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Scot Consultoria

Carne bovina perde espaço no prato do brasileiro


Segunda-feira, 4 de abril de 2022 - 09h30

Alcides Torres é Engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.

Amanda Skokoff é médica-veterinária pela Universidade de São Paulo - USP, Campus Pirassununga.


Foto: Scot Consultoria


Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado em 28/3/2022.

Com inflação, aumento do custo de produção dos alimentos e insegurança econômica advinda das consequências causadas pela pandemia de covid-19, o poder de compra do consumidor caiu frente à firmeza dos produtos. 

A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) realizada pelo IBGE gera indicadores para monitoramento do comportamento do mercado varejista. 

Entre janeiro de 2021 e janeiro de 2022 as vendas de alimentos, bebidas e fumo em supermercados estiveram pressionadas quando comparadas ao mesmo período no ano anterior (figura 1). 

Figura 1. Índice do volume de vendas em supermercados, para alimentos, bebidas e fumo. Variação acumulada no ano (base: mesmo período do ano anterior).

Fonte: IBGE / Elaboração: Scot Consultoria

E, quando se fala em alimentos, o produto que tem perdido espaço devido ao preço elevado é a carne bovina.

Se olharmos para 2021, a margem do mercado varejista para a comercialização do produto esteve apertada na maior parte do ano (figura 2). 

Somente no final do ano as margens foram recuperadas (com aumento de preços), e estiveram firmes no início de 2022, mas isso tem afetado o consumo doméstico de carne bovina. 

Figura 2. Margem de comercialização (eixo da esquerda) e preço médio (eixo da direita), em R$/kg, para a carne bovina na praça de São Paulo.

Fonte: Scot Consultoria

Consumo aparente de carne bovina 

Sabendo que a fase atual do ciclo pecuário é de retenção de fêmeas e que em 2021 o número de bovinos abatidos foi 7,8% menor que em 2020, a produção de carne diminuiu. 

Com a firmeza do dólar frente ao real favorecendo as relações comerciais com o mercado internacional em 2021, os embarques de carne ajustaram ainda mais a oferta do produto, sustentando as cotações. 

Sabe-se que se a variação do salário de um ano para outro for menor que a variação do indicador inflacionário, o poder de compra do consumidor cai. Assim, o ajuste no salário da população brasileira de 2020 para 2021 em 5,3%, frente a alta de 10,06% no IPCA e a consequente retração no poder de compra do consumidor, contribuiu para a menor demanda pela carne bovina. 

Com poder de compra fragilizado, o consumidor procurou proteínas alternativas, como a carne de suínos, de frango ou ovos. 

Nos últimos três anos o consumo per capita de ovos aumentou 10,9%, saindo de 230 ovos/habitantes/ano em 2019 para 255 em 2021. Para 2022 a expectativa é que esse consumo alcance 262 ovos/habitantes/ano (ABPA). 

Analisando o consumo aparente de carne bovina é possível notar essa retração do consumo frente a demanda firme das proteínas alternativas. 

O consumo aparente pode ser obtido através da relação entre a quantidade de carne produzida, subtraindo a quantidade de carne exportada e somando a quantidade de carne importada. Como resultado dessa conta chega-se à quantidade de carne bovina que fica no mercado interno e, ao dividi-la pela população, se obtém o consumo aparente de carne bovina. 

Com isso, chega-se a uma redução de 4,7% no consumo em 2021 frente ao ano anterior, em que novo recuo já havia sido registrado (tabela 1).

Tabela 1. Produção de carne bovina em milhões de toneladas em equivalente de carcaça, consumo aparente em quilogramas de equivalente de carcaça e variações anuais.

Fonte: IBGE e MDIC / Elaboração: Scot Consultoria

Os preços da carne bovina no mercado varejista ao longo de 2021 subiram 26,3%. Em 2022, até a primeira quinzena de março a alta já estava em 2,7%. 

Considerando alguns dos cortes popularmente consumidos, é notável o impacto dessas altas. De janeiro de 2021 até a primeira quinzena de março de 2022, o coxão mole, por exemplo, subiu 47,8% (figura 3).

Figura 3. Preços de quatros cortes de carne no varejo, em R$/kg, de janeiro 2021 a março de 2022 (eixo da esquerda) e variação no período (eixo da direita).

Fonte: Scot Consultoria

Desse modo, diante de um poder de compra prejudicado, da firmeza na demanda por proteínas de preços mais acessíveis e das altas expressivas do produto, o consumo de carne bovina no mercado interno diminuiu. 

Expectativas para o consumo de carne 

Para 2022, o ajuste salarial foi de 10,2%. Segundo estimativas do Banco Central (18/3), o índice de inflação deve fechar o ano em 6,59%, um cenário mais otimista que no ano anterior. No entanto, as estimativas têm sido desafiadas pela disparada nos preços das commodities diante do conflito entre Rússia e Ucrânia. 

Apesar da expectativa de recuperação econômica, a redução na inflação pode não ser suficiente para melhorar a renda da população, tendo em vista que o nível de desemprego segue elevado. Assim, melhoras significativas no poder de compra não são esperadas.

Também não são esperados recuos nos preços da carne bovina, tendo em vista a oferta ainda comedida de boiadas projetada para este ano. Os preços ao consumidor devem seguir sustentados no mercado doméstico. 

O cenário é de custos de produção elevados pressionando indústrias e varejistas e, por outro lado, consumidores com poder de compra enfraquecido buscando por produtos mais acessíveis. Cenário que deve perdurar e afetar as vendas da carne bovina.


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