Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.
Foto: Scot Consultoria
Cada vez se torna evidente a necessidade de se adotar tecnologias de alto insumo como base da intensificação dos sistemas de produção em pasto, incorporando as tecnologias de correção, adubação e irrigação do solo, as quais demandam altos investimentos e custos.
Para o manejo da fertilidade do solo é preciso adotar as boas práticas de manejo no uso de corretivos e fertilizantes (BPM). BPMs se constituem na aplicação em campo dos quatro Cs (4 Cs): aplicação da fonte de nutrientes Certa, na dose Certa, no lugar Certo e na época Certa.
Um programa de manejo da fertilidade de solos da pastagem, deve contemplar as seguintes etapas:
1. Escolha da área que será corrigida e adubada;
2. Medição e mapeamento da área;
3. Amostragem de solo e de planta e envio das amostras ao laboratório;
4. Análise laboratorial;
5. Interpretação dos resultados de análises de solo e de planta e recomendações de correção e adubação;
6. Planejamento e execução do programa;
7. Práticas corretivas: calagem, gessagem, fosfatagem, potassagem, correção de micronutrientes, correção da matéria orgânica;
8. Práticas de adubação: com cálcio, magnésio, fósforo, potássio, enxofre, micronutrientes, nitrogênio;
9. Tipos de adubação: química, orgânica, organomineral;
10. Métodos de aplicação: manual, tração animal, tratorizado, aéreo, foliar, fertirrigação;
11. Avaliação dos resultados: resposta técnica e econômica;
12. Avaliação de impacto ambiental.
Para iniciar-se um trabalho de manejo da fertilidade do solo, precisa-se primeiro conhecer os métodos pelos quais se pode avaliar a fertilidade de um solo. Esses métodos são a análise química e física do solo, a diagnose visual de deficiências minerais nas plantas e a análise química da planta.
Os programas de análises de solo e de plantas são utilizados com o objetivo de fornecer um guia para o manejo adequado da fertilidade do solo e da nutrição mineral das plantas. Esses programas fundamentam-se em pesquisas relacionando as propriedades químicas dos solos e/ou o estado nutricional das plantas com a produtividade vegetal. Assim, bons programas nessa área dependem da existência de amplos resultados de pesquisa.
Em levantamentos sobre o consumo de fertilizantes e uso de ferramentas de análise de solo e folhas por produtores agrícolas permitiu concluiu-se que há ausência de tecnologia e de acompanhamento técnico no que se refere ao manejo da fertilidade do solo e da nutrição mineral de plantas:
I. Mais de 50% dos produtores baseiam-se na própria experiência para a prática da adubação e não possuem um programa adequado de acompanhamento da fertilidade do solo;
II. A correção do solo pela aplicação do calcário é feita pela maioria dos produtores, mas sem critérios de dosagem e de frequência;
III. Pequena parte dos produtores conhece os efeitos da aplicação de gesso agrícola como condicionador do ambiente radicular de subsuperfície;
IV. Cerca de 80% dos entrevistados possuem o hábito de solicitar análise de solo, mas 72% não estão aptos para interpretar os resultados;
V. A análise de tecido vegetal é uma ferramenta pouco utilizada pelos produtores para avaliar a necessidade de ajustes no programa de adubação;
VI. Mais de 90% dos entrevistados entendem que o uso inadequado de fertilizantes deve causar algum impacto ambiental;
VII. 90% dos participantes admitiram necessitar de orientação para melhorar suas atividades agrícolas.
A maior parte do rebanho bovino brasileiro encontra-se em pastagens implantadas em solos ácidos, pobres em fósforo, cálcio, magnésio, zinco, enxofre, nitrogênio, potássio, cobre, boro, matéria orgânica e com níveis tóxicos de alumínio e manganês. Nestas condições a produção de forragem estimada seria suficiente apenas para suportar taxas de lotação animal entre 0,41 a 0,48 UA/ha/ano.
Aquela baixa lotação animal caracteriza um grande desperdício de recursos climáticos tão favoráveis desta região, tais como: índices pluviométricos entre 1.200 e 2.000 mm/ano, temperaturas médias acima de 22ºC e alta intensidade luminosa; solos planos e profundos; potencial de produção das plantas forrageiras tropicais; e determina que, naquelas condições, a produção animal em pasto seja uma das piores alternativas de uso da terra quando comparada com outras atividades.
Quando aqueles recursos ambientais são explorados com eficiência, podem-se estabelecer altas produtividades em sistemas de pastagens, com lotação animal entre 2,0 a 20,0 UA/ha, durante a primavera-verão; produtividade da ordem de 300 a 3.600 kg/ha/ano de peso vivo (150 a 1.800 kg de carcaça/ha/ano); e produção de leite entre 5.000 a 60.000 kg de leite/ha/ano. Com esses níveis de produtividade animal, os sistemas de produção de leite e carne em pasto passam a ser muito competitivos com alternativas de uso da terra. As causas que levam àquelas baixas produtividades são muitas. Umas das mais citadas nos trabalhos sobre produção animal em pasto é a influência da baixa fertilidade dos solos de pastagens.
Por outro lado, nos últimos 15 anos, tem aumentado, consideravelmente, o número de produtores que tem intensificado a produção em pastagem fazendo uso de fertilizantes. Nesse contexto, as preocupações já devem ser outras, tais como: manejo incorreto do pastejo e baixo desempenho animal reduzindo os efeitos benéficos da adubação, escolha inadequada das fontes de fertilizantes, erros no manejo de aplicação dos corretivos e fertilizantes e riscos de contaminação do meio ambiente.
Considerando a crescente demanda da população por alimentos, fibras e combustível, o intenso estresse financeiro global e as crescentes preocupações sobre os impactos na qualidade da água e do ar, a melhoria simultânea da produtividade e da eficiência na utilização dos recursos, incluindo a eficiência de utilização de nutrientes é imprescindível que a agricultura e a pecuária adotem as boas práticas de manejo no uso de corretivos e fertilizantes (BPM). BPM podem ser definidas como ações aplicadas aos recursos, que tenham sido validadas pela pesquisa, para proporcionar a melhor combinação entre desempenho econômico, social e ambiental.
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