Engenheira agrônoma, formada pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo.
Foto: Scot Consultoria
De acordo com os dados da pesquisa pecuária municipal (PPM), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rebanho bovino brasileiro estava com cerca de 214,9 milhões de cabeças na virada de 2017 para 2018.
A título de comparação, segundo publicação no Diário Oficial da União de agosto do ano passado, a população brasileira era de 208,5 milhões de habitantes.
Então, há mais bovinos que gente no Brasil. Com isso, vem a pergunta se consumimos tanta carne para justificar um rebanho maior que a nossa população.
Segundo as estimativas da Scot Consultoria, em 2018, cerca de 19,6% do efetivo total de bovinos foi abatido, ou seja, 42,1 milhões de cabeças, considerando abates que passaram por alguma inspeção (municipal, estadual ou federal) e abates informais.
Ainda segundo as estimativas da Scot Consultoria, o peso médio de carcaça dos bovinos abatidos no Brasil está em torno de 236,8kg. Portanto, em 2018, foi produzido dez milhões de toneladas em equivalente-carcaça bovina (tec).
Para saber o volume disponível no mercado interno, subtrai-se as exportações e soma-se as importações.
No ano passado o Brasil exportou em torno de dois milhões de toneladas (tec) e as importações somaram 42,2 mil toneladas (tec). Para o mercado interno ficaram disponíveis oito milhões de toneladas em equivalente carcaça.
A disponibilidade para o consumo interno de carne bovina, em 2018, foi em média de 38,4kg/habitante/ano.
Vejam só, se cada hambúrguer tem em média 180g, e se toda a carne disponível para o mercado interno fosse distribuída igualmente para cada brasileiro, cada um de nós comeríamos 1 hambúrguer a cada 1,7 dia.
Contribuição por bovino
Ao analisar a disponibilidade interna de carne bovina (oito milhões de toneladas) e a quantidade de bovinos abatidos no Brasil em 2018 (42,1 milhões de cabeças), cada bovino abatido deixou para o consumo no mercado interno, aproximadamente,190kg de carne, o suficiente para atender o consumo per capita anual de cinco pessoas.
Em relação aos Estados Unidos, por exemplo, grande produtor de carnes, cada bovino atende o consumo per capita de 9,7 pessoas, de acordo com os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Essa diferença está relacionada ao peso médio de carcaça, que, em 2018, foi cerca de 364,5kg (USDA), ou seja, 53,4% a mais que o peso médio da carcaça bovina brasileira.
Ciclo pecuário
Em anos em que o descarte de fêmeas aumenta o número de bovinos abatidos sobe e o peso médio da carcaça cai, em função do peso médio da carcaça das fêmeas ser menor em comparação com a do macho.
Portanto, quanto maior a participação de fêmeas no abate total de bovinos, menor o número de pessoas que uma carcaça bovina (sem diferenciação de sexo) consegue atender (figura 1).
Figura 1
Número de bovinos abatidos em milhões de cabeças e o número de pessoas que o abate de um bovino consegue atender.
Fontes: Scot Consultoria/IBGE
O aumento do descarte de fêmeas ocorre em anos de depressão de preços.
Conclusão
O ciclo pecuário de preços retrata a quantidade de bovinos indo para o gancho, e a contribuição que cada bovino abatido deixa para os brasileiros.
A pecuária de corte produzida em sistema extensivo, com baixo incremento tecnológico, é uma realidade que acarreta em um peso médio da carcaça baixo, principalmente quando comparado com outros países que adotam sistemas intensivos de produção.
A intensificação do sistema pode gerar melhorias para toda a cadeia de carne bovina, começando com o pecuarista, por ganhar em escala de produção.
Já os ganhos da indústria estão atrelados a uma melhora na qualidade da carcaça, com o aumento do peso médio num determinado espaço de tempo.
Artigo originalmente publicado na revista Coopercitrus, edição no. 390, abril de 2019.
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