Zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria.
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Introdução
O governo argentino suspendeu na segunda-feira (17/5) as exportações de carne bovina por 30 dias. A informação foi divulgada pela agência estatal Télam, do Ministério de Desenvolvimento Produtivo da Argentina.
O comunicado foi feito pelo presidente Alberto Fernández aos representantes do setor no Consórcio Argentino de Exportadores de Carnes ABC, que esclareceu que a medida poderá ser vetada antecipadamente se forem observados resultados satisfatórios com a aplicação dessa e de outras medidas que ainda serão implementadas.
A suspensão foi determinada em consequência do aumento do preço da carne bovina no mercado argentino e faz parte de um conjunto de medidas emergenciais para contenção da inflação no país.
Segundo o governo, essa e outras medidas buscam organizar a operação do setor pecuário argentino para restringir as práticas especulativas, melhorar a rastreabilidade das exportações e evitar a sonegação fiscal no comércio internacional.
“Enquanto as medidas ainda estiverem sendo implementadas, as exportações de carne bovina ficarão suspensas por um período de 30 dias”, disse o presidente argentino.
Segundo o Instituto Argentino de Promoção da Carne Bovina (Ipcva), os preços dos diferentes cortes da carne bovina na argentina subiram 65,3% em abril, frente a abril/20, cerca de 20 pontos percentuais acima da atual inflação do país.
A suspensão temporária das exportações entrou em vigor um dia após o presidente argentino ter expressado preocupação com o aumento dos preços nos últimos dois meses.
Após a divulgação da restrição temporária das exportações, hoje (18/05), a Comissão do Elance, que reúne as principais entidades do agronegócio da Argentina (Sociedade Rural Argentina (SRA), Coninagro, Confederações Rurais Argentinas (CRA) e Federação Agrária (FAA)), anunciou greve a partir da meia-noite do dia 20 a 24 de maio, em repúdio à medida anunciada pelo governo.
A comissão pede ao setor a suspensão da comercialização de gado de corte nos dias estabelecidos como protesto, rejeitando a medida de restrições das exportações de carne bovina por 30 dias.
Já o presidente da Associação dos Proprietários de Açougues da Argentina (APC), Alberto Williams, disse hoje (18/05) que a medida tomada pelo governo de restringir temporariamente as exportações de carne bovina por 30 dias "é boa" e que deve ser o ponto de partida para "organizar esse mercado que explodiu".
A Argentina é o quinto maior exportador de carne bovina do mundo, atrás do Brasil, Australia, Estados Unidos e Índia.
Em 2020 o país embarcou 830 mil toneladas de equivalente carcaça (tec) e foi responsável por 20,1% da carne bovina importada pela China, principal destino das exportações brasileiras de carne bovina.
Para 2021, o USDA previa um volume 7,2% menor dos embarques, acompanhando as estimativas de queda no rebanho e na produção de carne bovina do país.
A Argentina se destaca nos embarques de carne de maior valor agregado (Cota Hilton e Cota 48).
Segundo a Câmara de Indústria e Comércio de Carnes e Derivados da República Argentina, os principais destinos da carne argentina são: China, Chile, Israel e Alemanha.
A medida deve aumentar a demanda chinesa por carne bovina brasileira durante o período em que estiver em vigor, cenário que, no curto prazo, somado ao período de retenção de fêmeas e oferta ainda enxuta de gado terminado no mercado brasileiro, deve pressionar os preços da arroba no mercado doméstico.
O desenrolar da situação da exportação de carne bovina argentina merece atenção do setor pecuário brasileiro.
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