Alcides Torres é engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.
Felipe Fabbri é zootecnista, mestre em Nutrição e Alimentação de Monogástricos pela Unesp de Jaboticabal e analista de mercado da Scot Consultoria.
Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado.
O Brasil produziu 7,5 bilhões de litros de biocombustível em 2023, crescimento de 17,4% no comparativo anual.
O óleo de soja é a principal matéria-prima destinada à produção do biodiesel, tendo representado 69,2% das matérias-primas utilizadas em 2023. Na sequência, as gorduras animais, com 8,4% de participação.
Dentre as gorduras animais, o sebo bovino é a principal matéria-prima utilizada, representando 69,3% das gorduras animais utilizadas.
Em 2023, a participação do biodiesel na mistura do óleo diesel era de 12,0% (B12). Mas, há no setor a mobilização para aumento do teor de participação nos próximos anos.
Para 2024, a partir de março, o teor passou para 14,0% (B14) e espera-se para 2025 que o teor passe para 15,0% (B15), com projetos que preveem o aumento até o teor de 20,0% até 2030.
Estimamos que 23,9 milhões de toneladas de soja foram demandadas pelo setor de biodiesel em 2023, para a produção de 7,5 milhões de metros cúbicos de biocombustível.
Para 2024, com o aumento de 2 pontos percentuais na mistura, espera-se que a produção de biodiesel alcance 8,8 milhões de metros cúbicos, o que, mantendo a atual participação do óleo de soja, demandaria 28,2 milhões de toneladas de soja em grão – aumento de 4,15 milhões de toneladas.
Figura 1.
Produção anual de biodiesel (m³) e da demanda por soja em grão (t).
*estimativa
Fonte: Abiove / Conab / Scot Consultoria
A oferta de soja está ligada à produção do grão no país. A safra 2022/23 foi recorde e, a atual temporada (2023/24), mesmo com quebras de produção, deverá ser de boa oferta e a segunda melhor produção da história – em resumo: não esperamos que o mercado encontre problemas para abastecer esse incremento de demanda.
Figura 2.
Produção e demanda (processamento + exportação) de soja no Brasil, em milhões de toneladas.
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria
Para o sebo bovino, a oferta do produto está ligada ao abate de bovinos, impactado pela atividade de cria e sua atratividade (o famoso ciclo pecuário de preços). Em resumo: a oferta de sebo bovino possui um “limitador” de produção.
Estimamos que, para cada bovino abatido, sejam produzidos 26kg de sebo. Para 2023, estimamos que o setor tenha produzido 885,6 mil toneladas de sebo – deste volume, 441,3 mil toneladas foram consumidas pelo setor de biodiesel.
Figura 3.
Produção de sebo bovino e o abate de bovinos no Brasil.
Fonte: IBGE / Scot Consultoria
Além do setor de biodiesel, compete pela matéria-prima a indústria de higiene e limpeza, que até alguns anos atrás (2018), era o principal comprador do sebo bovino.
Com a perspectiva de abate ainda em alta para 2024, a oferta de sebo deverá seguir confortável no mercado. Mas, merece atenção a exportação de sebo, em forte crescente nos últimos anos – de 2023, para 2022, o setor exportou 292,1 mil toneladas de sebo, alta de 186,9%.
Com a expectativa de aumento da produção de biodiesel para 2024, a demanda por sebo bovino também deverá crescer, estando estimada em 514,11 mil toneladas.
Em 2024, com oferta confortável à demanda, o B14 pouco deverá impactar nos preços do óleo de soja e no de sebo bovino.
Para 2025, a expectativa é de redução nos abates de bovinos e, consequentemente, redução na oferta de sebo bovino.
Com a perspectiva de aumento no teor de biodiesel na mistura do diesel, os poderão subir.
No mercado de soja, a atenção que fica é para o desenvolvimento das lavouras norte-americanas 2024/25, em início de semeadura, e às expectativas de exportação no Brasil – que poderão ser menores do que em 2023, e resultar em aumento na disponibilidade interna do grão.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos