Alcides Torres é engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.
Rodolfo Silber é engenheiro Agrônomo pela FAZU e mestre em Engenharia de Sistemas Agrícolas pela ESALQ/USP. É analista de mercado da Scot Consultoria.
Foto: Envato
Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado, em 6/12/2021
O consumo da carne bovina no Brasil em 2021 foi prejudicado pelo aumento do preço no mercado varejista e por causa da queda do poder de compra da população, comparado aos anos anteriores.
A carne bovina perdeu competitividade frente à carne de suínos, de frango e perdeu também em relação aos ovos.
O aumento do preço da carne foi causado pela elevação do custo com transporte, embalagem, armazenamento e, principalmente, pelo aumento da cotação da arroba do boi gordo.
Após três anos de aumento na quantidade de bovinos abatidos, com pico em 2019, entre 2020 e 2021 os abates caíram. O bom resultado proporcionado pela cria/recria estimulou a retenção de matrizes para a produção de bezerros. Essa retenção determinou a retração dos abates e, consequentemente, a menor produção de carne. A quantidade de bovinos abatidos é a menor desde 2011.
Os dados parciais na comparação feita mês a mês mostram forte queda em setembro, sendo a menor quantidade de bovinos abatidos em nesse mês desde 2003 (IBGE).
A queda no abate de bovinos entre 2020 e 2021 está, portanto, relacionada com o ciclo de preços pecuários, diminuindo a oferta de boiadas para os frigoríficos.
Apesar do quadro de retração do consumo, a expectativa é que a demanda por carne bovina cresça nos próximos anos, em função do aumento da renda per capita em países de renda média (entre eles, o Brasil) e a possível retomada da importação de carne bovina pelos chineses.
Com a expectativa de aumento da produção de soja e milho na safra 2021/22, o custo de produção pode melhorar, porém, deve-se ter atenção ao custo de outros insumos, tais como fertilizantes, defensivos e suplementos minerais e proteicos, que estão com preços elevados.
O investimento que temos assistido na atividade pode elevar o nível tecnológico e a produção. O uso de tecnologias permite respostas mais rápidas da produção de carne bovina, comparadas há 10 anos. Em contrapartida, outras produções como a de suínos e aves, respondem com mais velocidade ao mercado, sendo, portanto, competitivas.
Há 20 anos, 100 vacas ocupavam aproximadamente 250ha produzindo 45 bezerros com aproximadamente 175kg. Atualmente as mesmas 100 vacas ocupam 140ha produzindo 65 bezerros com peso médio de 200kg, reflexo do aumento na produtividade e investimentos em tecnologia (Conab).
A produção de carne bovina em 2022 não deverá surpreender e os custos de produção comparativamente deverão subir em menor ritmo, mas partindo de uma base elevada.
Em função disso, o preço ao consumidor deverá continuar elevado e a disponibilidade interna per capita não deverá evoluir.
A exportação continuará a ser um importante canal de escoamento da produção e deverá continuar assim até que a renda da população melhore.
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