Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.
Foto: Scot Consultoria
Na primeira parte deste artigo escrevi sobre a definição do termo “diferimento da pastagem”, em quais sistemas de produção a sua adoção é aplicável, quando iniciar o diferimento, as espécies forrageiras mais recomendadas para o diferimento e porque, e como proceder para diferir a pastagem. Aqui retomo a partir do sexto passo.
6. Quanto de forragem deve ser acumulada: o planejamento do diferimento deve ser feito com objetivo de acumular de 3,0 a 4,0 t de matéria seca/ha. Não se recomenda acumular mais massa de forragem para que a planta não fique muito alta e com maior proporção de talos, condições que contribuem para o aumento das perdas de forragem por acamamento e para a redução do valor nutricional da forragem.
Em termos de proporção da área da propriedade que deve ser diferida, vai depender muito da taxa de lotação que se trabalha no período chuvoso e a taxa de lotação programada para o período da seca. É importante, dentro de um planejamento alimentar de uma propriedade, programar os descartes e vendas de animais ao mesmo tempo em que se faz o diferimento das pastagens. Normalmente, para sistemas extensivos e semi-intensivos, o diferimento de 20 a 40% da área de pastagens da propriedade é recomendado.
7. Qual deve ser a oferta de forragem para os animais e a taxa de lotação: como o valor nutritivo da forragem diferida não é alto, é recomendado que a oferta de forragem (kg de matéria seca/100 kg de peso corporal) seja alta, para permitir que o animal exerça a seletividade das partes mais ricas da planta, durante o ato de pastejo. O ideal é ofertar pelo menos quatro vezes a quantidade que o animal consome, ou seja, 8 kg de MS/100 kg de peso corporal, se admitirmos que o consumo de forragem será de 2 kg de MS/100 kg de peso corporal. Na tabela 1 observa-se a interação entre disponibilidade de forragem e taxa de lotação sobre o ganho de peso por animal e por área.
Tabela 1. Variação na disponibilidade de forragem verde (kg de matéria seca de folhas e caules/ha) entre o início e o final do período seco, e ganho em peso (g/cab/dia) em pastagem de Brachiaria brizantha.
Fonte: REIS et al. (1996)
Com 1,4 UA/ha, houve ganho de peso por animal e por área, enquanto com 1,8 UA/ha houve perda de peso por animal, com consequente perda por área. Uma pequena diferença de 0,4 UA/ha fez a disponibilidade de forragem cair de 3.200 kg de MS/ha para 2.400 kg de MS/ha no início da seca e reduzir o resíduo pós-pastejo de 1.400 para 1.000 kg de MS/ha, no final da seca. A menor disponibilidade de forragem resultou em menor oferta de forragem, com consequente redução na capacidade do animal selecionar uma dieta de maior valor nutritivo.
8. A suplementação animal em pastagens diferidas: a forragem que se acumula em pastagens diferidas tem seu valor nutritivo reduzido e desse modo, mesmo tendo alta disponibilidade de forragem, é preciso suplementar os animais com os nutrientes deficientes na forragem. Na tabela 2, se observam as alterações que ocorreram na composição da forragem de Brachiaria sp colhida, simulando o pastejo de acordo com a estação do ano.
Tabela 2. Composição bromatológica média de pastos do gênero Brachiaria sp em função de diferentes períodos de coleta durante o ano.
PB: proteína bruta; FDN: fibra em detergente neutro.
Fonte: PAULINO et al. (2002)
No período da seca o nível de proteína bruta está abaixo daqueles 7% mínimos exigidos para a manutenção do peso de bovinos e no período de transição seca-água, esse nível só é possível para manter o peso corporal. Desse modo, se for desejado ganho de peso, é preciso suplementar os animais com suplementos ricos em proteína degradada no rúmen, tais como suplementos que usam ureia e farelos proteicos. Mas esse passa a ser tema para um outro artigo.
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