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Scot Consultoria

Palmáceas em pastagens: caracterização e controle das pindobas


Sexta-feira, 19 de novembro de 2021 - 17h00

Engenheiro agrônomo e mestre em solos e nutrição de plantas pela ESALQ-USP. Com atuação profissional desde 1985 em pesquisa e desenvolvimento em sistemas de produção agrícola em empresas nacionais e multinacionais, trabalhou por 24 anos na geração dos principais herbicidas para pastagens hoje no mercado. Atualmente, é consultor independente, fundador da NTC ConsultAgro, focado no manejo da vegetação em pastagens, reflorestamentos e áreas não agrícolas.


Foto: Envato


A ocorrência e impacto das palmáceas em pastagens

Muitas espécies de palmeiras infestam pastagens estabelecidas, principalmente das regiões Centro e Norte do país, onde aparecem por vezes em níveis de infestação bastante significativos. Na nomenclatura botânica, essas espécies são classificadas como pertencentes à família Arecaceae e são facilmente identificadas nas pastagens pela forma como se destacam da vegetação e pela configuração bastante típica da arquitetura das plantas, de modo muito frequente são chamadas popularmente por pindobas, como na figura 1.

Figura 1. Pastagem com presença de pindoba na região de Imperatriz no Maranhão.

Fonte: acervo pessoal do autor

Diversas espécies deste grupo possuem espinhos, dificultando, sobremaneira, o manejo do gado nas pastagens onde estas ocorrem. O gado pode se alimentar das folhas de espécies que não possuem espinhos, especialmente quando as plantas estão rebrotando após roçadas, entretanto esses animais o fazem por falta de disponibilidade adequada de capim para seu pastejo, uma vez que estas folhas são nutricionalmente pobres, com elevado teor de fibras não digeríveis. O fato dos animais se alimentarem de suas folhas em rebrote pode iludir os pecuaristas menos tecnificados, imaginando que o gado está tendo alimento disponível. Pelo motivo exposto, trata-se de um raciocínio equivocado.

A presença dessas plantas na pastagem exerce a competição típica por água e nutrientes, mas principalmente por espaço com a forrageira de interesse, além do sombreamento. A somatória dos fatores levará a uma menor produção de capim, e por consequência, à menor capacidade de lotação animal nestas áreas.

Uma variedade grande de espécies de palmáceas ocorrem nas mais diversas regiões do país, mas em maior frequência aparece a tradicional pindoba, classificada como Orbignya phalerata, com sinonímias: Attaleia speciosa, Orbignya barbosiana, Orbignya macropelata, Orbignya martiana e Orbignya speciosa. Trata-se do babaçu, uma espécie protegida por lei em diversos Estados pelo seu caráter de subsistência econômica de populações que exploram, principalmente, seus frutos maduros: os coquinhos. Contudo, essas leis de proteção cobrem as plantas adultas em produção e ainda especificando a permanência de um mínimo de plantas adultas e jovens por hectare. Também outras leis municipais e estaduais garantem o livre acesso às áreas de ocorrência destas plantas para a coleta dos frutos, a chamada Lei do Babaçu Livre. Assim, o controle das plantas provenientes das rebrotas das roçadas nas pastagens não é impedido por essas leis.

Figura 2. Plantas de pindoba na região de Jussara em Goiás.

Fonte: acervo pessoal do autor

Caracterização das pindobas

As plantas da família Arecaceae são monocotiledôneas, assim, apresentam um único ponto de crescimento localizado na região apical do tronco, de onde se originam as folhas. Esse ponto é tecnicamente definido como meristema apical, sendo popularmente conhecido como “olho” da planta. Nessa região os tecidos são bastante jovens, onde ocorre intensa multiplicação celular, e deles se originam as demais estruturas da planta, tanto as folhas como os órgão reprodutivos, de onde derivam as flores e posteriormente frutos, no caso desta família do tipo drupa, geralmente fibroso, ou raramente como baga, e possuem endosperma com óleos ou carboidratos, que em algumas plantas podem ser ruminados.

