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Scot Consultoria

Plantas daninhas tóxicas aos animais


Quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020 - 10h00

Engenheiro agrônomo e mestre em solos e nutrição de plantas pela ESALQ-USP. Com atuação profissional desde 1985 em pesquisa e desenvolvimento em sistemas de produção agrícola em empresas nacionais e multinacionais, trabalhou por 24 anos na geração dos principais herbicidas para pastagens hoje no mercado. Atualmente, é consultor independente, fundador da NTC ConsultAgro, focado no manejo da vegetação em pastagens, reflorestamentos e áreas não agrícolas.


Foto: Scot Consultoria


Introdução

Em nosso último artigo tivemos oportunidade de discutir sobre a diversidade de espécies que infestam as pastagens brasileiras, relacionando-as às diversas condições que ocorrem, e de certo modo classificando-as quanto à suas dificuldades de controle.

Dentro desta diversidade de espécies destacamos no presente artigo as que possuem potencial de intoxicação aos animais.

Plantas tóxicas

O tema plantas tóxicas aparece em destaque quando falamos em pastagens, até porque ninguém se preocupa com plantas dessa natureza em outros ambientes agrícolas. Na pastagem temos os animais que se alimentam da forrageira, e a presença de plantas que trazem algum potencial de toxicidade aos animais é preocupação constante do pecuarista mais atento.

“Picada de cobra”

De certo modo esse problema é muitas vezes desconhecido, ou menosprezado, por muitos pecuaristas, e posso afirmar que tem muito animal morrendo por “picada de cobra” quando na verdade o causador dessas mortes são plantas tóxicas.

Processo longo e cumulativo

Uma característica dessas intoxicações é que estas não se dão de forma rápida e clara, salvo exceções, o que muitas vezes dificulta na identificação do agente causal, e pode inclusive desviar o foco de atenção para outros fatores. Normalmente o processo é longo e cumulativo.

As substâncias tóxicas para animais, e humanos também, são classificados segundo sua origem, estrutura química ou o efeito que causam. As classes mais frequentes são os alcaloides, glicosídeos cardioativos, compostos calcinogênicos e cianogênicos. Alguns alcaloides causam problemas de neurotransmissão e vasoconstrição, levando a necrose de tecidos e gangrena, outros são hepatotóxicos, durante a metabolização desses alcaloides no fígado, como o causado por maria-mole ou berneira (Senecio brasilienses), ou ainda alterações nos tecidos do sistema nervoso e ósseo, causado pela malva-relógio (Sida acuta cv carpinifolia).

Casos dramáticos de intoxicações por Vernonia rubricaulis, chamada simplesmente vernônia, foram reportados no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, principalmente na região do Pantanal, onde centenas de mortes no rebanho de fazendas tem sido constatadas. Seu princípio tóxico, ainda não conhecido, tem sido identificado como hepatotóxico, e adoecem os animais e os levam a morte em até 24 horas após sua ingestão.

Plantas comuns nas pastagens como oficial-de sala (Asclepias curassavica) e algodão-de-seda (Calotropis procera) causam intoxicação no sistema cardiovascular.

Comum no Sul do país, o mio-mio-miúdo (Nierembergia hippomanica) e espichadeira (Solanum glaucophyllum) causam calcinose nos animais, que é o acúmulo de cálcio nos tecidos. As partes mais afetadas são as artérias de maior calibre, tendões, ligamentos e também ossos. A sintomatologia apresentada por bovinos, equinos, ovinos, caprinos e suínos pela ingestão dessas plantas compreende redução de peso, pelo arrepiado, respiração dificultada, gastropatia, secura na boca, maior frequência respiratória e pulso acelerado, podendo chegar à paralisia e culminar em morte por parada respiratória.

Compostos cianogênicos geram em seu metabolismo o ácido cianídrico, uma potente toxina presente na mandioca-brava, por exemplo, entre mais de duas mil espécies vegetais portadoras dessas substâncias, embora poucas contenham teor perigosamente elevado. No caso da mandioca-amarga, apenas um quilograma pode gerar 0,5 grama de ácido cianídrico durante seu processamento para fabricação de farinha, suficientes para matar três homens por intoxicação aguda.

Carlos Maria Antônio Hubinger Tokarnia

Enfim, as espécies de potencial tóxico nas pastagens, assim como suas substâncias contidas, são temas frequentes de estudos científicos. Destaca-se nesses estudos o nome do Dr. Carlos Maria Antônio Hubinger Tokarnia, falecido em 2015 aos 86 anos. Médico Veterinário, dedicou sua vida a esse tema junto a UFRRJ, a famosa Rural do Rio, deixando uma contribuição inestimável como legado. Gostaria também de mencionar aqui como referência o livro “Plantas Tóxicas: Estudo de Fitotoxicologia Química de Plantas Brasileiras” de autoria do Dr. Harri Lorenzi, um dos maiores estudiosos da botânica brasileira, idealizador e fundador do Instituto Plantarum de Nova Odessa. Nessa publicação, facilmente encontrada em livrarias especializadas, ou na web, são descritas 90 plantas responsáveis por intoxicações no Brasil, onde foram identificados 141 princípios tóxicos.

Dica

Uma recomendação prática que deixo para concluir esse tema, se refere ao manejo do gado pós aplicação de herbicidas em área com ocorrência de plantas tóxicas. Ao aplicar um tratamento herbicida para o controle de plantas daninhas em uma pastagem, as plantas sensíveis ao tratamento amarelecem e secam em questão de dias, mas as que são tóxicas ainda contém seu princípio químico que as caracteriza como tal, assim é recomendado que apenas a morte completa dessas espécies que a área volte a ciclos de pastejo pelos animais. Em grande parte, tendo forragem disponível, os animais de certa forma rejeitam outras plantas que não a gramínea, que é mais palatável, no entanto quando estas estão secando, podem se tornar atrativas aos animais e, permanecendo seu potencial tóxico, o dano será inevitável.

Fica aí a dica.

Até breve.


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