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Scot Consultoria

Produção de etanol de milho e seus subprodutos na alimentação de bovinos


Quinta-feira, 13 de dezembro de 2018 - 05h45

Zootecnista, formada pela Universidade Estadual Paulista – UNESP, Câmpus Botucatu-SP. É analista de mercado da Scot Consultoria. Pesquisadora de mercado nas áreas de boi, leite e grãos.


Foto: Hi-Pro Feeds


Cenário

Vem ganhando espaço na produção de etanol a utilização do grão de milho. Desde 2012, quando foi inaugurada a primeira usina de processamento do grão para a produção de etanol, essa indústria vem ganhando força (ROSSETO et al., 2017).

A produção de etanol de milho é vista estrategicamente pela indústria alcooleira, pois usinas flex podem trabalhar durante a entressafra da cana-de-açúcar e consumir o excedente de produção do milho. Para o produtor de milho essa possibilidade de escoamento da produção deverá minimizar a redução de preços na época da colheita. (SOBRINHO, 2012).

As usinas, por sua vez, poderão vender subprodutos produzidos durante o processo, como o DDG (grão de destilaria seco) e o WWG (grão de destilaria úmido), consumidos na alimentação de bovinos, suínos e aves (IEA, 2018).

Apenas em dois estados é produzido o etanol de milho, Goiás e Mato Grosso.

Goiás conta com a usina da SJC Bioenergia (São Francisco), em Quirinópolis e o Mato Grosso detém quatro unidades produtoras, Libra, em São José do Rio Claro; Usimat, em Campos de Júlio, Porto Seguro, em Jaciara e FS Bioenergia em Lucas do Rio Verde.

Segundo a União Nacional de Etanol de Milho (Unem), existem 15 projetos de usinas em construção e sendo licenciados, a maioria em Mato Grosso e algumas em Goiás. A previsão é que mais três destilarias sejam inauguradas entre 2019 e 2020, sendo duas delas em Mato Grosso (Sinop e Sorriso) e uma delas em Chapadão do Céu, Goiás.

Ainda segundo a Unem, a estimativa de produção de etanol de milho em 2018 é de 600 a 700 milhões de litros e, a expectativa, é que em cinco anos, a produção seja de 3,0 a 3,5 bilhões de litros.

Esse aumento na produção poderá reduzir a necessidade de importação de álcool dos Estados Unidos, que na safra 2017/18 foi de 1,73 bilhões de litros. (UNICA, 2018).

Etanol de milho x etanol de cana

A produção de etanol de milho possui algumas particularidades quando comparada à produção a partir da cana de açúcar.

No caso do milho, é preciso utilizar enzimas para facilitar a quebra das grandes moléculas de amido e devido a isso são necessárias mais etapas até o produto final (MANOCHIO et al., 2017). Consequentemente, o custo de produção do etanol de milho é maior que o da cana, R$1,23 ante a R$1,13 por litro (IEA, 2018).

Segundo levantamento realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), para a viabilidade da produção do etanol a partir do milho, o ideal é que os preços do cereal estejam entre R$30,00-R$33,00 por saca de 60kg, considerando as regiões de produção.

Acima desses valores deve ser considerado, também, o preço de venda do etanol, sobretudo no mercado spot (etanol comercializado entre as indústrias), balizador desse biocombustível (IEA, 2018).

No entanto, como as usinas flex podem funcionar onze meses do ano, pois não param na entressafra da cana, os custos fixos são diluídos devido a otimização da utilização do maquinário (SOBRINHO, 2012).

Outras vantagens englobam a produção de etanol de milho:

- Enquanto uma tonelada de cana-de-açúcar pode gerar em torno de 70 a 85 litros de etanol, uma tonelada de milho produz cerca de 400 litros (IEA);

- Os grãos de milho podem ser armazenados, minimizando os efeitos da entressafra da cana no fornecimento do biocombustível em âmbito nacional (ROSSETO et al., 2017);

- As usinas obtêm renda adicional dos subprodutos gerados na produção de etanol como o óleo bruto e os grãos de destilaria (DDG e WDG) de alto valor agregado (ROSSETO et al., 2017). O rendimento médio é 380kg de DDG para cada tonelada de milho (LEITE, 2018).

Segundo levantamento da Scot Consultoria, o DDG é comercializado entre R$400,00 e R$750,00 por tonelada, sem o frete. A variação é em função do valor nutricional (proteínas e fibra), que no caso da proteína pode variar de 25,0% a 32,0%.

Já o WDG possui valor de mercado mais baixo devido à concentração de água no produto. A cotação varia de R$130,00 a R$200,00 a tonelada, sem o frete.  

Utilização dos grãos de destilaria na alimentação de bovinos

O DDG e o WDG são resíduos da produção do etanol de milho e podem ser utilizados como fonte de energia e proteína para bovinos, dependendo dos níveis de inclusão. Também são conhecidos como grãos de destilaria.

Em níveis de 15% a 20% da matéria seca da dieta, são fonte de proteína e, acima de 20% pode ser considerado uma fonte tanto de proteína quanto de energia devido a substituição do milho na dieta (CORRIGAN et al., 2006).

A composição varia muito, e na literatura são encontrados diversos teores de nutrientes na sua composição (BELYEA et al., 2004; BELYEA et al., 2006; STEIN e SHURSON, 2009; LIU, 2011).

