Engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado pela mesma universidade. É pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste e especialista em nutrição animal com enfoque nos seguintes temas: exigência e eficiência na produção animal, qualidade de produtos animais e soluções tecnológicas para produção sustentável.
Foto: Scot Consultoria
O texto deste mês é uma compilação das necessidades básicas de um bovino macho em uma fazenda de produção de carne. O objetivo é ser um material de consulta rápida para quando se deseja ter uma ideia das grandezas envolvidas nessas necessidades. Para dimensionamentos de projetos, recomendamos que um técnico habilitado seja procurado e valores mais realistas sejam adotados para cada caso.
A quantidade de alimento que um boi consome depende de muitos fatores, mas primordialmente de seu peso e da qualidade do alimento, em particular sua digestibilidade e concentração energética. Como um valor de referência, considerando a realidade brasileira de produção baseada em pastagens, frequentemente usa-se a relação de 2 kg de matéria seca para cada 100 kg de peso, ou seja, 2% (0,02) do peso vivo. Importante frisar que se trata de matéria seca e, portanto, para saber quanto, na realidade que ele consome, precisamos corrigir para o teor de matéria seca. Abaixo, um exemplo para um animal de 450 kg, considerada uma unidade animal (UA):
450 kg PV X 0,02 = 9 kg MS, considerando uma pastagem com 25% de matéria seca (MS), basta dividir o valor em MS pelo valor do teor de MS do alimento em porcentagem, dividido por 100, conforme abaixo:
9 kg MS / (25/100) = 9 kg MS / 0,25 = 36 kg de matéria original (MO)
O consumo de água é ainda mais variável do que o de alimentos e também guarda relação com o peso do animal, mas tem como fonte de variação a temperatura. Isso não é surpresa, pois a água é um fator importante para a regulação térmica dos animais de sangue quente. Abaixo uma tabela com valores que podem ser usados como referência.
Tabela 1. Efeito da temperatura ambiente sobre o consumo diário médio de água (litros).
Temperatura, °C | ||||||
Peso vivo, kg | 10 | 14,5 | 21,0 | 26,5 | 32,0 | |
---|---|---|---|---|---|---|
Novilhas, garrotes e tourinhos em crescimento | ||||||
180 | 16,3 | 18,9 | 22,0 | 25,4 | 36,0 | |
270 | 22,0 | 25,0 | 29,5 | 33,7 | 48,1 | |
360 | 25,7 | 29,9 | 34,8 | 40,1 | 56,8 | |
Animais em terminação | ||||||
270 | 24,6 | 28,0 | 32,9 | 37,9 | 54,1 | |
360 | 29,9 | 34,4 | 40,5 | 46,6 | 65,9 | |
450 | 35,6 | 40,9 | 47,7 | 54,9 | 78,0 |
Fonte: Adaptada do NRC, 1996.
Pela importância da água para o desempenho, recomenda-se que o dimensionamento tome como base os valores mais elevados e, sobre eles, ainda se tenha uma margem de segurança para manter o fornecimento por alguns dias, o que é necessário para eventuais problemas na captação ou na linha de água, por exemplo.
O valor de lotação da seca fica próximo à uma unidade animal por hectare. Todavia esse valor tem algumas premissas: para que se tenha o que o boi comer na seca, é importante garantir pastagem para esse período reservando uma área para acumular o crescimento nas águas, o que chamamos de diferimento de pastagens. Deve-se ter um acúmulo de forragem de cerca de 4 toneladas de MS por hectare. Essa pastagem vedada deve ser suficiente para cerca de 2 a 3 meses de seca. Assim, há a recomendação para vedar 1/3 da área em fevereiro, para uso entre maio e junho/julho e 2/3 da área em março, para uso entre agosto e setembro/outubro. Assim, para 300 unidades animais, seriam vedados 100 hectares em fevereiro e 200 hectares em março. Com pastagens vedadas e um bom proteinado é possível passar a seca com os animais ganhando peso, em geral, com uma boa relação benefício:custo.
Aqui, o importante é saber qual o tipo de suplemento usado. Para o sal mineral, a recomendação corrente é 6 cm de espaço linear de cocho por unidade animal. Proteinados de baixo consumo (1 a 2 g/kg de peso vivo), precisamos de 15 cm/UA. Para produtos de maior consumo é bom aumentar a disponibilidade de cocho e para suplementações com concentrado em que não há sódio que chegue para que os animais autorregulem o consumo, temos que dar espaço de cocho suficiente para que todos os animais consumam ao mesmo tempo, ou seja, entre 60-70 cm/UA.
