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Scot Consultoria

Quando o herbicida foliar pode dar o melhor retorno do investimento?


Sexta-feira, 9 de dezembro de 2022 - 16h00

Engenheiro agrônomo e mestre em solos e nutrição de plantas pela ESALQ-USP. Com atuação profissional desde 1985 em pesquisa e desenvolvimento em sistemas de produção agrícola em empresas nacionais e multinacionais, trabalhou por 24 anos na geração dos principais herbicidas para pastagens hoje no mercado. Atualmente, é consultor independente, fundador da NTC ConsultAgro, focado no manejo da vegetação em pastagens, reflorestamentos e áreas não agrícolas.


Foto: Shutterstock


Na regular alternância climática ao longo do ano, enfrentamos, em nosso clima tropical, períodos secos, muito caraterísticos nos meses de outono e inverno, exceção da região Sul do país que possui invernos chuvosos, seguido de um período de temperaturas e precipitações pluviométricas maiores e mais horas de luz durante o dia.

Estas duas épocas distintas exercem importantes mudanças na fisiologia das plantas perenes, sejam elas as plantas daninhas que queremos combater, como as plantas forrageiras, de nosso interesse comercial.

Saber o que ocorre em cada uma destas épocas é capital para o entendimento da dinâmica das plantas, adequando estrategicamente o uso dos herbicidas para o controle das plantas daninhas, maximizando o retorno do capital investido com estes insumos, através do maior retorno em produtividade da pastagem, em função do melhor momento da aplicação.

Neste texto retrataremos estes aspectos para que o pecuarista possa extrair maiores benefícios com o uso dos herbicidas foliares.

Alterações fisiológicas das plantas

A época de seca e baixas temperaturas limitam o desenvolvimento das plantas, que modificam suas estruturas para atravessar esse período de restrições. Nas plantas daninhas, as folhas caem, ou secam, dependendo da espécie; em outras, têm seu número e o tamanho reduzidos, ocorrendo ainda o espessamento de sua cutícula. O sistema radicular também diminui a atividade e desenvolvimento. O fluxo de seiva da raiz para as folhas e das folhas para as raízes fica, também, bastante limitado.

Todas essas alterações objetivam a preservação da vida dos vegetais, diminuindo seu metabolismo para minimizar os gastos de energia e a consequente perda de água para o ambiente, por evapotranspiração.

No período quente e chuvoso, as plantas revertem totalmente esse quadro, emitindo brotações novas, com alta movimentação de seiva tanto ascendente como descendente. As folhas ficam mais receptivas aos herbicidas foliares, fazendo com que sua penetração e translocação pela planta fiquem facilitadas, levando a uma melhor performance desses produtos em seu controle.

Quanto às plantas forrageiras, observamos seu intenso rebrote, proporcionando menor número de dias entre ciclos de pastejo.

A janela de aplicação

Como mencionado, as alterações fisiológicas das plantas, em função do clima, ocorrem tanto nas plantas daninhas como nas forrageiras. Do ponto de vista das plantas daninhas, a janela de aplicação para seu controle é relativamente ampla, iniciando-se após algumas semanas das primeiras chuvas, em setembro/outubro, em algumas regiões, ou até novembro/dezembro, em outras, nas quais o reinício das chuvas é mais tardio, indo até o início do outono, em março, ou até abril. Ou seja, respeitadas as condições climáticas de cada momento de aplicação, caso a caso, existe uma janela de aplicação foliar de até seis meses. Entretanto, considerando a planta forrageira, essa janela é muito mais restrita, como discutiremos a seguir.

A estacionalidade da produção forrageira

A pastagem possui um claro ciclo de produtividade diretamente ligado às condições climáticas, denominada estacionalidade da produção forrageira, descrita em inúmeros estudos, como apresentado por Corrêa & Santos (2003), em uma pastagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu, adubada durante as águas e manejada intensivamente sob pastejo rotacionado, sem irrigação (figura 1).

Figura 1.
Produtividade de uma pastagem em função das condições climáticas.

