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Scot Consultoria

Diferimento da pastagem como estratégia de armazenamento de forragem para a seca - parte 1


Segunda-feira, 15 de março de 2021 - 12h30

Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.


Foto: Scot Consultoria

 

Para a maioria das regiões do Brasil, onde a produção animal é feita em pasto, os meses de fevereiro e março são estratégicos para o planejamento da reserva de forragem para o período da seca. O diferimento da pastagem é uma estratégia de armazenamento de forragem para a seca.

1. Definição: o diferimento ou o protelamento da pastagem é um método de pastoreio que consiste no descanso de uma parte da área de pastagens da propriedade, antes do término do período chuvoso, com o objetivo de acumular e transferir forragem que será consumida no período da seca. Esse método é conhecido no meio pecuário como “a veda do pasto”, ou a “pastagem vedada”, e a forragem acumulada como “feno em pé”.

2. Em quais sistemas de produção é utilizado: pode ser usado de forma combinada com outros métodos de pastoreio, tais como lotação contínua e lotação rotacionada, mas normalmente é usado em sistemas de baixa e média intensificação da produção, que alcançam até 2 UA/ha na média do ano.       

3. Quando diferir: o diferimento da pastagem em uma fazenda deve iniciar entre 60 a 120 dias antes de se estabelecer na região o fator climático que determina a diminuição ou a paralisação do crescimento da pastagem. Na maioria das regiões pecuárias do Brasil, o fator climático mais importante é a chuva.

Outro parâmetro importante para determinar quando deve ser o início do diferimento das pastagens, é o balanço entre quantidade de forragem que se deseja acumular e o seu valor nutritivo. Quanto mais cedo em relação ao término das chuvas for feito o diferimento, maior será a quantidade de forragem acumulada, mas menor será o seu valor nutritivo, e vice-versa. Na tabela 1 observa-se a interação entre época de diferimento e de utilização da pastagem influenciando o teor de proteína bruta e a digestibilidade da forragem. 

Tabela 1. Teores de proteína bruta (PB) e digestibilidade “in vitro” da matéria seca verde (DVMSV) da Brachiaria brizantha, em função das épocas de diferimento e utilização.

Mês de diferimento Mês de utilização da pastagem
Junho Julho Agosto Setembro
PB DIVMSV PB DIVMSV PB DIVMSV PB DIVMSV
Fevereiro 8,3 57,1 7,7 52,4 6,5 50,1 6,1 47,0
Março 9,1 59,7 8,0 55,1 7,3 52,9 6,8 48,3
Abril 9,7 63,4 8,5 58,2 8,1 53,1 7,5 50,1

Fonte: REIS et al. (1996)

Pensando nas diferentes categorias animais de um rebanho, o diferimento em março e abril para uso em junho, seria mais indicado para animais jovens em crescimento, como os bezerros recém-desmamados, que exigem forragem com maior concentração de nutrientes e digestibilidade mais alta, enquanto que o diferimento em fevereiro para uso a partir de junho seria apropriado para animais adultos que entrarem na seca com boa condição corporal, que precisam de maior quantidade de forragem, mas conseguem aproveitar melhor forragem de menor valor nutritivo.

Além da queda acentuada no valor nutritivo da forragem proveniente de pastagem diferida por mais de 120 dias, as perdas de forragem por acamamento também são altas, já que a altura da planta fica maior e a estrutura muda para uma maior relação caule:folha, maior peso, condição que aumenta ainda mais as perdas de forragem por acamamento.

4. As espécies forrageiras mais recomendadas para o diferimento: as melhores espécies forrageiras para o diferimento da pastagem, já pesquisadas, em ordem decrescente são: a Brachiaria decumbens, os cultivares de Brachiaria brizantha, as gramas do gênero Cynodon. Essas espécies forrageiras apresentam algumas características morfológicas e fisiológicas que favorecem o seu uso em método de pastoreio diferido: maior proporção de folhas em relação a talos, talos finos (as Braquiárias e o Cynodon) e florescimento tardio (no caso do Braquiarão) ou não florescem (Cynodon spp).

5. Como proceder para fazer o diferimento: no mês escolhido para o diferimento e nas pastagens que serão diferidas, deixar um lote de animais fazer um pastejo mais intenso com o objetivo de eliminar a forragem velha e morta que se acumulou na pastagem desde o início do período chuvoso. Forrageiras do gênero Cynodon devem ter sua altura rebaixada para 10 a 15 cm; a B. decumbens para 15 a 20 cm; o capim Braquiarão para 20 a 25 cm. Fazer o pastejo mais intenso com animais adultos que estiverem com boa condição corporal.

Em algumas situações é recomendada a aplicação de nitrogênio (50 a 100 kg de N/ha) e enxofre naquelas pastagens, logo após o rebaixamento do pasto e a saída dos animais. Esses nutrientes contribuirão para aumentar a longevidade das folhas, ou seja, fazer as folhas permanecerem verdes por mais tempo na seca, para prolongar o tempo de rebrota, mesmo na seca, aumentar a proporção de folhas e melhorar o valor nutritivo da forragem.

Continua no próximo texto.

 


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