Alcides Torres é engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.
Marina Mioto é zootecnista, formada pela Faculdade de Ciências Agrária e Veterinárias - Unesp, campus de Jaboticabal, mestre em Produção Animal Sustentável pelo Instituto de Zootecnia e analista de mercado da Scot Consultoria.
Foto: Bela Magrela
Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado, em 13/3/23.
A cadeia produtiva da carne bovina engloba diversos segmentos tais como, produtores, indústrias de insumos (genética, sanidade, nutrição etc.), frigoríficos - atacadistas e, olhando para a ponta final, o varejista.
A margem de comercialização no mercado varejista é maior quando comparada ao mercado atacadista. Lembrando que margem não é lucro, visto que não considera os custos de produção e apenas se comparam os preços de compra e de venda.
Acompanhar o ciclo de preços pecuários e o rendimento absoluto dos bovinos, bem como as margens obtidas pelo varejo e o atacado, é essencial para compreender a dinâmica da cotação do boi gordo e comercialização da carne bovina.
A Scot Consultoria calcula índices da relação entre o preço pago pelo bovino frente ao valor da venda da carne e coprodutos.
O Equivalente Scot Desossa é um indicador obtido da relação entre o que é pago pela arroba do boi gordo e o preço da venda da carne sem osso, couro, sebo, miúdos e derivados.
Entre 2010 e 2018, a margem no mercado atacadista da carne sem osso esteve acima da média (18%), com queda pontual em 2016 (figura 1).
Figura 1.
Margem de comercialização da carne sem osso no mercado atacadista e a média nos últimos 13 anos, em São Paulo.
Fonte: Scot Consultoria
A partir de 2019, com a virada no ciclo de preços pecuários, provocado pela de retenção de fêmeas, as margens caíram, atingindo o ponto mais crítico em 2020 e 2021, cuja queda foi de 11,40 e 10,92 pontos percentuais respectivamente, em relação à média para o período.
Com a retenção de fêmeas e, consequentemente, queda na oferta de bovinos, a cotação da arroba do boi gordo subiu.
Em 2022, o quadro mudou com a maior oferta de gado (descarte de matrizes). A margem aumentou 60%, ou 4,24 pontos percentuais frente a 2021. A melhora, apesar de estar abaixo da média, ocorreu devido à queda na cotação da arroba do boi gordo.
Nos últimos 13 anos, a média de preços no mercado varejista, com relação aos preços vigentes no mercado atacadista de carne sem osso, foi de 61,8% (figura 2).
Figura 2.
Margem de comercialização da carne sem osso e a média nos últimos 13 anos no mercado varejista, em São Paulo.
Fonte: Scot Consultoria
A margem caiu desde 2018 e o pior patamar foi em 2021 (34,9%).
Em 2022, a pergunta recorrente foi: o preço do boi caiu, mas o preço da carne não, por quê? Não caiu, pois, ao que tudo indica o mercado varejista aproveitou a queda do preço da carne no mercado atacadista para recuperar a margem perdida nos anos anteriores.
No último ano, a demanda por carne bovina aumentou (mercado externo e interno), devido às campanhas eleitorais, queda na taxa de desemprego e pagamento de auxílios à população.
Atrelado a esses fatores, não houve repasse do recuo da cotação da arroba do boi gordo e do preço no mercado atacadista pelo varejo. O que houve foi a realização de promoções pontuais para o escoamento da carne bovina, sem fortes impactos nas margens.
Assim, a margem do mercado varejista subiu 22,7 pontos percentuais na comparação feita ano a ano, aproximando-se, novamente, do nível histórico.
Bibliografia consultada
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