Em linhas gerais, o WDG pode apresentar em média, 30% de MS, 10% de EE, 40% de FDN e 32% de PB (TJARDES E WRIGHT, 2002). As concentrações de proteína, gordura, fibra e P são três vezes maiores nos grãos de destilaria em comparação com o milho (KLOPFENSTEIN et al 2008).

Já o DDG pode apresentar de 88 a 90 % no conteúdo de MS, 25 a 32% de PB, 43 a 53% de PDR, 47 a 57% de PNDR (proteína não degradável no rúmen), 39 a 45% de FDN, 8,8 a 12,4% de lipídeos e 85 a 90% de NDT (TJARDES & WRIGHT, 2002).

Opheim et al. (2016), observaram melhor aproveitamento de nutrientes para os subprodutos úmidos, quando comparados aos secos, principalmente em relação a PB (proteína bruta) e FDN (fibra não digestível em detergente neutro).

No entanto, o motivo pelo qual a secagem dos grãos de destilaria reduz o valor de alimentação ainda não está claro, mas acredita-se que o calor compromete a digestibilidade de alguns nutrientes ou pela perda de compostos voláteis (OPHEIM et al., 2016).

Os grãos de destilaria possuem altos teores de proteína não degradável no rúmen (PNDR), podendo chegar a valores 2,3 a 2,6 vezes maiores em comparação com o farelo de soja (KLOPFENSTEIN et al., 1978).

Além disso, o subproduto também é boa fonte de energia proveniente dos lipídios e pode substituir parte do milho utilizado na ração dos animais, minimizando problemas com acidose nos confinamentos (BUCKNER, 2007).

O nível de inclusão nas dietas é muito estudado e na literatura pode ser encontrado que níveis acima de 30% não são recomendados devido a diminuição drástica do consumo de matéria seca pelos animais, comprometendo o ganho de peso médio diário (KLOPFENSTEIN et al., 2014).

Conclusão

Os grãos de destilaria como fonte de alimentos para os bovinos são uma excelente estratégia para diminuição de custos no confinamento, visto que podem substituir o milho e a soja. Seus preços podem variar de 31,8% a 63,6% em relação a soja, segundo levantamento realizado pela Scot Consultoria.

Para 2019, a maior produção de milho prevista no Brasil é um fator que deverá manter os preços do cereal em patamares mais baixos em relação a 2018. Desta forma, a produção de etanol a partir do cereal deverá ser viável.

Segundo a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), a produção de milho poderá ser 12,6% maior em 2018/2019, frente a temporada passada, e está estimada em 90,95 milhões de toneladas, 10,16 milhões de toneladas a mais que as 80,78 milhões de toneladas colhidas anteriormente.

Depreende-se que poderá haver maior oferta dos grãos de destilaria em 2019, mais uma opção para a composição de dietas para bovinos.

Referências

Banco de dados - Scot Consultoria

BELYEA et al. Composition of corn and distillers dried grains with solubles from dry grind ethanol processing. 2004. Bioresource Technology, v. 94, p. 293-298.

BUCKNER, Crystal D. et al. Optimum levels of dry distillers grains with solubles for finishing beef steers. Nebraska Beef Cattle Reports, p. 68, 2007.

CORRIGAN et al. Effect of Distillers Grains Composition and Level on Steers Consuming High-Quality Forage. Universidade de Nebraska, 2007.

Instituto de Economia Agrícola. Situação Atual e Perspectivas da Produção Brasileira de Etanol de Milho. IEA, 2018. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=14464. Acesso em 9/11/2018.

KLOPFENSTEIN, T., J. WALLER, N. MERCHEN, AND L. PETERSEN. 1978. Distillers grains as a naturally protected protein for ruminants. Distillers Feed Conference Proceedings 33:38–46.

KLOPFENSTEIN, T.; ERICKSON, G.; BREMER, V. Use of Distillers Byproducts in the Beef Cattle Feeding Industry. 2008. Journal of Animal Science, in press, p. 2007-0550.

LEITE, R., G. Uso de ddgs na suplementação protéico energética em bovinos em pastejo na estação chuvosa. Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal, 2018.

LUI. Changes in Lipid Composition During Dry Grind Ethanol Processing of Corn. 2010. Disponível em < https://doi.org/10.1007/s11746-010-1674-y>. Acesso em 9/11/2018

MANOCHIO, C.; ANDRADE, B. R.; RODRIGUEZ, R. P.; MORAES, B. S. Ethanol from biomass: A comparative overview. Renewable and Sustainable Energy Reviews. vol. 80, pp. 743-755, 2017

ROSSETO, et al. Panorama do etanol do Brasil. II Seminário de Engenharia de Energia na Agricultura, v.6, n 5, p. 13-22, 2017.

SOBRINHO, P. Processo (simplificado) de produção de etanol de milho – Destilaria/Usina Flex – Abordagem descritiva de um novo potencial. CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento/ Superintendência regional de Mato Grosso, Cuiabá/MT, Mar. 2012.

STEIN e SHURSON. Board-invited: review. The use and application of destillers dried grains with solubles in swine diets. 2009.

TJARDES E WRIGHT. Feeding Corn Distillers Co-Products to Beef Cattle. Universidade da Dakota do Sul, 2002.

União da Indústria da Cana de Açúcar (UNICA).

União Nacional de Etanol de Milho (Unem).


Texto publicado originalmente na edição de dezembro da revista DBO (Ano 37, nº 458).



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