Estação de monta: importância para o planejamento de longo prazo

A temporada das águas, em grande parte do território brasileiro, começa em meados de setembro a início de outubro, quando são maiores os índices pluviométricos, a luminosidade e o calor, fatores importantes para maior disponibilidade e melhor qualidade da forragem.

A adoção da estação de monta (EM) acontece durante esse período em grande parte das fazendas. A quantidade e qualidade das pastagens são essenciais para uma boa condição corporal das fêmeas, permitindo que expressem o máximo desempenho, em especial, o potencial reprodutivo.

A estação ou período de monta tem por fim incrementar a eficiência reprodutiva na pecuária, onde as fêmeas aptas à reprodução são expostas ao touro ou à inseminação artificial durante um período determinado.

Para vacas adultas, a estação de monta se estende por 60 a 90 dias e para as novilhas, o período não ultrapassa 45 dias e, o início e o final são antecipados em pelo menos 30 dias em relação ao período das vacas.

A estação de monta proporciona melhores taxas de fertilidade e de viabilidade das progênies. As estratégias de acasalamento utilizadas na EM racionaliza o planejamento dos manejos posteriores da fazenda.

Os acasalamentos podem ser através da monta natural (MN), inseminação artificial convencional (IA), inseminação artificial em tempo fixo (IATF), transferência de embrião (TE) ou produção in vitro de embriões (PIVE). Os custos e os benefícios são os fatores de decisão de qual procedimento escolher.

O primeiro benefício da adoção desta prática é conhecer a situação reprodutiva do rebanho, permitindo o descarte de matrizes que não emprenharam na estação de monta.

O descarte de fêmeas improdutivas é uma das melhores formas de ter um rebanho de máximo desempenho produtivo e reprodutivo, além disso, o descarte programado das fêmeas vazias, ao final da estação de monta, geralmente acontece entre abril e junho, proporcionando alívio da pressão de pastejo durante a época de seca, permitindo uma maior disponibilidade de forragem para as fêmeas prenhes durante o final do período gestacional.

Os benefícios do estabelecimento de um período restrito para a reprodução proporcionam também a concentração de nascimento nas melhores épocas do ano (agosto a outubro), em que há baixa incidência de doenças, como pneumonias, diarreias e infestações de endo e ectoparasitas (carrapatos, bernes, moscas e vermes).

Ademais, o manejo do rebanho é facilitado desde os cuidados neonatais até as práticas de vacinações, vermifugações, descornas, marcação, recria, castração, engorda e o planejamento da comercialização, com a uniformização dos lotes.

1. Relevância da estação de monta para a fase de cria

O objetivo primordial da fase de cria é a máxima produção animal para abastecer o mercado interno e externo e, para que isso aconteça, é necessária a produção de um bezerro saudável por ano de cada vaca do rebanho, dessa forma, a estação de monta faz-se necessária para a máxima eficiência reprodutiva do rebanho.

Portanto, a estação de monta está contida na fase de cria no sistema de produção da pecuária de corte.

Para que se alcance bons índices nas fazendas, o ideal é que a concepção aconteça logo no início da EM, dessa forma, há a concentração de nascimentos logo no início da estação de parição, com maior percentual de produção do bezerro do “cedo”, progênies que apresentam melhor desempenho frente aqueles nascidos tardiamente, principalmente em relação ao peso à desmama, valorizando o preço desses bovinos e contribuindo com o ganho de peso na recria (figura 1).

Figura 1.
Calendário de estação de monta e oferta de forragem no Brasil-Central.
Fonte: Scot Consultoria

Os benefícios da EM não englobam apenas as progênies, mas também as matrizes. As fêmeas que parem no início da estação de parição têm mais tempo para se recuperar no pós-parto (involução uterina e retomada da ciclicidade ovariana) e entrarão na EM seguinte ciclando novamente, favorecendo o estabelecimento de nova prenhez e a obtenção do objetivo primordial da cria de produzir um bezerro por vaca por ano (1 bezerro/vaca/ano).

O conhecimento dos indicadores zootécnicos do próprio rebanho (taxa de prenhez, de natalidade, de desmama, de descarte etc.) é útil para que o pecuarista possa estabelecer metas e traçar estratégias para garantir os melhores retornos financeiros, ou até verificar onde estão os entraves para o sucesso do negócio.

2. Tentando mitigar as incertezas

A oferta de bezerros influi na dinâmica do ciclo pecuário de preços (figura 2).

Figura 2.
Ciclo pecuário.

Fonte: Scot Consultoria

Em 2022 e 2023, houve um aumento na oferta de bezerros, reflexo da retenção de matrizes em 2020 e 2021, que diminuiu a atratividade da atividade de cria e levou ao descarte de fêmeas.

Com o aumento no abate de fêmeas em 2023 e desestímulo à cria em função dos preços baixos, a estação de monta de 2023 refletirá na oferta de bezerros em 2025.

Com menos fêmeas no rebanho (maior abate), espera-se uma produção e oferta de bezerros, menor em 2025, o que deverá dar início à nova fase de alta no ciclo pecuário de preços e a expectativa de preços maiores para as categorias jovens (tabela 1).

Tabela 1.
Planejamento da estação de monta 2023.
Fonte: Scot Consultoria

A estação de monta permite melhores decisões, como um controle eficiente da técnica de acasalamento, facilitando a execução do programa de melhoramento genético, bem como o planejamento das vendas, devido à organização dos lotes por contemporaneidade.

Apesar de simples, a estação de monta requer racionalidade e gestão para que todos os frutos da prática possam ser colhidos. Além disso, só se é possível o máximo retorno financeiro se todos os elos da produção animal (sanidade, nutrição, melhoramento genético, reprodução, ambiente) estiverem em harmonia.