Engenheiro agrônomo e analista de mercado da Scot Consultoria
Foto: Freepik
Retrospectiva do cenário pecuário
Em dezembro do ano passado publicamos o artigo “Carcaça ou desossa, qual a melhor opção?”, onde abordamos como a comercialização de boiadas, naquela época, estava afetando a negociação de carnes.
A oferta reduzida de bovinos para abate, reflexo da retenção de fêmeas, associada à exportação em ritmo aquecido, fez com que as cotações subissem expressivamente em 2020.
A quantidade de bovinos abatidos caiu 8,5% em comparação com 2019. Foram abatidas 29,7 milhões de cabeças, mesma quantidade apurada em 2016, ou seja, primeira queda depois de três anos de crescimento do abate (IBGE¹).
Já em relação à exportação de carne bovina in natura, o volume subiu 9,9% em 2020, comparado a 2019 (Secex²).
Diante desses fatores, a cotação do boi gordo nas praças pecuárias paulistas subiu 54,5%, diante do mesmo período de 2020, uma alta considerável.
De acordo com a Scot Consultoria, o Equivalente Scot Carcaça, que considera a receita obtida com a venda de carne com osso, couro, sebo e demais coprodutos, em relação ao preço pago pela arroba, está em 13,2% (12/4).
Já o Equivalente Scot Desossa, que considera a venda de carne desossada, couro, sebo e demais coprodutos, em relação ao preço pago pela arroba, a receita está em 1,3% (12/4). Esse indicador chegou a ser negativo entre 19/3 e 31/3, indicando prejuízo na comercialização de carne desossada.
A pergunta é: “como um produto de maior valor agregado, como a carne desossada, pode ter uma margem menor de comercialização que o mesmo produto de menor valor agregado, como a carcaça?”.
A resposta precisa considerar o cenário econômico vigente.
O quadro pandêmico afetou o poder aquisitivo da população, visto que as medidas restritivas impostas para a contenção da doença tiveram como consequência a suspensão de atividades econômicas de modo generalizado, aumentando o quadro de desemprego pré-existente.
A taxa de desemprego saiu de 12,2% no primeiro trimestre de 2020 para 13,9% no quarto trimestre de 2020 (PNAD Contínua), alcançando 14,6% no terceiro trimestre do mesmo ano (IBGE¹).
Esse fato e a menor quantidade de boiadas, e o dólar valorizado frente ao real impulsionando as exportações, fizeram com que a procura por boiadas aumentasse, fortalecendo a cotação da arroba do boi gordo.
Dessa maneira, os frigoríficos que não exportam encontram-se em um cenário difícil, disputando a matéria-prima (boiadas) com as indústrias frigoríficas que exportam, fazendo com que parte delas comprem carcaças de outras indústrias.
Portanto, o cenário continua o mesmo de dezembro de 2020, a procura por carne com osso – carcaça - está maior, reflexo da dificuldade na compra de boiadas, devido à depressão de oferta. O remédio está sendo comprar carcaça para desossar.
Devido a esse aumento da procura por carne com osso, a cotação subiu, e desde outubro de 2019, a venda de carcaça é mais interessante do que a venda de carne desossada no mercado interno.
Bibliografia consultada
¹ Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
2 Secretaria de Comércio Exterior
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