Apresentam um tronco único não ramificado, e no caso da Orbignya phalerata podem atingir até 20 m de altura. Já espécies como o indaiá, a Attalea geraensis, não geram troncos acima de 1 m. Algumas espécies possuem espinhos em seus caules e folhas, como o tucum (Bactris setosa) ou a Macaúba (Acrocomia aculeata).

Figura 3. Detalhes do caule espinhento do tucum (Bactris setosa).


Fonte: acervo pessoal do autor

A reprodução dessas plantas se dá exclusivamente por sementes, gerando grandes populações em áreas recém-abertas, tornando seu controle uma tarefa árdua e persistente.

O controle das pindobas

As pindobas são de difícil erradicação devido ao rico banco de sementes existentes no solo, que proporciona constante germinação de plantas novas. Assim, seu controle é uma atividade rotineira e constante, porém o manejo do capim exerce importante papel na supressão dessas plantas, que são prejudicadas pelo sombreamento do solo, exercido pelo capim bem manejado.

Os principais tratamentos para controle químico das pindobas são realizados com produtos à base de triclopir, porém exigindo que o produto seja diluído em óleo diesel.

Todos os produtos contendo exclusivamente triclopir no Brasil possuem 480 g ea/l, e são formulações EC: concentrados emulsionáveis. Esse tipo de formulação possibilita sua diluição tanto em solventes orgânicos, caso do diesel, como se diluem bem em água, formando emulsões estáveis. As concentrações da cauda para o controle das pindobas variam de 3 a 5% do produto formulado, ou seja, 97 a 95% de diesel com 3 a 5% da formulação de triclopir 480 EC.

Até os anos 1990 apenas um produto contendo triclopir estava disponível no mercado. Atualmente existem 13 marcas comerciais registradas para pastagens, de diversos fabricantes. Nem todas estão disponíveis comercialmente, mas ao menos cinco marcas são facilmente encontradas no mercado.

A aplicação da calda de triclopir em diesel, mencionada há pouco, deve ser direcionada para plantas que não possuem caule exposto, acima do nível do solo, vindo de rebrotas após roçada, ou provenientes de sementes, e o jato de aplicação deve ser dirigido ao “olho” da interseção foliar, no meristema apical.

Figura 4. Detalhe do direcionamento do jato da calda de triclopir com diesel no “olho” da planta.


Fonte: acervo pessoal do autor

A quantidade de calda a ser aplicada é em função do tamanho da planta a ser tratada, tendo como base a altura das folhas, e da ordem de 15 a 20 ml de calda por planta, por metro de altura de folhas. Assim, uma planta com folhas da ordem de 2 m de altura deve receber de 30 a 50 ml no “olho” da planta. O jato deve ser o mais direcionado possível para essa região.

Essa aplicação normalmente é feita utilizando equipamento costal e para que o jato atinja o alvo desejado, recomenda-se o uso de pontas tipo jato regulável, de modo que apenas um jato único seja produzido. Caso essas pontas não estejam disponíveis na hora da aplicação, esse efeito pode ser reproduzido nas pontas que vem tradicionalmente equipando os aplicadores costais, retirando-se o disco plástico que vem internamente na ponta, o chamado “core”. Essa peça é responsável pela formação do jato borrifado com gotas pequenas e se esse core é retirado forma-se apenas um jato concentrado, o que é desejado nesta aplicação.

O controle efetivo das plantas tratadas acontece de modo bastante rápido, entre 20 e 30 dias a planta estará morta. Com 7 a 10 dias após a aplicação já é possível arrancar as folhas centrais com um leve puxão, e se constata a necrose na base das folhas que estavam em contato com o meristema apical da planta. Um odor pútrido típico também pode ser sentido ao se cheirar a base da folha arrancada.

Na área tratada como um todo, após 30 dias pode-se observar as plantas de pindoba secas, com a forragem já em franca recuperação e sem apresentar qualquer sintoma indesejável.

Figura 5. Área tratada há 30 dias com triclopir no controle de pindobas.


Fonte: acervo pessoal do autor


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