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Scot Consultoria

ILPF uma tecnologia apadrinhada por vários Santos


Quinta-feira, 30 de maio de 2019 - 08h50

Médico veterinário pela UNESP – campus de Jaboticabal, especialização em produção animal pela UFLA e atual Consultor senior da CRIATEC - Consultoria em Agronegócios.


Foto: William Marchi. Animais meio sangue angus em recria em sistema de ILPF, Faz. Santa Brgida Ipamer-GO.


Como a tecnologia de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta não é uma “receita de bolo” e acaba sendo composta por arranjos bem particulares aplicados aos biomas, onde as fazendas estão localizadas, acabou-se desenvolvendo alguns sistemas específicos que foram batizados com os nomes das fazendas que se colocaram à disposição para a adoção desse sistema. Coincidentemente, a maioria destas fazendas possuem nomes de Santos, como é o caso de algumas do Sistema Santa Fé na Fazenda Santa Fé, Sistema Santa Brígida, Sistema Santa Ana, Sistema São Francisco, e por aí segue.

E quando alguém que vai adotar esta tecnologia fica até receoso pensando, “por que tanto Santo envolvido nisso”?

Realmente, para alguns produtores tradicionalistas, só com a intervenção de um destes Santos é que passam a adotar o sistema.

Felizmente muitos produtores estão iniciando seus trabalhos em ILP com os primórdios da integração, o sistema Barreirão, lembram?  

Os produtores reformam pastagens degradadas e para isso utilizam alguma cultura, a mais comum passou a ser o milho, pois apesar de sua grande exigência em fertilidade de solo, a maioria dos pecuaristas já está familiarizada com esta cultura, pelo menos para fazer pamonha e dar milho aos porcos.

Assim acabam também não gerando grandes expectativas com produtividade da cultura e se tudo der errado, acabam ainda colhendo o pé de milho para fazer silagem.

Desta forma, muitos produtores iniciam suas aventuras em ILP com o milho consorciado com braquiária, principalmente a ruziziensis que também oferece menos riscos de tomar conta da cultura de milho para quem não maneja de forma eficiente as subdoses de herbicidas e quando o milho é plantado à moda antiga com 90cm ao invés dos atuais 45 a 50cm de espaçamento entre as linhas.

Daí se inicia o encantamento, colhendo o milho e ficando uma pastagem maravilhosa na pior época do ano, por volta de maio para o milho verão ou junho/julho para o milho safrinha.

Continua então o avanço destas reformas de áreas degradadas com a cultura de milho pagando a conta.

Alguns até irão dizer que isso não se trata de integração, porém é a maneira que muitos pecuaristas acabam iniciando esta experiência e depois se convertem a algum daqueles Santos dos quais falei acima.

Isso até nos leva a refletir sobre como estes nossos processos de difusão de tecnologia estão inadequados. Conhecimento tecnológico desenvolvido na década de 90, no século passado, sendo melhor adotado quase três décadas depois.

Por isso vale pensar o quanto as propriedades rurais se movem dentro de um contexto sócio econômico temporal, hoje temos condições propícias para a sensibilização destes proprietários, pois alguns temas da moda também passam a exercer certa pressão à adoção de técnicas mais sustentáveis.

Temos uma pressão para melhoria das condições de trabalho no campo, para a racionalização do uso de recursos naturais, para a qualidade, efetividade e inocuidade dos insumos, a volta para a utilização de insumos biológicos na condução das culturas, a produção animal já buscando conferir bem-estar destes seres, enfim uma mudança para uma postura mais ética da produção agropecuária.

A ILPF agora encontra ambiente fértil para seu desenvolvimento. Nos últimos 14 anos passou de meros 1,8 milhões para cerca de 15 milhões de hectares com algum arranjo integrado.

E daí já é possível ver aquela pastagem degradada cheia de cupim que eu sempre encontrava em minhas viagens, agora dando espaço à um cultivo integrado em consórcio e logo após uma pastagem de dar inveja.

Claro que isso ainda tem muito a evoluir, temos ainda alguns 40 a 50 milhões de hectares de pastagens degradadas aguardando por um Santo Milagreiro destes que citei.

Tem sempre uma vaca PO e PC (puro osso e puro couro) aguardando baixar o Santo da Integração em seu proprietário e convertê-lo a um sistema de produção mais digno.

Agora a tarefa é aprimorarmos a velocidade desta adoção, seja com mídia, com capacitação e treinamento, com motivação, com crédito, com políticas públicas, com todo o ferramental que hoje nos é farto, porém com poucas estratégias eficazes de utilização, precisamos entender melhor o que converte um produtor, o que os motiva à adoção e em que realmente devemos focar.

Hoje acreditamos que a presença de um “guru” aconselhador, no caso o técnico extensionista, atrelado a esta avalanche de recursos de mídia e APPs disponíveis, talvez sejam as principais ferramentas de alavancagem da adoção da ILPF para os nossos diferentes biomas, converter o jovem pode ser mais fácil, fazê-lo se manter no campo pode ser a tarefa mais difícil.

Participar desta revolução em curso através do uso dos sistemas integrados de produção agropecuária tem sido muito gratificante, pois a mudança não é apenas tecnológica, a mudança tem se dado em várias frentes, começando pela mudança de atitude dos proprietários, dos técnicos, dos colaboradores, enfim todos em uma nova “Vibe” agro.

Fica a dica: www.redeilpf.org.br


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