Alcides Torres é engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.
Eduardo Abe é zootecnista pela Faculdades Associadas de Uberaba - FAZU. É analista de mercado da Scot Consultoria.
Isabella Cavalcante é analista de mercado da Scot Consultoria.
Foto: Bela Magrela
Com o aumento da exigência por sistemas sustentáveis de produção, que buscam a menor interferência possível no ambiente e melhor aproveitamento dos recursos, novos usos para os produtos bovinos foram desenvolvidos.
O desempenho econômico também é otimizado com as boas prática de produção, com o aproveitamento racional dos coprodutos do abate de bovinos. A comercialização dos coprodutos exerce papel importante na composição da receita.
Praticamente todos os produtos do abate são aproveitados. Os coprodutos originados são utilizados em 49 segmentos industriais, divididos em comestíveis e não comestíveis.
Escolhemos quatro dos principais produtos, que comercializados, não são descartados como poluidores e que melhoram o faturamento.
Aproximadamente 10% do peso do bovino corresponde à pele que, após preparo recebe as seguintes denominações:
• Couro verde: refere-se ao produto sem processo de curtimento. É vendido aos curtumes;
• Couro salgado: couro verde que passa pelo processo de salgamento para conservação, por período de tempo mais longo, antes do curtimento;
• Wet blue: resultado do couro verde (in natura) ou salgado curtido no cromo, para preservação e resistência. Esse tipo de couro tem como característica a cor azulada e ser úmido;
• Crust ou semi-acabado: resultado do recurtimento do couro wet blue que, através de novos processos, permite diversas possibilidades de cores, textura e espessura;
• Acabado: couro pronto que passou por tratamentos que o protegem da deterioração e melhoram a maciez e flexibilidade.
O couro acabado é a matéria-prima de diversos produtos, entre eles calçados, bolsas, estofados (residenciais e de veículos), materiais esportivos e artigos de luxo (roupas, relógios etc.).
Da pele do bovino também se extrai colágeno, consumida na produção de gelatina, chicletes, cosméticos, cola etc.
Figura 1.
Evolução do preço do couro bovino primeira linha no Brasil Central, em R$/kg, desde janeiro de 2022.
Fonte: Scot Consultoria
Os despojos, do dicionário é “tudo aquilo que sobra”, são produtos comestíveis ou não.
Devido ao seu elevado risco de transmissão de doenças e de contaminação ambiental, existe a necessidade de remoção de forma rápida e eficiente, com logística específica e processamento rápido.
O processamento do despojo é realizado em graxarias ou recicladoras. Alguns frigoríficos possuem graxaria e realizam a separação dos óleos/gorduras e farinhas.
As graxarias independentes, também conhecidas como recicladoras, compram o despojo de frigoríficos que não possuem graxaria e realizam esse processo de separação destinando os produtos para as indústrias de higiene e limpeza e biodiesel, no caso do sebo bovino, ou para fábricas de ração, no caso das farinhas.
O sebo bovino tem se destacado para compor a produção de biodiesel e para a produção de produtos de higiene e limpeza.
Na produção de biodiesel é a segunda matéria-prima mais utilizada no Brasil, a primeira é o óleo de soja. A participação varia ao longo do ano, mas, em média, 13% do biodiesel é produzido com sebo bovino.
Na indústria de higiene e limpeza, o sebo bovino é ingrediente essencial da pasta base para a produção de detergentes e sabões.
Outros setores, como o de beleza e cosméticos, utiliza o sebo para a produção de maquiagens, cremes e loções.
Em 2023, a participação do biodiesel ao diesel deverá passar de 10% para 15%, o que deve aumentar a procura pelo sebo bovino.
Figura 2.
Evolução do preço do sebo bovino no Brasil Central, em R$/kg, desde janeiro de 2022.
Fonte: Scot Consultoria
A farinha de carne e ossos é produzida a partir de ossos, carne, aparas e vísceras, que passam por processo de cozimento, cujo material resultante é seco e triturado.
Por ser rico em proteína, cálcio, fósforo e gordura, é utilizado na formulação de rações para animais monogástricos. Entre as principais vantagens na utilização da farinha de carne e ossos estão:
• Não possui fatores antinutricionais ou alergênicos, podendo ser utilizada na formulação de ração para diversas espécies animais;
• Contém alta concentração de nutrientes com elevada digestibilidade;
• Apresenta alta palatabilidade, com sabor, odor e textura agradáveis.
Figura 3.
Evolução do preço da farinha de carne e ossos, em R$/kg, desde janeiro de 2022.
Fonte: Scot Consultoria
Ao aproveitar praticamente tudo que é produzido no abate dos bovinos, a pecuária é naturalmente uma atividade sustentável e economicamente viável.