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Scot Consultoria

O bife, o queijo e os produtos fake


Segunda-feira, 26 de dezembro de 2022 - 11h00

Alcides Torres é engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.

Jéssica Olivier é engenheira agrônoma, formada pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo. É analista de mercado da Scot Consultoria. Pesquisadora de mercado nas áreas de boi, leite e grãos.


Foto: Bela Magrela


Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado, em 19/12/2022.

Carne, leite, ovos, são fontes básicas de proteína para o ser humano e melhor: têm alto valor biológico. Tal valor é medido de acordo com a absorção e retenção pelo corpo humano das proteínas presentes no alimento e o perfil de aminoácidos que compõem a proteína.

Aminoácidos essenciais, aqueles não produzidos pelo corpo humano, estão em grande quantidade nas proteínas de origem animal, por isso a importância desses alimentos.

Mas o que é carne?

Carne são os tecidos comestíveis dos “animais de açougue”, englobando músculos (com ou sem osso), gorduras e vísceras, podendo ser in natura ou processados (industrializados, salgados).

Carnes vermelhas são as de bovinos, búfalos, ovinos, caprinos, suínos, equídeos e coelhos. As carnes brancas são as de aves e peixes.

E o que é leite?

O leite é um líquido fisiológico branco, opaco, secretado pelas glândulas mamárias das fêmeas dos mamíferos. O leite é de bovino, bubalino, caprino, entre outros. A lista é longa.

Tendo em vista tais definições, qual a denominação correta para os alimentos à base de vegetais?

Certamente não são carne e muito menos leite!

Projeto de lei

O projeto de lei no. 10.556/2018 apresentado em 10/7/2018, pela ex-ministra da agricultura, Tereza Cristina, à época deputada federal pelo Mato Grosso do Sul, teve o intuito de proibir a denominação “leite” para alimentos que não tenham como base leite de origem animal.

Palavras como cremes, condensados e queijos também devem ser empregadas para produtos de origem animal, produtos lácteos, originados de leite.

E por que isso?

Para não enganar o consumidor, fazendo-o acreditar que produtos de origem vegetal tenham as mesmas qualidades dos produtos de origem animal. Que sejam a mesma coisa.

Ações similares já acontecem no mundo – algumas aprovadas – o projeto de lei 316 no Texas (EUA), a regulamentação europeia 1.308//13 e, recentemente, o projeto de lei no. 273/2022, em São Paulo.

Alimentação saudável?

Os produtos vegetais travestidos de produtos animais, produtos fake portanto, são lançados com o objetivo de extinguir o consumo de carne e de leite, por exemplo.

E por que isso?

As justificativas apresentadas são a salvação do meio ambiente, o consumo politicamente correto e a de que são mais, comparativamente, saudáveis.

Mas as opções “vegetarianas” ou, até mesmo, “veganas” são mais saudáveis?

Em uma caixa de leite UHT os componentes encontrados são: leite e estabilizantes (citrato de sódio, trifosfato de sódio, monofosfato de sódio e difosfato de sódio).

Em uma caixa de alimento à base de soja UHT encontra-se água, extrato de soja, açúcar, fosfato tricálcico, cloreto de sódio, estabilizantes (carragena, carboximetilcelulose e citrato de sódio) e aromatizantes.

Uma garrafa de leite A pasteurizado possui, em sua composição, apenas leite, não é impressionante?

Mudanças?

A informação sobre os alimentos não pode e não deve confundir o consumidor, elas devem ser esclarecedoras.

Produtos à base de vegetais, naturalmente, podem existir é claro, compor com as proteínas animais. Chamar um bolinho vegetal de hambúrguer e suco de soja de leite tem o fim de confundir.

Nichos de mercado estão presentes na ponta consumidora, basta saber qual nicho o produtor quer suprir e quais adequações deverão ser feitas no processo produtivo.

A melhor remuneração dos produtos “não commodity” é, por fim, um fator levado em consideração, uma vez que o preço é determinante na direção que o produtor toma.

Dinheiro move o mundo e o capitalismo é selvagem. Alguém já disse isso.

Referências Bibliográficas

Assessoria Fernando Cury. Deputado protocola Projeto de lei que proíbe chamar de carne produto sem proteína animal. 2022. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=438028. Acesso em: 14 dez. 2022.

CRISTINA, Tereza. PL 10556/2018. 2018. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2181415. Acesso em: 13 dez. 2022.

Embrapa Gado de Corte. A carne como alimento: conhecendo a carne que você consome. Conhecendo a carne que você consome. Disponível em: https://old.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/doc77/02carnealimento.html. Acesso em: 13 dez. 2022.

Gazeta do povo. Rótulos como ‘carne vegetal’ e ‘leite de soja’ podem ser proibidos no País. 2019. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/expressoes-como-carne-vegetal-e-leite-de-soja-podem-ser-proibidas-no-pais/. Acesso em: 12 Não é um mês valido! 2022.

SOUZA, Murilo. Projeto proíbe o uso da palavra leite em produtos de origem vegetal. 2018. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/542596-projeto-proibe-o-uso-da-palavra-leite-em-produtos-de-origem-vegetal/. Acesso em: 13 dez. 2022.


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