Engenheiro agrônomo e analista de mercado da Scot Consultoria
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A quantidade de bovinos abatidos até setembro do ano vigente, foi de 22,2 milhões de cabeças, uma retração de 9,1% em relação ao mesmo período do ano passado, no qual foram abatidas 24,4 milhões de cabeças (IBGE¹).
A queda nos abates foi motivada pela retenção de fêmeas, uma vez que a reposição está com preços atraentes. De janeiro a novembro, o bezerro desmamado anelorado, em São Paulo, subiu 61,3%, beneficiando o sistema de cria.
No mesmo período, a exportação brasileira de carne bovina in natura esteve a todo o vapor, com 1,58 milhões de toneladas embarcadas, um volume 11,6% maior frente ao mesmo período do ano passado (Comex³).
Somado a esses fatores, por estarmos inseridos em um ano pandêmico (covid-19), o desempenho econômico mudou, reflexo das ações impostas para conter a disseminação da doença. A taxa de desemprego que até o primeiro trimestre era de 12,2%, subiu 1,1 ponto percentual no segundo trimestre e, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostras, esse percentual no terceiro trimestre está em 14,6%, diminuindo o poder de compra da população (IBGE¹).
Portanto, com o poder do consumidor afetado e valorização real dos bovinos, os frigoríficos de menor porte, que não exportam, ficaram inseridos em um cenário complicado, com escoamento de carne aquém do esperado, sem acesso ao mercado externo e pagando mais pelas boiadas.
De acordo com a Scot Consultoria, o Equivalente Scot Carcaça, que considera a receita obtida com a venda de carne com osso, couro, sebo e demais subprodutos, em relação ao preço pago pela arroba, está em 17,5%.
Já o Equivalente Scot Desossa, que considera a venda para o mercado interno de carne desossada, couro, sebo e demais subprodutos, em relação ao preço pago pela arroba, está em 13,8%.
Ou seja, a carne desossada está com a margem menor em relação à carcaça, fato observado desde 3/10/2019, de acordo com o acompanhamento realizado pela Scot Consultoria.
Há cerca de um mês, o Equivalente Scot Desossa chegou a estar com a margem em 0,5%, e o Equivalente Scot Carcaça em 11,0%, sinais de que a procura pela carcaça estava maior, efeito da depressão da oferta de boiadas.
Essa margem menor na venda de carne desossada para o mercado interno é fruto da maior dificuldade do repasse de preços para os varejistas e a oferta restrita de animais para abate, fazendo com que muitas indústrias frigoríficas desistissem de comprar os animais vivos e começassem a comprar carcaças oriundas de outros frigoríficos, fazendo somente a desossa nas plantas.
Com a maior demanda por carne com osso, a elevação dos preços das carcaças foi inevitável, fazendo com que, há mais de um ano, a venda de carcaça seja "mais negócio" que a venda de carne desossada.
Com os recentes recuos no mercado físico do boi, a margem de comercialização de carne desossada para o mercado interno melhorou, entretanto ainda está com a margem menor que a carcaça.
Bibliografia consultada
¹ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
² Scot Consultoria
³ Secretaria de Comércio Exterior
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