Zootecnista, formado pela Universidade Estadual de Maringá - UEM, Câmpus de Maringá-PR. É analista de mercado da Scot Consultoria. Editor-chefe do Relatório de Terras, publicação da Scot Consultoria. Pesquisador de mercado nas áreas de boi, leite e grãos. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado do boi, grãos e assuntos relacionados à agropecuária em geral.
Foto: www.sociedadedacarne.com.br
Popularmente chamado de “celeiro do mundo” a agropecuária brasileira produz majoritariamente, carne bovina commodity, ou seja, um produto com menor valor agregado, visando a produção em escala.
Entretanto, a demanda por carnes especiais está crescendo e, apesar deste mercado ainda ser, comparativamente pouco explorado, assistimos à “gourmetização” das carnes bovinas no Brasil.
É importante diferenciar a carne commodity das carnes especiais (também conhecidas como carne premium), ou seja, um produto que exalte o sabor, a maciez e a suculência e, não preço.
É importante diferenciar o “joio do trigo”, pois, apesar da produção brasileira ser predominantemente carne commodity, o Brasil exporta para diversos países, dentre eles, mercados exigentes quanto a maneira da produção e qualidade e, produzindo commodity, o país consegue atender estes mercados (como a União Europeia, por exemplo).
Portanto, mesmo a carne commodity intrinsicamente possui boa qualidade, apesar de ser menos valorizada que as conhecidas carnes especiais.
Porém, quando se trata de produção de carnes especiais, este mercado no Brasil está “engatinhando”, nos primeiros passos, principalmente quando comparado a outros países, como a Argentina e o Uruguai, por exemplo.
A produção da carne commodity é caracterizada pela falta de padronização das boiadas, ou seja, vão para o abate bovinos de idade, peso, sexo, e raças diferentes, enquanto que na produção das carnes especiais há necessariamente padronização, iniciada no começo, desde a escolha do material genético a ser utilizado.
O nelore é uma das principais raças da pecuária de corte brasileira, e apesar deste fato ser uma diferença da pecuária nacional frente a outros países, não é a razão da maior produção de carne commodity em relação às carnes especiais.
Existem programas de certificação de raças bovinas, tais como: Programa Angus, Braford, Hereford, Charolês, Senepol e o Programa de Qualidade Nelore Natural, por exemplo.
Todos estes programas mostram que não há uma raça detentora da qualidade da carne bovina, sendo possível a produção de carnes especiais com diversas raças e/ou cruzamentos, incluindo a nelore.
Os programas ditam regras para o produtor aderir ao sistema que, ao serem cumpridas, permitem melhorar a remuneração do produtor, mesmo com um custo de produção, normalmente mais alto.
O pecuarista adepto do Programa de Qualidade Nelore Natural, por exemplo, pode receber prêmios de até 3% sobre a cotação corrente da arroba. O Programa Carne Angus Certificada permite premiação de até 10% e assim vai.
A demanda crescente por este tipo de produto, vem em parte do maior poder de compra do consumidor, em função da melhoria da renda per capita do brasileiro, mesmo que lentamente.
A maior renda per capita permite aos consumidores optarem por um produto de melhor qualidade. Esta nova demanda para a pecuária brasileira abre oportunidades no mercado nacional.
Com a maior demanda por carnes especiais, assistimos o surgimento de marcas de carne, tais como: 1953, TAEQ e Bonsmara Beef, por exemplo.
O surgimento das marcas de carne é um indício de que o consumidor quer alternativas às carnes comuns, ou seja, é o mercado direcionando para onde devemos ir.
Por fim, vale destacar que, assim como há vinhos que custam desde R$15,00 a mais de R$200,00 a garrafa, na bovinocultura há espaço tanto para a carne commodity quanto para as carnes especiais.
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