Médico-veterinário, pós-graduado pela ESPM, MBA em finanças pelo Insper-SP e sócio diretor da Radar Investimentos
Foto: visualhunt.com
O mercado financeiro entrou em modo pânico ao longo dessa semana com o dólar explodindo, bolsa despencando e juros futuros também subindo forte. A incapacidade do governo atual para enfrentar essa turbulência é enorme, sem capital político para tomar as medidas necessárias e sem nenhuma margem de manobra no orçamento para acomodar as mais diversas demandas de caminhoneiros, produtores rurais, aposentados e o restante da população. Somado a isso temos o risco eleitoral, com pesquisas mostrando que os candidatos com discurso mais reformista e preferidos pelo mercado estão tendo suas chances de eleição diminuídas pelo tamanho do tumulto que estamos vivendo no país.
A alta do dólar, que ao meio dia de 7/6 chegou a ser cotado a R$3,95, maior patamar em mais de dois anos, desde o auge da crise do governo Dilma, muda a precificação de todas as commodities exportadas pelo Brasil e seu impacto no mercado de boi também será muito relevante. O mercado mundial de carne bovina está aquecido e a principal evidencia disso é a forte alta das exportações dos Estados Unidos, que mesmo tendo seu produto subindo com a alta do dólar estão aumentando suas exportações ao ritmo de 15% ao ano, segundo os dados de abril divulgados recentemente. No caso da carne suína a alta no volume exportado foi ainda maior, de 18% no ano. Não bastasse o aumento do volume, os preços também subiram já que a receita com as exportações de carne bovina subiu 23% no mesmo período. É necessário observar que não somos concorrentes diretos dos EUA nos maiores mercados de exportação, já que ainda não podemos exportar para os maiores compradores do produto americano, mas os dados chamam a atenção para o apetite do mercado.
A alta do dólar barateou enormemente a carne bovina brasileira, como pode ser observado na figura 1 que mostra o preço da arroba brasileira em dólares.
Figura 1.
Arroba do boi gordo em São Paulo, em dólares.
Fonte: Radar Investimentos / Broadcast
Somando demanda externa aquecida e nosso produto mais barato em dólares, é fácil imaginar que temos tudo para ter um ano com forte crescimento em nossas exportações.
Além desse fator muito importante, temos também as proteínas concorrentes que tiveram uma correção gigantesca, com os preços subindo quase que verticalmente como pode ser observado na figura 2.
Figura 2.
Preço do frango resfriado no atacado, em R$/kg.
Fonte: Radar Investimentos / Broadcast
A correção dos preços do frango acabou sendo exacerbada pelo desabastecimento causado pela greve dos caminheiros, porém com a diminuição no alojamento de pintinhos a tendência dos preços permanece para cima.
Além de todos esses fatores, temos um fator adicional que é a tendência do pecuarista preferir ficar com o dinheiro aplicado em bois ou bezerros do que no banco em tempos de incertezas políticas. Já pode ser percebido um forte aumento de demanda por bezerros nesse sentido e isso terá reflexos positivos também no boi gordo.
Enfim, o mercado futuro de boi ainda não reflete todo esse potencial de alta, mas as condições para maiores aumentos na entressafra estão dadas, resta saber se ele reagirá dessa forma em algum momento.
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