Médico veterinário, mestre e doutor em zootecnia pela UNESP de Jaboticabal e analista de mercado da Scot Consultoria
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Conhecida popularmente como larva ou bicho-da-farinha, a larva do besouro tenébrio comum (Tenebrio molitor) possui alto teor de proteína (cerca de 58%), alanina, vitaminas, minerais, ácido linoleico, entre outros teores nutricionais (Rezende et al., 2020). O farelo de soja, principal concentrado proteico utilizado na nutrição animal, apresenta uma proteína bruta de 45%.
Recentemente a Agência Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) aprovou a larva da farinha como alimento humano, sendo o primeiro inseto aprovado como comestível na União Europeia (Neves, 2021).
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2003), cerca de 2 bilhões de pessoas consomem regularmente alguma espécie de inseto, sendo que há uma variedade com cerca de 2 mil espécies comestíveis.
A figura 1 ilustra a metamorfose completa do besouro, que é dividida em quatro etapas: embrião (ovos), larva, pupa e imago (adulto). A duração do seu ciclo de vida varia de cinco a doze meses, sendo sensíveis às condições climáticas, principalmente a temperatura.
Figura 1. Ciclo biológico do Tenebrio molitor.
Fonte: Rezende et al. (2020)
Em sua reprodução, a fêmea chega a produzir cerca de 500 a 1.000 ovos por desova.
Comumente o farelo de trigo tem sido utilizado como dieta padrão, embora a alimentação e seu impacto no teor de nutrientes no inseto ainda esteja sendo pesquisado, o que poderia viabilizar ainda mais o custo de produção (Rumbos et al., 2020). O farelo de milho tem sido considerado uma aposta promissora e mais barata.
Já existe método de baixa tecnologia e baixo custo de produção de larvas em escala industrial, apesar de ser voltada para menores demandas, como o mercado pet. A China possui uma variedade muito grande de apresentação do Tenebrio molitor para comercialização, desde vivos ou secos, até enlatados ou em pó.
A mão de obra e a alimentação são os itens mais onerosos que compõem os custos de produção do Tenebrio molitor.
Seu baixo teor de umidade favorece a produção de farinha de inseto de alta qualidade. Em relação ao uso da farinha do tenébrio comum, ela tem se mostrado promissora principalmente para avicultores e piscicultores, de modo a não impactar negativamente no desempenho desses animais com a inclusão desse ingrediente em suas dietas e apresentar menor custo em relação aos ingredientes convencionais (Reis e Dias, 2020).
Em 2003, foi estimado 600 mil produtores dessa espécie no Brasil, sendo a maioria criadores de pássaros.
Traçando um comparativo da produção de insetos com outras produções, se gasta menos energia do que a de bovinos, se equipara a de suínos e é maior do que a de frangos e vacas leiteiras para a produção de 1 kg de proteína (Oonincx e De Boer, 2012).
Em relação à emissão de gases de efeito estufa, a produção de larvas é vantajosa em relação às demais produções. Para uma mesma produção de proteína considerando a produção desses gases, são equivalentes 1 ha de terra de produção de insetos, 2,5 ha de vacas leiteiras, 2 a 3,5 ha de frangos e suínos e 10 ha de bovinos de corte (Van Huis et al., 2013).
A criação de insetos demanda espaços expressivamente menores em relação à plantação de grãos ou criação de animais (Ramos-Elorduy et al., 2001).
Além disso, foi comprovado que o Tenebrio molitor é capaz de degradar materiais como poliestireno, base do isopor e de difícil destinação ao ambiente, e transformar o carbono desse material em CO2 e o resíduo em biomassa (Yang et al., 2015), sem comprometer os valores nutricionais da larva.
A larva do besouro tenébrio comum poderá ser consumida como uma fonte de proteína alternativa, realidade que está mais próxima na Europa. Farinha de insetos poderão compor alimentos como pão, biscoito, massas e outros pratos.
Essa espécie possui altas propriedades nutricionais e apresenta aspectos interessantes quanto à sustentabilidade de sua produção.
Atualmente, apresenta uma gama de utilizações, sendo uma das mais promissoras a inclusão na alimentação de aves e peixes.
Contudo, ainda há incertezas quanto aos efeitos de toxidez para consumo humano e a aceitabilidade desse alimento. Além do mais, há falta de métodos de produção em escala que viabilizem atender uma demanda maior voltada para a alimentação humana e/ou outros animais de produção viavelmente econômica.
Bibliografia
Oonincx, D. G. A. B.; De Boer, I, J. M. Environmental impact of the production of mealworms as a protein source for humans: a life cycle assessment. PLOS ONE, v.7, p. 1-7, 2012.
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Disponível em: http://www.fao.org.home/en/. Acesso em: 2 de fevereiro de 2021.
Neves, G. Larva se torna o primeiro inseto aprovado como comida na União Europeia. Disponível em: https://www.midiamax.com.br/mundo/2021/larva-se-torna-o-primeiro-inseto-aprovado-como-comida-na-uniao-europeia. Acesso em: 1 de fevereiro de 2021.
Ramos-Elorduy, J., González, E. A., Hernández, A. R., Pino, J. M. Use of Tenebrio molitor (Coleoptera: Tenebrionidae) to recycle organic wastes and as feed for broiler chickens. Journal of Economic Entomology, v. 95, n. 1, p. 214-220, 2002.
Reis, T.L.; Dias, A.C.C. Farinha de insetos na alimentação de não ruminantes, uma alternativa alimentar. Veterinária e Zootecnia, v.27, p.1-16, 2020.
Rezende, M.A.S.; Silva, C.A. de S.; Campos, A.N. da R. Larva de Tenebrio molitor como fonte de proteína na alimentação humana: possibilidade e perspectivas. Contribuições para a Área de Alimentos: Experiências do Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campus Rio Pomba, p. 222, 2020.
Rumbos, C.I.; Karapanagiotidis, I.T.; Mente, E.; Psofakis, P.; Athanassiou, C.G. Evaluation of various commodities for the development of the yeallow mealworm, Tenebrio molitor. Scientific Reports, v.10, n.1, p. 1-10, 2020.
Van Huis, A. Potential of insects as food and feed in assuring food security. Annual review of entomology, v. 58, p. 563-583, 2013.
Yang, Y.; Yang, J.; Wu, W.M.; Zhao, J.; Song, Y.; Gao, L.; Yang, R.; Jiang, L. Biodegradation and Mineralization of Polystyrene by Plastic-Eating Mealworms: Part 1. Chemical and Physical Characterization and Isotopic Tests. Environmental Science and Technology, v. 49, p. 12080-12086, 2015.
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