Médico veterinário pela UNESP campus de Jaboticabal, especialização em produção animal pela UFLA e atual Consultor senior da CRIATEC - Consultoria em Agronegócios.
Foto: William Marchi - Animais pastejando sob a sombra de renques de eucalipto, Fazenda Santa Brgida, IpamerGO
Retomando a pesquisa sobre adoção de Sistemas Integrados de Produção Agropecuária realizada pela REDE ILPF entre 2015 e 2016, teríamos 11,5 milhões de hectares com algum sistema de integração, e que deste total, apenas 9% teriam o componente florestal.
Aí nos vieram os questionamentos; quais os principais motivos que dificultam a implantação de sistemas florestais, o que leva o produtor a não optar pela agregação de florestas em seus ambientes integrados?
Quando falamos de agricultores, o principal argumento é a dificuldade de plantio e tratos culturais em uma lavoura contendo renques de árvores em suas áreas. Como atualmente as janelas de plantios são muito curtas, a agilidade nas operações passa a ser fator determinante na eficiência de produção da agricultura. Desta forma, a decisão de se implementar o componente florestal dentro da propriedade agrícola é um grande desafio. Porém agricultores que o fazem, de forma bem planejada, levando em consideração a topografia das áreas, o maquinário disponível e eventuais aquisições, estão estabelecendo um novo olhar para a floresta integrada.
Quando um produtor busca implementar o componente florestal em suas áreas, são várias as dúvidas que pairam e que poucos técnicos possuem todas estas respostas:
- Qual espécie florestal adotar?
- Dentre estas espécies, quais variantes elas possuem, clones, variedades, etc.?
- Quais destas espécies e variantes são adaptadas às minhas condições de solo, clima, bioma, localização?
- Em quais áreas da propriedade implantar as florestas integradas?
- Com qual espaçamento entre renques?
- Os renques serão com linhas simples, linhas duplas, linhas triplas, enfim qual a melhor disposição?
- Estes renques respeitarão o sentido Leste/Oeste, Norte/Sul ou acompanharão os terraços das áreas?
- Qual o destino será dado a esta produção, produção de cavaco para queima, produção de lenha para queima, produção de postes e mourões de cercas, madeira para construção civil, madeira para palets, madeira para movelaria?
- Quais são os manejos que devo realizar para a condução adequada destes renques?
- Quais cuidados devo ter ao conduzir as lavouras e o gado entre os renques para não prejudicar a floresta?
- Com quantos anos irei obter algum retorno destes investimentos?
- Estes investimentos me darão retorno?
Se tratando de inovação e empreendedorismo, o produtor brasileiro supera-se constantemente. Estamos começando a deparar-nos com exemplos de exploração florestal, dentro dos sistemas integrados, que antes não imaginávamos.
Nos deparamos até com produtores utilizando árvores como prestadoras de serviços, sem o corte do componente florestal. Como tem sido o caso do uso de árvores de Ingá para o fornecimento de sombra e fixação biológica de nitrogênio, conseguindo manter até cinco unidades animais por hectare em pastagens consorciadas com estas espécies de leguminosas que não serão cortadas, são as denominadas “Árvores de Serviço”.
Hoje temos produtores explorando espécies exóticas com grande geração de renda, como o caso da Teca, do Cedro Australiano, Mogno Africano e até mesmo o Eucalipto para movelaria nobre.
Temos alguns exemplos de produtores em Mato Grosso com exploração profissional do cultivo da Teca que exportam, conseguindo gerar mais de 20 mil reais de resultados por hectare advindo da exploração desta madeira nobre.
No caso da exploração nobre do eucalipto, vou trazer o exemplo de nosso amigo o senhor Marco Túlio Paolinelli que possui uma propriedade rural no município de Uberaba-MG e resolveu se dedicar a desmistificar a utilização da madeira de eucalipto para fins da fabricação de produtos nobres como a movelaria fina.
Segundo Marco Tulio, o segredo para se conseguir uma excelente qualidade da madeira de eucalipto é uma operação de secagem adequada e criteriosa. Para tal ele investiu em uma estufa profissional com esta finalidade.
Outro processamento que pode ser implementado é a utilização de autoclaves para tratamento dos mourões e postes para finalidades diversas. Processo mais acessível e com grande procura por produtos de eucalipto tratado em substituição de cercas, postes elétricos e dormentes, entre outros.
A agregação de valor promovida pelo processamento profissional da madeira de eucalipto é capaz de tornar o componente florestal na integração a atividade mais rentável.
Enfim, temos diversas maneiras de explorar o componente florestal dentro do ILPF e torna-lo uma atividade rentável, com a grande vantagem de se conseguir o sequestro de carbono por estas árvores e com isso compensar parte ou toda a emissão de gases de efeito estufa dos animais e da operação agrícola que ali se pratica.
Também temos a possiblidade de implantarmos “Arvores de Serviços” cuja função será promover sombreamento para os rebanhos, barreira de ventos, controle de geadas, fixação biológica de nitrogênio. Atividades importantes para uma agropecuária sustentável em todos os seus aspectos, econômico, social e ambiental.
Porém, necessitamos capacitar nossos técnicos para entenderem também do componente florestal, de forma a conseguirem auxiliar os produtores que estão dispostos a implantarem a atividade com segurança e com a real noção das possibilidades de resultados econômicos que a floresta poderá agregar em seu sistema de produção.
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