Engenheiro agrônomo e mestre em solos e nutrição de plantas pela ESALQ-USP. Com atuação profissional desde 1985 em pesquisa e desenvolvimento em sistemas de produção agrícola em empresas nacionais e multinacionais, trabalhou por 24 anos na geração dos principais herbicidas para pastagens hoje no mercado. Atualmente, é consultor independente, fundador da NTC ConsultAgro, focado no manejo da vegetação em pastagens, reflorestamentos e áreas não agrícolas.
Foto: Scot Consultoria
Introdução.
Imagine a cena, você está com a família numa pizzaria num jantar de fim de semana, chega a aguardada aromática e saborosa pizza. Qual sua reação quando o garçom gentilmente se oferece para servi-los? Você aceita imediatamente ou diz: não, por favor, vamos aguardar um pouquinho até a pizza esfriar. Inimaginável, não?
Mas o que tem a ver pizza com pastagem ou planta daninha? A história acima é apenas uma alegoria comparativa ao que o pecuarista faz postergando a entrada dos animais na pastagem reformada.
Esperar para sementear?!!
Reza a tradição entre boa parte dos pecuaristas brasileiros que, vindo a pastagem de um novo plantio, a entrada dos animais para o pastejo inicial deve se dar somente após o capim plantado estar sementeado e já liberando as sementes maduras, acreditando que reforçará a quantidade de sementes de capim no solo, e assim estabelecer a nova pastagem com boa população da forrageira desejada.
Dois motivos por que não.
Esse é um paradigma que ainda acompanha muitos pecuaristas, e um engano, por dois motivos: primeiro que a população de capim da nova forrageira deve se originar exclusivamente das sementes plantadas nas etapas iniciais da reforma. Sementes essas de qualidade e na quantidade adequada. Na quantidade, definida no caso por “pontos de VC” (valor cultural da semente) por hectare, em função do local e da espécie forrageira escolhida, e na qualidade, em termos de pureza, capacidade germinativa e ausência de sementes de plantas daninhas. O segundo motivo decorre da qualidade nutricional da forrageira, representada pelas suas características bromatológicas, que mostra uma curva ao longo do tempo, como mostra o gráfico a seguir.
Figura 1.
Evolução das características bromatológicas das forrageiras.
Fonte: elaborado pelo autor
Qualidade da forragem.
Logo após a germinação ocorre um aumento da produção de capim, com evolução da qualidade nutricional dessa forragem, até um ponto que a produção se estabiliza e começa a decair a qualidade bromatológica dessa forragem, justamente no momento em que a gramínea floresce e começa a produzir sementes, caindo ainda mais quando essas sementes amadurecem e a planta entra em senescência. Aparecem mais folhas secas resultando em pior relação talo/folhas. Nesse ponto que mencionamos que o pecuarista erra ao entrar com os animais quando a qualidade da forragem caiu, e na nossa comparação do início desse texto, como se nós esperássemos a pizza esfriar para comê-la.
Garrotada jovem.
O ideal é que o pecuarista introduza uma garrotada leve para um desponte, não muito intenso da área, evitando que os animais arranquem as touceiras jovens, e isso fará com que uma certa insolação na base da touceira do capim estimule seu perfilhamento, com fortalecimento do sistema radicular.
Invasoras.
Adicionalmente a esse aspecto entre plantio e entrada de animais, temos o fator das plantas daninhas, que exercem uma competição intensa na fase de estabelecimento da pastagem. Estudos realizados por diversos pesquisadores dão a dimensão das perdas de produtividade, e da qualidade da forragem, decorrente da competição exercida pelas plantas daninhas durante as primeiras fases de desenvolvimento da pastagem. E aí reside outro paradigma, as perdas já são mensuráveis a partir de 15 dias de competição das plantas daninhas com a pastagem plantada, o que indica que estas precisam ser eliminadas também bastante precocemente. Como mostra trabalho do time do dr. Sidnei Marchi da UFMT de Barra do Garças, que indica que à medida que aumenta o tempo de competição com as plantas daninhas, a pastagem segue perdendo produtividade linearmente, chegando a redução de 48% de produção em uma pastagem que conviveu por 120 dias com as invasoras, quando comparada a uma livre de competição desde o plantio.
Figura 2.
Produtividade da pastagem em competição com plantas daninhas.
Fonte: Souza Neto, J.; Marchi, S. R.; Oliveira, D. A.; Cáceres, N. T.
Estiolamento.
Não bastasse isso, a pastagem que se desenvolve junto às plantas daninhas, como dito, possui menor quantidade de folhas verdes em relação ao volume de talos e hastes lignificados, que possuem pior qualidade nutricional, decorrente do estiolamento das gramíneas em busca da luz solar.
Dezembro.
Esta é uma época onde, nas regiões Norte, Centro e Sul, os pecuaristas já fizeram, ou ainda estão no processo de reforma de suas pastagens, e esperamos que estas informações possam ajudá-los em suas tomadas de decisão.
Como resumo, fica a mensagem: reformar pastagens usando sementes de qualidade, na quantidade recomendada, fazendo o controle precoce das plantas daninhas, não depois de 30 dias após plantio, liberando a entrada de animais leves antes do florescimento da pastagem, seguindo posteriormente ciclos de pastejo, obedecendo um bom manejo da forragem.
Um ótimo final de ano aos nossos leitores, com muita alegria entre familiares e amigos, e que 2020 seja um ano repleto de sucesso, realizações e bons negócios.
Até breve.
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