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Scot Consultoria

Sazonalidade dos preços do bezerro: o barato é a melhor alternativa?


Sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018 - 09h40

Graduada em Gestão Ambiental pela ESALQ/USP, mestre e doutoranda em desenvolvimento econômico pela Unicamp. Pecuarista em Mato Grosso. Pesquisadora, consultora e palestrante em temas relacionados à economia.


Foto: Scot Consultoria

 

Caro(a) pecuarista,

Nos últimos textos, analisamos as tendências de comportamento do preço do boi (leia aqui) e também da soja (veja aqui).

Agora o foco é o bezerro. Este que é a principal fonte de receita para os criadores e também o fator mais relevante no custo de produção de quem faz a Recria-Engorda. Como ilustrado na figura 1, ao longo do ano, a diferença entre os preços mais baixos e mais altos do bezerro (Indicador do Bezerro de Mato Grosso do Sul - animais de 8 a 12 meses – Cepea/Esalq) é de 6%, já descontada a inflação. Estatisticamente, considerando a série histórica do Indicador, iniciada em 2000, o menor preço por animal tende a ocorrer no mês de janeiro e o mais alto no mês de junho.

Porém, a cadeia está mudando e passamos a olhar para a qualidade e potencial genético do animal. A comercialização, aos poucos, não é mais feita na “perna”, mas sim no quilo. Ainda que a figura 1 aponte que, em anos sem choques de oferta ou demanda, o melhor momento para adquirir a reposição em termos de “preço por animal” seja nos meses de dezembro e janeiro, será que esta é a melhor solução para seu negócio?

Se analisada a série histórica do peso do animal, primeiramente observamos uma tendência de aumento do peso médio nos últimos anos. Em 2000, o bezerro pesava, em média, 175 quilos, também dados do Indicador do Bezerro Cepea/Esalq. Em 2017, o peso médio do ano foi 206 quilos!

Ainda que o peso médio tenha aumentado em quase 20%, o padrão de peso ao longo do ano se manteve: os animais mais pesados são justamente comercializados em junho e julho. Já os animais mais leves são vendidos entre dezembro e janeiro. Ou seja, há uma estreita relação entre a alta do preço por animal e a sazonalidade apresentada na figura 1, com o peso destes animais. Desta forma, caro e cara pecuarista, fizemos a análise sazonal para o preço por quilo de bezerro. Veja na Figura 2.

Quando analisado o preço médio por quilo de bezerro vivo, o índice de sazonalidade tem uma amplitude (diferença entre os mínimos e máximos) de 4,43%, também já descontando o efeito da inflação.

É interessante observar, que como pecuaristas, sabemos que os bezerros de maior qualidade são comprados justamente entre abril a junho, em alguns anos até julho. São os momentos quando o preço do quilo tende a ser, sazonalmente, o mais alto. Como sabemos, são os bezerros “do cedo”, aqueles que mamaram durante o final da seca e, quando começaram a pastejar, obtiveram boa oferta de forragem. É um animal que não sofreu com a estiagem.

Como a sazonalidade nos auxilia nos negócios – Analisar a “sazonalidade de preços” é o mesmo que analisar os dados históricos climáticos de uma região. Ele permite traçar um padrão de comportamento, mas há anos em que existem adversidades climáticas, podendo chover mais ou menos. Ainda assim, este padrão das estações dos anos é o que nos permite planejar nossa produção e, inclusive, decidir o momento de começar o plantio. O mesmo vale para os preços.

Deste modo, para quem vende o bezerro, se comercializar os animais entre abril e agosto, a probabilidade de obter preços por quilo acima da média anual (linha vermelha no gráfico) é maior. Mais um motivo para a realização da estação de monta, além de todas as vantagens zootécnicas. Além disso, ressaltamos a importância dos ganhos em produtividade. Hoje a Cria é um dos elos que mais necessitam de investimentos na nossa produção.

Para quem compra o bezerro, será que adianta olhar apenas para preço? Ou o “barato” pode sair caro, com um animal que não responda tão bem aos outros insumos e investimentos?

O que observamos, na prática, é que os animais melhores e possivelmente mais caros, tendem a ter uma maior capacidade de resposta ao manejo nutricional adotado na fase seguinte. Também tem o potencial de proporcionar um giro mais rápido da sua atividade. Isto tudo, claro, tem que estar alinhado com outros fatores produtivos da sua propriedade, como a disponibilidade de pastagem. Se tudo estiver alinhado, nem sempre o barato é a melhor alternativa.

Porém, se optar por animais mais leves, faça as contas do tempo em que ele irá ficar a mais na sua propriedade, bem como o custo disto. Em algumas situações, o retorno econômico é maior. Cada compra, assim como cada propriedade, é única e os resultados são diferentes. Mas, faça o planejamento. Esta “amplitude” dos preços ao longo do ano, apresentada anteriormente, é uma ferramenta para você fazer este planejamento financeiro.

Outro ponto, é estabelecer relações comerciais de médio e longo prazo com seus fornecedores de bezerros. Mas lembre-se: neste caso, não deixe de medir os indicadores zootécnicos destes animais, só assim será possível comparar os resultados, inclusive dos animais de cabeceira, meio e fundo.    

METODOLOGIA - Para analisar o comportamento dos preços por cabeça e por quilo do bezerro, foi utilizado o modelo matemático proposto por Hoffmann (2002), na série histórica do Indicador do Bezerro de Mato Grosso do Sul (animais de 8 a 12 meses), iniciada em fevereiro de 2000, até janeiro de 2018, já descontado o efeito da inflação (deflacionado pelo IGP-DI de dez-17). Por exemplo, no caso da diferença entre preço mínimo e máximo ao longo do ano por animal, que foi de 6%, se considerada um ano de inflação de 10%, esta diferença entre o mínimo e máximo será maior, próximos aos 16%.   

Traduzindo os termos matemáticos, este modelo de sazonalidade busca normalizar as variações de série de preços, diminuindo os efeitos abruptos ou atípicos de uma base de dados, são as quebras de safras de alguns anos específicos. Busca assim, um valor matemático que expressa o comportamento de preços em período típicos, onde não há choques de oferta, nem demanda. 

Coautoria: João Paulo Franco (Zootecnista pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Mestre e Doutor em Nutrição Animal pela Unesp e Pós Doutor em Manejo de Plantas Forrageiras pela Universidade Federal de Uberlândia).            

Agradecemos o amigo, Rodrigo Albuquerque, pela colaboração nas discussões dos resultados deste texto.


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