Médico veterinário, pós-graduado pela ESPM, MBA em finanças pelo Insper-SP e sócio diretor da Radar Investimentos
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Depois de ter uma primeira semana de janeiro com preços ainda balizados na casa dos R$200,00/@ em São Paulo, o mercado físico acabou perdendo sustentação e a pressão baixista das indústrias ganhou corpo, com os preços recuando mesmo sem grande pressão vendedora.
A dificuldade de escoamento da carne (que é típica para o mês de janeiro) tem sido a principal justificativa para o recuo das ofertas de compra das indústrias, que têm preferido diminuir os abates a pagar o preço pedido pelo vendedor do boi gordo. Essa tentativa de recuo sem aumento da oferta instalou um verdadeiro braço de ferro no mercado, já que o pecuarista pressionado pelos altos preços da reposição e com melhor capacidade de suporte das pastagens tem resistido a entregar seu produto nos preços menores. Do outro lado, a indústria também não consegue sustentar suas margens com o preço atual da carne e, assim, o impasse está instalado.
Outro fator que tem colaborado para diminuição do apetite da indústria é a ausência da China no mercado, ainda sem dar nenhuma sinalização concreta para as novas negociações de volumes e preços vigentes após o longo feriado do ano novo chinês, que acontece no final de janeiro. Essa situação tem embaralhado a cabeça de muitos players, já que os dados divulgados pelo MDIC sobre as exportações nos primeiros dias de janeiro vieram muito fortes, com volume 40% maior do que o ano passado e com preço médio por tonelada com alta de 39,7% em dólares e 49,8% em reais. Se os dados de exportação vieram tão fortes, então por que a reclamação sobre a ausência da China no mercado atual? Ocorre que os dados divulgados pelo ministério mostram os volumes efetivamente embarcados nos portos brasileiros e a carne embarcada agora é fruto de negociações ocorridas 30, 60 ou até 90 dias atrás, ou seja, no auge do otimismo, em novembro e dezembro de 2019.
Independente da pressão baixista atual, os fundamentos do mercado para 2020 permanecem positivos com expectativa de diminuição do abate de fêmeas, reposição cara e melhora econômica em andamento, dificultando muito a tarefa da indústria de recuar preços. Além disso, está muito fresco na memória dos pecuaristas os preços acima de R$200,00/@ de novembro e dezembro, e com as pastagens em boas condições, o poder de barganha do produtor também fica maior. Nas exportações, o déficit de proteína na China ainda continua grande e muito provavelmente eles não terão como ficar muito tempo fora do mercado. O mais provável é que após o ano novo chinês as negociações sejam retomadas, um novo patamar de preço seja definido e os negócios voltem a fluir com mais tranquilidade. Até lá vai permanecer a queda de braço entre pecuarista e indústria e entre recriador e invernista para verificar quem tem mais força.
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