Fonte: Corrêa e Santos, 2003

Constata-se uma elevação na produtividade da pastagem a partir de novembro, declinando drasticamente a partir de abril. Associando-se as informações contidas nesse gráfico com uma pastagem livre de plantas daninhas, apta a expressar toda sua potencialidade produtiva, fica fácil definir quando se deve intervir no combate das plantas daninhas: logo no início das águas, quando, na sequência, a planta forrageira terá ao seu dispor as condições ambientais favoráveis, sem sofrer as limitações impostas pela mato-competição quanto aos fatores de produção vegetal: água, luz, nutrientes e, principalmente, espaço.

Em sentido inverso, considerando uma aplicação foliar para combate das plantas daninhas mais tardia, entre março e abril, a magnitude de retorno obtido na produção de forragem poderia ser estimada como praticamente nula.

Ressaltamos também da importância para que a pastagem se recupere antes que a rotina de ciclos de pastejo seja implementada. Caso o pecuarista libere os animais antes da recuperação adequada do capim, há um grande risco de que a pastagem não consiga cobrir o solo novamente, surgindo áreas de solo aparente e criando as condições para que novas infestações se estabeleçam, comprometendo todo trabalho realizado.

Além do maior retorno em produtividade da pastagem, o controle precoce é, na grande maioria dos casos, mais econômico do que se for realizado quando as plantas daninhas estiverem mais desenvolvidas, ou em fim de ciclo. Ademais, com menores doses necessárias de herbicidas, o tratamento foliar é comparativamente menos injuriante para a pastagem.

nto e queda da taxa de acúmulo a partir de agosto, podemos observar, mais claramente, a época ideal de aplicação foliar de herbicidas, época essa que antecede ao maior diferencial de acúmulo de produção forrageira do período.

Figura 2.
Taxa de acúmulo de produção forrageira ao longo dos meses.

Fonte: Corrêa e Santos, 2003

Considerando a região da Zona da Mata do Nordeste brasileiro, na qual as chuvas iniciam-se entre maio e junho, deve-se defasar a interpretação deste gráfico em seis meses, ou seja, a época ideal de aplicação recai sobre esses meses.

Visto quando controlar as plantas daninhas e realizar a aplicação de herbicidas nas pastagens, cabe a advertência de que esta operação ocorra no menor espaço de tempo possível, para que a área a ser tratada esteja em condições próximas do ideal, do início ao fim do processo, tanto visando à efetividade de controle como também à resposta, em produtividade, do capim.

Quando se elegem áreas para aplicação de herbicidas, sabe-se que decorrerá um período até a conclusão da operação e as plantas daninhas, muitas vezes, podem mudar sua susceptibilidade ao tratamento, caso esse período de estenda muito. Definida uma recomendação de tratamento, essa prescrição é válida para aquela condição analisada. Algumas vezes, poucas semanas bastam para que a recomendação de um mesmo produto mude para o controle de determinados alvos e, ainda, se poderá perder a melhor janela de resposta em produtividade da forrageira.

Concluindo

Em resumo, a melhor estratégia é antecipar ao máximo a tomada de decisão sobre a aplicação de herbicidas em uma pastagem, com a identificação da espécie predominante e seu grau de infestação, o que determinará a recomendação agronômica de tratamento; a avaliação das condições da pastagem, que definirá o tempo necessário de repouso, e outras práticas acessórias, como necessidade de calcário e fertilizantes para sua total recuperação. E, finalmente, proceder a aplicação o mais antecipadamente possível em relação ao início das chuvas, no menor tempo possível entre início e fim da operação, objetivando o máximo retorno possível em produção de capim.

Mais informações

Estas e outras informações estão ainda mais detalhadas em nosso livro “Plantas daninhas em pastagens: biologia, manejo e controle” lançado em dezembro de 2021, e que pode ser adquirido em nosso site: www.ntcconsultagro.com.br.

Referência Bibliográfica

CORRÊA, L. A. & SANTOS, P. M. - Manejo e utilização de plantas forrageiras dos gêneros Panicum, Brachiaria e Cynodon. Embrapa Pecuária Sudeste. Documentos 34. 36p. São Carlos, 2003.


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