Engenheiro agrônomo e mestre em solos e nutrição de plantas pela ESALQ-USP. Com atuação profissional desde 1985 em pesquisa e desenvolvimento em sistemas de produção agrícola em empresas nacionais e multinacionais, trabalhou por 24 anos na geração dos principais herbicidas para pastagens hoje no mercado. Atualmente, é consultor independente, fundador da NTC ConsultAgro, focado no manejo da vegetação em pastagens, reflorestamentos e áreas não agrícolas.
Foto: Neivaldo Tunes Cáceres
Em 8/6, o Centro de Previsão Climática da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) confirmou a ocorrência do fenômeno El Niño que é caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico na região da Linha do Equador. Esse fenômeno influi no clima, não só do Brasil, mas de diversas regiões do planeta, impactando, por exemplo, na temporada de furacões no Atlântico, com grande efeito sobre o Caribe e a Costa Leste e Centro dos Estados Unidos, e de ciclones no Pacífico.
Os meteorologistas apontam que o El Niño deste ano se formou pelo menos um mês antes do usual, o que dá ao fenômeno um pouco mais de tempo para seu desenvolvimento, com chances de atingir proporções acima das médias observadas em ocorrências anteriores e, por consequência, com impactos maiores nas zonas atingidas.
Uma vez instalado, os efeitos do El Niño podem permanecer por dois anos ou mais. As três últimas ocorrências foram registradas nos anos 1982/83, 1997/98 e o último em 2015/16.
Os efeitos do El Niño, no Brasil, são historicamente reportados pelo aumento dos riscos de seca e temperaturas mais elevadas nas regiões Norte e Nordeste e trazem grandes volumes de chuva no Sul do país. Além disso, são observadas irregularidades nas chuvas da região Centro-Oeste, também com aumento das temperaturas na região Sudeste.
Creio que, neste momento, muitos leitores podem estar fazendo esta pergunta e a resposta é muito simples: as plantas daninhas, como qualquer vegetal, são impactadas pelas condições climáticas reinantes. Particularmente as espécies perenes, de grande importância nas pastagens, que estão ali estabelecidas por anos, senão décadas, têm seu ciclo anual basicamente definido pela estação das chuvas, logicamente associado à temperatura.
Assim, é de se esperar que as chuvas se restabeleçam após a seca de inverno com atraso, numa importante área explorada pela pecuária, que compreende as regiões Sudeste e Centro-Oeste, com algum reflexo ainda no Sul do Pará, Maranhão e Tocantins. Locais, onde as chuvas normalmente se restabelecem pelos meses de setembro/outubro, poderão ver isto ocorrer mais para o final do ano, entre novembro e dezembro, ressaltando um longo período precedido por altas temperaturas, como mencionado anteriormente.
Falando especificamente nas plantas daninhas das pastagens, quando usualmente se programam aplicações foliares para meados da primavera e início do verão, há grande possibilidade que estas tenham que ser postergadas no calendário, uma vez que as plantas daninhas retardarão seu ciclo, apresentando melhores condições vegetativas, mais susceptíveis portanto aos herbicidas foliares, posterior ao historicamente observado.
Por outro lado, se o clima seco e quente se estende por mais tempo, impedindo o início das aplicações foliares, continua a oportunidade para a realização dos tratamentos no toco e basal das espécies lenhosas, arbustivas e arbóreas.
Em algumas oportunidades, nos aprofundamos sobre estas modalidades de aplicação neste canal de comunicação e uma rápida busca pode relembrar o tema para quem já teve acesso, ou a oportunidade de um primeiro contato para os recém-chegados. Mais especificamente, em nossos artigos editados em junho/2020 e abril/2022, detalhamos estas práticas de campo.
As modalidades de controle de plantas daninhas lenhosas, via toco e basal, são caracterizadas pela alta demanda de mão-de-obra qualificada para sua realização, o que onera e dificulta essas práticas, entretanto lembramos que, quando bem realizadas, são de grande eficiência sobre as plantas de mais difícil controle, em alguns casos são as únicas alternativas para eliminá-las das pastagens infestadas e diante do exposto, do ponto de vista climático, essa janela de aplicação para estas modalidades poderá ser estendida, em detrimento do possível atraso no início das aplicações foliares.
Todas estas previsões se baseiam em modelos matemáticos e estatísticos, que vão sendo refinadas com o passar do tempo. Elas nos dão um Norte, com algum grau de confiabilidade, dados os grandes avanços nas ferramentas da meteorologia, como as estações climáticas terrestres e acompanhamento pelos satélites, cada vez em maior número e com maior acurácia, que nos possibilitam antecipar ações e minimizar o impacto de condições adversas em atividades totalmente susceptíveis ao clima, como a agricultura e a pecuária.
Cabe aos técnicos e administradores do setor se cercarem do maior volume de informações possíveis para que suas decisões sejam as mais assertivas, ficando aqui nossa torcida para que essa seja a tônica para os meses adiante.
No livro “Plantas daninhas em pastagens: biologia, manejo e controle”, que lançamos no final de 2021, discutimos de forma detalhada o tema dos herbicidas, plantas daninhas e suas interações com a pecuária, através de linguagem técnica, mas aplicada à realidade prática da fazenda. Sugerimos a consulta no sítio para maiores informações.
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