Médico-veterinário, pós-graduado pela ESPM, MBA em finanças pelo Insper-SP e sócio diretor da Radar Investimentos
Foto: www.aguia.agr.br
A movimentação do milho nas últimas semanas nos mercados físico e futuro foi assustadora, mesmo para os padrões das commodities mais voláteis negociadas no mundo.
O Índice Esalq subiu praticamente 30,0% desde meados de fevereiro, saindo de ao redor de R$33,00/saca para os atuais R$43,00/saca. No mercado futuro a variação foi ainda mais intensa, com direito a limite de alta no contrato de maio/18 no pregão do dia 13/2.
Esse frenesi comprador aconteceu teoricamente na contramão dos fundamentos, que indicavam pelos números de estoque de passagem da Conab uma situação relativamente confortável até a entrada da safra de verão. Porém, confortável não foi, nem de longe, a realidade enfrentada pelos usuários de milho nas últimas semanas que travaram uma disputa ferrenha pelos lotes disponíveis no mercado.
Muito dessa situação aconteceu não pela indisponibilidade do cereal no mercado, mas por conta do direcionamento quase que exclusivo da logística disponível para o transporte e escoamento da safra de soja, deixando o milho de lado e complicando a vida de quem precisava de milho para entrega imediata. O volume da safra de soja e o maior valor agregado da oleaginosa justificam esse direcionamento que pode ser revertido a medida que a colheita caminhe para o final.
Outra hipótese possível para essa forte alta do milho é que grande parte do estoque de passagem esteja na mão de grandes compradores, que com maior acesso a capital de giro e armazenagem se estocaram durante o excesso de oferta do ano passado o que faria com que apesar de o número do estoque ser alto, grande parte dele já tem dono e, portanto, não viria ao mercado, deixando os pequenos usuários sem outro recurso a não ser pagar mais pela oferta disponível.
Uma terceira hipótese seria que o estoque de passagem não seja tão grande quanto os números da Conab mostram. Essa hipótese se baseia na crença de que a Conab possa ter subestimado o consumo anual de milho do Brasil nos últimos anos, o que levaria a estoques de passagem sucessivamente superestimados e, portanto, esse milho não existe efetivamente no mercado. Quem acredita nessa hipótese se apoia no grande aumento do uso de milho na pecuária de corte nos últimos anos, com o enorme crescimento do uso de dietas concentradas na engorda de bois em confinamento, semi-confinamento ou até mesmo a pasto. Caso esse fator tenha passado despercebido na análise dos órgãos oficiais, pode ter levado a esse subdimensionamento do consumo anual de milho do Brasil.
Qualquer que seja o motivo, o fato é que no curto prazo os compradores estão tendo que pagar mais caro pelo milho disponível, porém, o mercado é muito dinâmico e quem estocou milho no ano passado a preços muito competitivos, pode ter muito mais lucro vendendo a mercadoria agora do que a destinando para seu uso final na engorda de animais, por exemplo. Esse fator já vem sendo observado em muitas operações de confinamento, onde é mais rentável vender o estoque de milho e de boi magro do que proceder a engorda dos animais. Além disso, ainda falta colher grande parte da safra de verão de milho e a safrinha embora tenha sido plantada em muitos casos fora da janela ideal, vem se desenvolvendo muito bem. Até agora não é possível afirmar categoricamente que esse novo patamar de preço do milho veio realmente para ficar, mas uma coisa é certa, a volatilidade do mercado vai continuar em alta.
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