Felipe Fabbri é zootecnista, mestre em Nutrição e Alimentação de Monogástricos pela Unesp de Jaboticabal e analista de mercado da Scot Consultoria.
Rodrigo Silva é médico-veterinário pela FZEA/USP e analista de mercado da Scot Consultoria.
Foto: Shutterstock
São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo são responsáveis por 29,6%, 10,5% e 9,2% da produção brasileira de ovos, respectivamente. O Brasil é o sexto produtor mundial de ovos, tendo produzido 48,15 bilhões de ovos em 2021 (IBGE).
A produção brasileira cresceu 4,5% ao ano de 2010 a 2021.
O consumo per capita brasileiro também aumentou, com forte incremento nos últimos anos, em função da pandemia, atingindo 257 unidades em 2021, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Entre 2010 e 2021, o consumo médio anual de ovos cresceu 5,2%. Acompanhe na figura 1.
Figura 1.
Produção brasileira, em bilhões de ovos, no eixo da esquerda, e consumo per capita, em unidade de ovo por ano, no eixo da direita.
* estimativa realizada pela Scot Consultoria.
Fonte: IBGE e ABPA / Elaborado por Scot Consultoria.
Perceba que o consumo de ovos cresceu a uma taxa maior que a produção nos últimos dez anos.
Cerca de 70% do custo de produção na avicultura de postura é a alimentação (Embrapa).
A dieta de aves de postura é composta, em grande parte, por milho e farelo de soja. Em função disso, estes dois alimentos pesam no custo da produção.
Estima-se que cerca de 80% da ração é composta por esses dois componentes e que 56% do custo de produção esteja ligado às oscilações dos preços do milho e do farelo de soja.
Nos últimos anos, os preços do milho e do farelo de soja, em função de quebras de produção e, consequentemente, menor oferta, subiram.
Em função do menor poder de compra do brasileiro ao longo de 2021, assistimos a uma substituição do consumo de proteínas, caindo, por exemplo, o consumo de carne bovina e subindo o consumo de ovos. Com esse estímulo, a produção cresceu e os preços aumentaram.
Em 2022, o quadro tem sido semelhante, com expectativa de manutenção da produção vigente, com uma demanda firme.
Nesse contexto, os preços atingiram a maior referência em termos nominais (figura 2).
Figura 2.
Preço nominal e real (deflacionado pelo IGP-DI), em R$/caixa com trinta dúzias de ovos, nas granjas em São Paulo.
Fonte: Scot Consultoria
Com o forte incremento nos preços dos ovos e com a cotação dos insumos mais “controlados”, a relação de troca para o avicultor de postura melhorou em 2022.
Acompanhe na figura 3 o comportamento da relação de troca com os insumos.
Figura 3.
Caixas com trinta dúzias de ovos necessárias para a compra de uma tonelada de farelo de soja (em azul) e de milho (em laranja), de 2010 até 2022, em São Paulo.
*até outubro
Fonte: Scot Consultoria.
Apesar da melhora no poder de compra do avicultor, a relação de troca com os principais insumos continuam historicamente elevados, o que tem pressionado as margens da atividade.
Para o próximo ano, a expectativa é que a oferta seja ajustada ao consumo e esse quadro deverá ditar os preços. Assim, é esperado que não haja fortes quedas nos preços dos ovos ao avicultor.
O poder de compra do brasileiro ainda deverá seguir impactado pelas consequências econômicas causadas pela pandemia, mantendo o elevado consumo de ovos.
No final de 2022 e primeiro trimestre de 2023, sazonalmente há uma demanda mais fraca por ovos e poderemos ver preços mais frouxos.
Atenção, porém, à expectativa de preços mais frouxos para a carne bovina no próximo ano, que, se refletir no mercado varejista, poderá influenciar também os preços das carnes de frango e suína e dos ovos.
Com relação aos insumos, a expectativa é de menor pressão sobre os preços, com possível incremento na oferta de milho e de soja no Brasil. Atenção, porém, ao mercado do milho, que, por conta de fatores externos, deverá trabalhar firme.
No mercado de soja em grão, a expectativa é de uma safra recorde na safra 2022/23 brasileira e tendência da exportação se estabilizando, aumentando a oferta da oleaginosa resultando em queda no preço do farelo de soja.
Atenção, é claro, ao clima, que poderá mudar as expectativas de produção previstas – no Brasil e países vizinhos – e elevar as cotações.
No mercado de milho, a expectativa também é de recorde e crescimento na oferta do cereal no mercado brasileiro.
Mas, atenção ao cenário em que importantes exportadores do grão no mundo devem trabalhar com menor oferta em 2023, caso de Ucrânia e Estados Unidos.
O Brasil poderá aumentar a exportação, minguando a possibilidade de preços mais frouxos no próximo ano.
Assim, a expectativa é de que o avicultor de postura trabalhe com uma relação de troca com o milho apertada, em 2023, já para o farelo de soja, se confirmado o cenário, o poder de compra deverá ser melhor.
Referências
Associação Brasileira de Proteína Animal, ABPA
Central de Inteligência de Aves e Suínos, CIAS
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE
Scot Consultoria
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