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Scot Consultoria

Resultados econômicos da intensificação da pecuária por real investido


Segunda-feira, 22 de outubro de 2018 - 16h10

Engenheira agrônoma, formada pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo.


Foto: Scot Consultoria


Intensificar a produção é produzir mais em um determinado espaço ou tempo. É necessário tecnologia e capital para investimento. O objetivo é ter um maior retorno por hectare. Eis alguns caminhos:

Crédito agrícola

A disponibilidade de crédito é essencial para aqueles que querem expandir a fazenda verticalmente.

No Brasil, a demanda da pecuária por crédito agrícola correspondeu a 29% do total de crédito contratado, na safra 2017/2018. Desse recurso, 55,7% foi para custeio e 44,3% para investimentos.

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o plano de crédito agrícola para a safra 2018/2019 liberou 194,37 bilhões de reais para financiar e apoiar a comercialização e a produção agropecuária brasileira.

Os benefícios à pecuária foram:

· Prazo de até dois anos no crédito de custeio para a retenção de matrizes bovinas de leite, suínas, caprinas e ovinas.

· O Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica Agropecuária, Inovagro, aumentou o limite de financiamento de 330 mil reais para 650 mil por beneficiário, para a aquisição de matrizes reprodutoras com registro genealógico.

· Empréstimos para aquisição de animais para reprodução ou criação a juros controlados de 7% ao ano e valor limitado a 450 mil reais por beneficiário.

· O Programa ABC, Agricultura de Baixo Carbono, cujo objetivo é financiar práticas agrícolas sustentáveis, teve limite alterado de 2,2 milhões para 5 milhões, para todas as finalidades financiáveis. 

· O Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural aumentou o limite de renda para os que se enquadrarem ao programa, passou de 1,76 milhão para R$ 2 milhões.

Planejamento

O processo de intensificação deve ser estudado, pois o incremento na produção não quer dizer maior lucratividade. Fazer investimentos com falta de planejamento pode prejudicar o fluxo de caixa do negócio.

A gestão financeira deve ser aprimorada com a intensificação do processo produtivo em decorrência do aumento do fluxo de dinheiro. Esse controle, quando não realizado, pode tirar do mercado fazendas com alto potencial produtivo.

O Agribenchmark, reunião realizada para comparar sistemas de produção de gado de corte em diferentes países, publicou em 2010 que apenas 20% das fazendas de engorda de gado, no mundo, são rentáveis a longo tempo, 40% são rentáveis a curto tempo e os demais 40% não são rentáveis.

Um indicativo que falta aperfeiçoar a gestão financeira nas fazendas de gado.

Custo de produção 

O Brasil foi alocado no grupo de países com menor custo de produção do mundo. Fazendas modais brasileiras de baixo custo apresentam custo de produção 2,5 vezes menores comparadas com fazendas na Noruega. Contudo, essa diferença já foi maior, no passado, países de alto custo tinham um custo de produção 3 a 4 vezes maior que países com baixo custo de produção. Para o cálculo foi considerado o total de despesas, depreciação e custo de oportunidade (Agribenchmark, 2010).

Esse baixo custo não está ligado a eficiência produtiva, mas à baixa tecnologia investida na produção. A intensificação da atividade está relacionada com estratégias que visam aumentar a taxa de fertilidade, o ganho médio diário, o peso da carcaça, a taxa de lotação, entre outras características produtivas. Por isso, requer gastos maiores com insumos e consequentemente o custo total será maior. 

O aumento da produtividade provocada pela intensificação ocasiona, em alguns casos, redução dos custos por unidade produzida, mas em outros esses custos aumentam e o benefício é alcançado pelo aumento da produção . 

Atualmente 50% das pastagens brasileiras estão com algum grau de degradação, são aproximadamente 87,7 milhões de hectares com necessidade de reforma ou recuperação. Esse cenário é fruto de um setor acomodado com as baixas rentabilidades. 

Rentabilidade

As rentabilidades médias anuais de sistemas de alto e baixo incremento tecnológico apresentam uma diferença significativa.

A rentabilidade do leite vem decaindo na última década, para sistemas de produção com alta e baixa tecnologia. O preço pago ao produtor caiu em proporções maiores que os custos de produção. A situação piora em propriedades com baixa tecnologia, pois concentraram rentabilidades negativas na última década. Em 2017 a rentabilidade da produção de leite foi de -8,47% e 2,08% para produção com baixo e alto incremento tecnológico respectivamente.

Para a bovinocultura de corte, de ciclo completo, as rentabilidades aumentaram entre 2007 e 2017. Fazendas com alta tecnologia passaram de uma rentabilidade média de 1,84% em 2007 para 5,04% em 2017. Para fazendas de baixa tecnologia o desempenho foi de -1,36% para 1,83%. (figura 1).

Figura 1. Evolução das rentabilidades médias anuais de atividades agropecuárias.
Fonte: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br

Um exemplo de sucesso

A Embrapa acompanhou por 10 anos um estudo de viabilidade econômica da implementação do sistema de cria e das biotecnologias de desmama precoce e IATF em uma propriedade rural no bioma do pantanal, sub-região do Aboral, Mato Grosso do Sul.

Foi observado que a desmama precoce oferece condições necessárias para o restabelecimento do peso da fêmea. A vaca parida demanda energia para ela e para a produção de leite, perdendo peso nesse período. A desmama precoce tradicional levaria de 7 a 8 meses enquanto que a precoce de 3 a 4 meses. 

A taxa de natalidade aumentou para 84% e a IATF teve papel importante de antecipar a estação de monta, o que significa que a retirada dos bezerros também foi adiantada. Essa antecipação é importante nas áreas de cheias do pantanal em decorrência das mortes de bezerros nas travessias. 

O estudo concluiu que para cada real investido no sistema o retorno era de R$ 1,70. Não foram utilizadas tecnologias novas e sim tecnologias disponíveis no mercado para a adaptação de cada produtor.

Final

A disponibilidade de crédito e tecnologia são os requisitos para a intensificação da atividade. O retorno por real investido vai depender da situação de cada propriedade e da competência de cada gestor, mas sistemas produtivos com alto incremento tecnológico apresentam maior rentabilidade comparado com os sistemas baixa tecnologia.

Referências Bibliográficas

Embrapa. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível em:< https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/33583897/pesquisa-avalia-viabilidade-economica-da-intensificacao-pecuaria >. Acesso: 12/06/2018. 

MAPA. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Disponível em: < http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/plano-agricola-e-pecuario >. Acesso em: 12/06/2018.

Scot Consultoria – Disponível em: < https://www.scotconsultoria.com.br >. Acesso em: 12/06/2018.


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