Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.
Foto: Scot Consultoria
Introdução
Dando continuidade à série de artigos sobre pastagens irrigadas, este segundo ainda trata da etapa de execução de um projeto em sistema de pastagem irrigada.
Planejamento
Estando a pastagem estabelecida, antes da preocupação com o manejo do pastejo deve-se planejar a implantação da infraestrutura, dimensionando as medidas dos piquetes, áreas de descanso, cochos para suplementação, fontes de água, sombreamento e corredores de acesso ao curral e aos piquetes. Este planejamento é ainda mais crítico em uma pastagem irrigada por causa das altas densidades de lotação, principalmente nas estações de primavera e verão. O número de animais por lote em pastagens irrigadas tem variado entre 150 a 2100.
Quando do dimensionamento e da construção de piquetes é importante planejar o seu formato, a sua área e o tipo de cerca para redivisão dos piquetes. Quando do dimensionamento e construção das áreas de descanso é importante planejar o sombreamento, a fonte de água, os cochos para a suplementação dos animais e os corredores de acesso aos piquetes.
Manejo tradicional x alturas alvo por cultivar
Vários experimentos foram conduzidos no Brasil a partir do final dos anos 90 comparando o manejo do pastejo orientado pela metodologia tradicional, com a mudança de animais dos piquetes baseado em dias fixos de ocupação e de descanso, com o manejo do pastejo orientado pela metodologia das alturas “alvos” para cada espécie/cultivar forrageira, que fundamentalmente reflete o momento em que o relvado das forrageiras está interceptando 95% da luz solar incidente.
Encurtar o ciclo de pastejo
O manejo do pastejo orientado pela metodologia tradicional não leva em consideração os fundamentos de fisiologia das plantas forrageiras, entre os quais, o de que a planta não responde ao calendário humano, ou seja, segundos, minutos, horas, dias, ou semanas ou meses, e sim a fatores de crescimento: tais como a radiação solar, a luz incidente, a temperatura ambiente, a água e aos nutrientes disponíveis no solo. Assim, quando aqueles fatores estão em sua disponibilidade máxima, tal como em uma pastagem irrigada, o crescimento da planta (expansão diária em centímetros), e o acumulo de forragem (kg de matéria seca/hectare), é também maximizado, o que leva à necessidade de encurtar os períodos de ocupação e de descanso em cada piquete (o que significa encurtar o ciclo de pastejo) e aumentar a taxa de lotação, e vice-versa.
Resultados
Resumidamente quando o manejo do pastejo foi orientado pelas alturas alvos os resultados daquelas pesquisas comparativas foram os seguintes:
1. A planta forrageira acumulou mais forragem, composta por maior proporção de folhas verdes e menor proporção de folhas e de caules secos;
2. A planta forrageira acumulou mais forragem com maiores teores de proteína, menores teores de fibra e maior digestibilidade;
3. As perdas de forragem por tombamento ou na planta foram menores, o que levou a maiores capacidades de suporte com aumentos entre 37 a 43% neste índice;
4. Os animais que pastejaram nos piquetes em que o manejo do pastejo foi orientado pela altura alvo consumiram mais forragem (aumentos entre 10 e 43%), de melhor qualidade e, consequentemente, apresentaram maior desempenho (aumentos entre 18 e 319%);
5. Em consequência das maiores capacidades de suporte e do maior desempenho animal a produtividade por hectare de carne aumentou entre 7 a 119%.
Uma vez estabelecidas a pastagem e a sua infraestrutura, e adotados os procedimentos de manejo do pastejo, é preciso gerir o crescimento e a produção de forragem, como também a sua utilização e a sua conversão em carne.
Mesmo com irrigação existe estacionalidade
As limitações para o crescimento de plantas no mundo se distribuem assim: em 36% do globo terrestre o crescimento é limitado pela temperatura; em 31% é limitado por déficit hídrico; em 24% é limitado por ambos os elementos climáticos e em apenas 9% da terra não há limitações de temperatura e de déficit hídrico. Assim, mesmo em uma pastagem irrigada, devido à redução no fotoperíodo e na temperatura ambiente nas estações de outono inverno, a pastagem apresentará uma estacionalidade de produção de forragem.
As tecnologias de intensificação da produção da pastagem através da correção, adubação e irrigação do solo aumentam as taxas de acúmulo de forragem de forma expressiva, principalmente no inverno, em comparação com a pastagem manejada intensivamente, mas sem irrigação, entretanto, não é possível eliminar a estacionalidade de produção de forragem, daí então a necessidade de mesmo neste sistema se fazer o planejamento alimentar para o rebanho.
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