Médico Veterinário pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Pecuária de Corte pelo Rehagro, sócio-diretor da Qualitas Melhoramento Genético, com 21 anos de atuação nas áreas de gestão, produção e melhoramento genético. O Programa Qualitas de Melhoramento Genético conta com mais de 40 fazendas, nos estados de GO, TO, RO, SP, PR, MG e MT e também na Bolívia, totalizando um rebanho de mais de 250.000 cabeças.
Foto: Leonardo Souza, Qualitas.
Não sabemos e talvez não seja possível saber, quando o primeiro ser humano (pode ter sido tanto um homem quanto uma mulher) determinou que os “melhores” (mais “carnudos”) bovinos de um rebanho não fossem consumidos, mas sim, preservados para reprodução. Acredito que foi nesse momento o início do que hoje chamamos de seleção de bovinos de corte com o propósito de aumentar a produção de carne.
E desde então o ser humano segue o mesmo modelo para fazer seleção:
1o. - Identificar os animais que são os melhores. Ou seja, as exceções;
2o. - Multiplicar através da reprodução as exceções;
Para que as exceções se tornem a média do rebanho.
Apesar do modelo ser simples, praticar a seleção é extremamente difícil, uma vez que, a principal questão a ser respondida é complexa: Como é, ou como deve ser o melhor animal?
E para complicar sabemos que, em um país continental e que apresenta diferentes sistemas de produção é pouco provável que um único modelo de melhor bovino atenda a todas as realidades brasileiras.
Mas, sabendo disso, quando aplicamos o problema para a realidade de uma única fazenda, o melhor bovino é aquele que trará os melhores resultados produtivos e financeiros naquele sistema de produção. Assim, para definir o que é o melhor animal é preciso antes, definir onde e como ele será criado. Tarefa difícil em um país onde a exploração pecuária é recente. Singular pela produção em pastagens, em sua grande maioria tropicais, mas principalmente exóticas (foram trazidas de outros continentes). E que por isso, sofrem para se adaptarem e permanecerem perenes, por conta dos desafios climáticos, de competição com outras plantas, de insetos “pragas” e da fertilidade dos solos.
Ou seja, o próprio sistema de produção está sujeito a mudanças, seja por fatores não controláveis pelo pecuarista, mas principalmente por vontade própria, visando acompanhar a evolução tecnológica, ajustar o sistema a mudanças na própria cadeia da carne ou mesmo copiar ou fazer totalmente o contrário do que o vizinho está fazendo!
Para sintetizar, o melhor bovino hoje pode não ser o melhor para o sistema de produção de amanhã. Principalmente, se o pecuarista não seguir uma linha de trabalho. Por isso é preciso planejamento e persistência para se fazer seleção. E esse é o primeiro motivo que confirma que selecionar bovinos de corte no Brasil é um desafio sem fim.
O segundo motivo é que, mesmo definindo e adotando um único e imutável sistema de produção, nunca conseguiremos identificar o bovino perfeito. Por que a quantidade de características ideais que este animal deve apresentar é muito grande: ser adaptado ao ambiente, ter resistência a ecto e endoparasitas, nascer pequeno (leve), desmamar pesado, ganhar muito peso após a desmama, ser precoce sexualmente, produzir um bezerro por ano, apresentar grande quantidade de carne, ser dócil, comer pouco e ganhar muito peso, ter carne macia e saborosa, ter a aparência que agrada ao dono, e por aí vai.
E para complicar, parte destas características apresentam correlações antagônicas. Isso quer dizer que se a regra é: se uma vaca produz muito leite, ela será mais exigente em nutrição e por isso não conseguirá ficar prenhe logo após o parto, pois toda a sua energia estará direcionada para a produção de leite e não para a reprodução. Mas queremos que a vaca produza um bezerro pesado por ano. Outro exemplo é que bovinos com muita “musculatura” apresentam menor fertilidade. Ou seja, o ser humano quer que o bovino tenha as duas características, mas uma “atrapalha” a outra. Mas existem exceções às regras. E é por isso que dizemos que o desafio do selecionador é identificar as exceções.
O terceiro motivo é que, mesmo identificando hoje o bovino ideal, ainda sim, seria possível encontrar um animal ainda melhor amanhã. Desde que seja mantida a variabilidade genética no rebanho, pois é isso que torna possível que os filhos sejam melhores que os pais por gerações e gerações, de maneira infinita.
E são por todos esses motivos que a própria pecuária apresenta um desafio sem fim, que a torna tão apaixonante e capaz de consumir a vida de gerações de famílias que se dedicam sempre a buscar o melhor para os seus rebanhos.
Por isso, o pecuarista é antes de tudo, um selecionador.
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