A suplementação mínima que deve ser dada a um bovino é o sal mineral e o valor de um saco de sal por ano por unidade animal é uma boa aproximação para esse valor. Como o saco padrão de sal tem 30 kg, o consumo sugerido seria pouco maior que 80 g/UA/dia. Na prática, cada produto vem com uma recomendação de consumo alvo e deve-se perseguir essa média.
Na seca, para corrigir a limitação de falta de proteína, recomenda-se, no mínimo, fornecer um sal com ureia. Nesse caso, o consumo passa a ser de, pelo menos, uns 100 g/UA/dia. Considerando 180 dias de seca, isso aumentaria o consumo anual em pouco mais de 3 kg. Em geral, uma opção ainda melhor na seca são os proteinados, com consumo médio de 1,5 g/kg de peso vivo. No mesmo período de seca, seriam perto de 120 kg/UA que, somados ao meio saco de sal mineral, dariam 135 kg de suplemento por UA/ano.
Um parâmetro interessante para se ter é qual o máximo de ureia pode ser consumido por um boi. O nível crítico fica entre 40-50 g/100 kg de peso vivo, ou seja, uma unidade animal pode comer até entre 180-225 g de ureia por dia. Esse valor pressupõe dois pontos fundamentais: 1) os animais foram adaptados ao consumo de ureia por duas semanas, onde ela foi oferecida de modo crescente e 2) ela faz parte de uma dieta minimamente balanceada. Assim, podemos ter intoxicação com ureia mesmo com valores abaixo desses se os animais não tiverem sido adaptados, ou que estejam recebendo uma dieta, por exemplo, com déficit de energia, ou já com outras fontes de proteína.
O valor mínimo de área por boi é de 12 m2, mas já temos trabalhos mostrando que é possível ter melhor desempenho com o dobro desse valor. No caso de cocho, o ideal seria ter 60-70 cm/boi, pois todos podem comer ao mesmo tempo. Na prática, porém, confinamentos muito grandes têm usado valores até três vezes menores, mas eles compensam essa redução com a oferta de alimentos várias vezes, oportunizando para os animais submissos sua vez, depois que os dominantes já consumiram na vez anterior.
Para responder essa pergunta precisamos ter o total de silagem a ser consumido e a densidade da silagem. A densidade será fruto da compactação que, depende de duas coisas: 1) bom trabalho de compactação com tratores e 2) da MS da silagem, pois se o milho tiver muito mais do que 33% de MS, é bem mais difícil compactar. Considerando que ambas as condições foram bem atendidas, um bom valor seria ter 500 kg em cada m3 de massa ensilada. Se tivéssemos 100 animais para confinar por 100 dias, com peso médio de 450 kg e consumo de MS de 2% do PV, a conta seria: 100 cabeças X 100 dias X 9 kg/cabeça = 90 mil kg de MS ou 90 toneladas de MS. Considerando que a silagem tenha 30% de MS, basta dividir 90 t por 0,3, resultando no valor total de massa ensilada que devemos ter, ou seja, 300 t de matéria original ou in natura de silagem. Como queremos uma densidade 0,5 t/m3, temos que providenciar um silo com 600 m3 de espaço para acomodar essa quantidade de silagem.
Um boi, em geral, é abatido com 500-600 kg de peso vivo, o que resulta em aproximadamente entre 18-20 arrobas de carcaça que pesariam 270 kg (18 @ X 15 kg/@) e 300 (20 @ X 15 kg/@). Nesses arredondamentos, está implícito que o rendimento de carcaça do animal de 500 kg foi de 54% (270 kg carcaça/500 kg de PV) e o de 600 kg, exatos 50% (300 kg carcaça/600 kg de PV). Apesar de haver também considerável variação no rendimento de carcaça, que pode passar dos 60%, especialmente em função do grau de acabamento e raça do animal, um valor que atende bem para dimensionamentos rápidos, é 53%. Assim, cada quilograma ganho de peso vivo do animal, podemos contabilizar 530 g de carcaça.
A única conta possível de se fazer aqui é a respeito do faturamento. Nesse caso, basta pegar o valor do peso do animal, transformar em carcaça e multiplicar pelo valor sendo pago pelo frigorífico. Usando dados do item anterior, aquele animal de 500 kg de PV com um rendimento de 54% de carcaça resulta em 18 arrobas. Com o valor de R$250,00 por arroba, o valor faturado com a venda desse boi foi de R$4.500,00. Esse valor pode ser bom ou ruim, dependendo de como ela foi produzida e, consequentemente, quanto ela custou. Por isso, a importância de deixar tudo sempre bem dimensionado.
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