Alcides Torres é engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.
Rafael Ribeiro é zootecnista, formado pela Universidade Estadual Paulista UNESP, Câmpus de Ilha Solteira-SP, mestre em Administração de Organizações Agroindustriais pela UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP.
Foto: Bela Magrela
Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado, em 2/7/2021.
No mercado do boi gordo, os preços estiveram firmes e em alta de janeiro a meados de abril.
Apesar do período de safra (maior disponibilidade de boiadas de pasto), a retenção de fêmeas, em função da atratividade da cria (preços dos bezerros elevados) e a possibilidade de o pecuarista “segurar” a boiada no pasto a um custo menor e negociar compassadamente, foram os fatores de sustentação das cotações.
Em maio, com o aumento da oferta, devido ao capim perdendo qualidade e, consequentemente, a desova de animais de final de safra, os preços recuaram, mas retomaram a firmeza em junho, com a disponibilidade de boiadas terminadas mais enxuta (entressafra).
Segundo levantamento da Scot Consultoria, na praça de Barretos-SP, a referência para o boi gordo está em R$310,50/@ (1/7), considerando o preço à vista, descontado o Funrural e o Senar.
A cotação subiu 19,9% desde o início do ano e, na comparação com junho do ano passado, está 44,8% maior. Veja a figura 1.
Figura 1. Preços da arroba do boi gordo em Barretos-SP, em R$/@, à vista, descontado o Funrural e o Senar.
Fonte: Scot Consultoria
O confinamento estratégico é uma alternativa para terminar os bovinos durante o período seco do ano.
Entretanto, considerando que o boi magro e a alimentação concentrada respondem por mais de 90% dos custos do confinamento, é preciso fazer as contas para estimar os resultados da operação, diante do forte aumento dos custos de produção e recentes quedas nos preços futuros do boi (B3). Fizemos uma simulação.
Na simulação foi considerado um sistema de engorda de bovinos em confinamento em São Paulo, com a entrada da boiada em meados de julho/21, 90 dias de confinamento, e ganho de peso diário de 1,6 quilo e rendimento de carcaça de 56%.
Com isso, a venda para o frigorífico ocorrerá em meados de outubro/21.
Foi considerada uma diária média de R$16,50 por cabeça e o preço de aquisição do boi magro em R$4,4 mil por cabeça.
Para a venda do boi gordo, foi utilizado a cotação do contrato futuro de boi gordo na B3, que se refere ao mercado paulista, com vencimento em outubro/21. A cotação é de R$320,50 por arroba, no fechamento de 25/6/2021.
Veja na tabela 1 os parâmetros utilizados e a estimativa de resultado por bovino confinado em 2021.
Tabela 1. Estimativa de resultado econômico da engorda de bovinos em confinamento em São Paulo em 2021.
Entrada no cocho | 15/07/2021 |
Peso do boi margo (@) | 12 |
Peso do boi magro (kg) | 360 |
Preço do boi magro (R$/cab.) | R$ 4.400,00 |
Preço do boi magro (R$/@) | R$ 366,67 |
Custo da diária (R$) | R$ 16,50 |
Ganho de PV diário | 1,6 |
Dias de cocho | 90 |
Custo total | R$ 5.885,00 |
Peso de saída (kg) | 504 |
Rendimento de carcaça | 56% |
Peso de carcaça (kg) | 282,24 |
Arrobas de carcaça | 18,8 |
Ganho de carcaça (kg) | 1,14 |
Custo arroba total | R$ 312,77 |
Arrobas ganhas no cocho | 6,82 |
Custo da arroba engordada | R$ 217,87 |
Saída do confinamento (90d + 1d) | 15/10/2021 |
Preço de venda da arroba em SP – contrato out/21 (R$) | 320,50 |
Receita (R$) | R$ 6.030,53 |
Lucro/cabeça | R$ 145,53 |
Fonte: Scot Consultoria
No cenário apresentado e sem considerar quaisquer mecanismos de trava ou proteção de preços, o resultado previsto é de um lucro de R$145,43 por cabeça confinada.
Dessa forma, considerando o segundo giro do confinamento (entrada dos animais em julho/agosto e saída em outubro/novembro), uma melhoria nos resultados financeiros da atividade estaria relacionada a uma alta nos preços da arroba ao longo dos próximos meses.
Analisando os fundamentos de mercado, a expectativa é de uma oferta mais restrita de boiadas em curto e médio prazos e, essa lacuna mantém o viés de alta sobre as cotações da arroba dos animais terminados. Do lado das exportações, o cenário é positivo para os embarques de carne bovina no segundo semestre, mas a queda do dólar é um ponto de atenção, já que influi diretamente na competitividade do produto no mercado internacional.
Por fim, observe na figura 2, que na segunda metade de maio, o contrato de outubro/21 chegou a ser negociado acima de R$340,00/@. Fazendo as contas considerando esse preço de venda do boi gordo e mantendo os custos do boi magro e diária, o resultado era de um lucro de R$512,44 por cabeça confinada.
A coisa mudou.
Figura 2. Evolução da cotação do contrato de boi gordo com vencimento em outubro/21 na B3, em R$/@.
Fonte: B3
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