A participação de fêmeas no abate de bovinos é um dos principais indicadores que devemos acompanhar para antecipar mudanças no rumo do mercado do boi.

Dessa forma, 2015 sinalizara que algo começara a mudar. Porém, as respostas normalmente ocorrem em um ritmo lento e gradual no mercado do boi.

No último ciclo, como podemos ver na figura 1, a redução da participação das fêmeas no abate de bovinos ocorreu por quatro anos consecutivos. Este é um intervalo condizente com um ciclo produtivo da pecuária, na média nacional.

Fazendo uma analogia, podemos esperar que a retenção de vacas ocorra por pelo menos mais dois anos.

A resposta mais rápida desse movimento deve ser, como o verificado no ano passado, o enxugamento da oferta de bovinos. A menor quantidade de fêmeas disponível para o abate faz diferença nas escalas dos frigoríficos, o que deverá manter sustentado o mercado do boi em curto prazo.

Contudo, aos poucos, a oferta será recomposta até o ponto dos preços perderem sustentação, e isso vale para todas as categorias. A cotação do bezerro é a que primeiro sinaliza esse aumento de oferta.

Esperamos que, a partir de 2017, tenhamos uma perceptível melhora na disponibilidade das categorias jovens (impulsionada pela retenção de fêmeas de 2015).

Além disso, nas fases de recomposição de rebanho, ocorre o que podemos chamar de correção dos preços do bezerro frente ao do boi. Observe a figura 2.

Figura 2.
Arrobas de boi gordo necessárias para a aquisição de um bezerro desmamado (6@) em São Paulo e a média dos últimos dez anos. 

Estivemos, no fim de 2015, diante da pior relação de troca para o comprador de bezerro nos últimos vinte anos. Nos primeiros meses de 2016 a relação já melhorou para o recriador.

Acreditamos que nos próximos anos esta tendência se consolide, não somente em razão do comportamento histórico, mas também em função do patamar vigente da relação, que se distanciou da média.

O mercado tende a responder mais rápido nestas situações, neste caso, através da redução de demanda por bezerros.

Para onde olhar?

Para correlacionar os dados de abate de fêmeas com os preços do bezerro em várias regiões, analisamos os catorze estados pesquisados pela Scot Consultoria para o preço do bezerro e os dados do IBGE para abate de fêmeas.

Para avaliar os últimos dados disponíveis de preço anual fechado e validar a análise geográfica, comparamos a variação anual da participação de fêmeas no abate em 2013 e a variação anual de preço do bezerro em 2015, em função do intervalo de tempo entre concepção e oferta do bezerro no mercado. Os resultados estão na figura 2.

Figura 2.
Comportamentos da variação anual da participação de fêmeas no abate (2013) e da variação anual dos preços do bezerro desmamado (2015), por estado. 

Fica evidente a ligação entre a magnitude de abate de fêmeas e resposta do preço do bezerro. Em estados com maiores aumentos da participação de fêmeas no abate em 2013, o preço do bezerro reagiu com maior força em 2015. E vice-versa.

Em nível nacional, a variação da participação das fêmeas nos abates ficou em 0,2% em 2013, tendo o bezerro subido 33,6% na média de todos os estados pesquisados.

Tomemos como exemplo os extremos, Bahia e Rondônia. Na Bahia, com aumento de 15,8% da participação de fêmeas no abate em 2013, a cotação do bezerro disparou 47,9% em 2015. Já em Rondônia, com a redução de 11,6% na participação de fêmeas no abate em 2013, a cotação do bezerro subiu 15,7% em 2015, a menor variação anual verificada.

É importante ressaltar que o aumento ou redução da participação de fêmeas no abate não é o único fator determinante do preço do bezerro. Temos também a taxa de natalidade regional (influenciada pela condição climática) e em casos extremos a taxa de mortalidade do rebanho (de fêmeas e bezerros), como a verificada na região Nordeste em anos de calamidade climática.

Além disso, o comportamento do preço do boi, que pode ser influenciado por outros fatores, também exerce pressão sobre os preços do bezerro, em função das expectativas de preço futuro dos agentes de mercado.

Tendo verificado a proximidade do comportamento das grandezas apresentadas, podemos fazer uma análise geográfica para os preços do bezerro, com base nos abates de fêmeas de 2014 e 2015.

Tabela 1.
Variação anual na participação de fêmeas no abate em 2013, 2014 e 2015 por estado, em ordem decrescente. 

Fazendo uma analogia a partir dos dados de abate de 2013, podemos esperar um mercado mais frouxo que a média para o bezerro em 2016 nos estados com maiores quedas na participação de fêmeas no abate em 2014 e um preço mais firme naqueles com maiores altas nesta participação. Uma boa "linha de corte" para os dados é a variação nacional.

Olhando mais a frente, podemos considerar os dados de 2015 para projeções para 2017. Destacamos Rondônia, que inverteu por completo a tendência, em razão dos desestímulos de mercado verificados no estado, e aumentou em 11,7% a participação de fêmeas no abate em 2015, frente a 2014. Com tendência oposta, temos o Tocantins, com a maior queda anual na participação de fêmeas no abate em 2015.

Considerações finais

Esta análise e considerações estão sendo feitas em um momento de alta tensão política e econômica e estão baseadas em comportamentos típicos de mercado.

Apesar do comportamento cíclico do mercado do boi e do bezerro e, até certo ponto previsível, o cenário brasileiro inspira muito cuidado e planejamento.

De qualquer forma, o mercado deu o sinal: vem mais gado por aí. Não seja pego de surpresa, seja você criador ou invernista.

Fonte: Revista Animal Business Brasil. Ano 06. Número 27. 2016.


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