Felipe Fabbri é zootecnista, mestre em Nutrição e Alimentação de Monogástricos pela Unesp de Jaboticabal e analista de mercado da Scot Consultoria.
Ana Paula Oliveira é médica veterinária e zootecnista, mestre em Produção Animal pela FMVZ Unesp e analista de mercado da Scot Consultoria.
Artigo originalmente publicado na revista Agroanalysis.
No primeiro semestre, o período se caracteriza pela oferta de bovinos provenientes das pastagens e pelo aumento da participação de fêmeas no abate, devido ao descarte de fêmeas após a estação de monta.
No primeiro trimestre de 2024, não foi diferente; acompanhamos uma elevada oferta de bovinos para o abate, devido à maior participação de fêmeas. Segundo dados do MAPA, para abates SIF, janeiro, fevereiro e março registraram níveis maiores aos observados em 2023, ano em que o descarte de fêmeas já estava alto.
Figura 1.
Abates, em milhões de cabeça, em janeiro, fevereiro e março, nos últimos 3 anos.
Fonte: MAPA / Elaborado por Scot Consultoria
Na segunda quinzena de março, a oferta de fêmeas destinadas ao abate diminuiu e, com volumes satisfatórios de chuva na região do Brasil Central, que melhoraram as condições das pastagens, houve retração por parte dos pecuaristas na oferta de gado.
No mercado de reposição, considerando o cenário de fêmeas que estiveram em reprodução entre 2021 e 2022, e o baixo investimento na cria nos últimos anos, através de indicativos como Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) e diminuição do volume de vendas de doses de sêmen, esperamos um período de menor oferta de bezerros desmamados em 2025. Mas, em 2024, com destaque ao primeiro semestre, devemos seguir com boa oferta de bovinos para reposição.
O confinamento é uma parte do sistema de produção pecuária e, quando o assunto é alívio da pastagem e aumento do estoque de arrobas, com a reposição mais “em conta”, torna-se uma estratégia interessante até mesmo ao produtor que trabalha com sua produção em sistema de pastagem.
Desse modo, a terminação em confinamento (seja em boitéis ou em confinamentos próprios) serve para aumentar o giro e auxiliar a compra da bezerrada.
Quanto aos custos de produção, em função da fase vigente do ciclo pecuário de preços, os preços da reposição, responsável por quase 70% dos custos, caíram.
Para a alimentação, a projeção é de um cenário de preços mais atraentes comparada à temporada passada, principalmente para o milho.
Entre abril e maio, com o outono e avanço do período seco, começa o primeiro giro do confinamento, visando a terminação em julho e agosto.
Através da simulação de um sistema de engorda em confinamento em São Paulo, com a entrada da boiada no começo de maio, com duração de 90 dias de confinamento, ganho de peso diário de 1,6 quilo e rendimento de carcaça de 56%, projetamos o resultado da atividade.
A relação de troca com o boi magro caiu 5,7% em comparação com abril/23, exercendo uma influência positiva no principal custo, como a aquisição de animais para confinar.
Nesse contexto, o milho é o principal insumo utilizado nas dietas desses animais e, durante este primeiro trimestre, apresentou uma relação de troca bastante favorável para o pecuarista. No entanto, as quebras de safra têm causado consideráveis oscilações nos preços.
O El Niño que afetou as pastagens, também atrasou o plantio da soja, o que resultou em ajustes negativos na produção de milho, tanto em termos de área semeada quanto em produtividade.
No mercado físico em Barretos-SP, a arroba do boi gordo ficou cotada em R$232,00 preço bruto e a prazo (23/4), segundo levantamento da Scot Consultoria. Na B3, os contratos futuros sinalizam para uma arroba de R$248,30 em outubro/24 no estado.
Com base nestes parâmetros e considerando a entrada de boiadas no confinamento em abril (12,5@) e saída em julho (19,4@), com ganho de peso médio diário de 1,6 quilos e rendimento de carcaça de 56%, estimamos um lucro por cabeça confinada de R$313,36. Para a mesma situação com entrada em julho e saída em outubro, o lucro por cabeça confinada está estimado em R$571,06.
Na tabela 1, os parâmetros utilizados e a estimativa dos resultados econômicos da atividade no período em questão.
Tabela 1.
Estimativa de resultado de confinamento de bovinos em 2024, em São Paulo.
Fonte: Scot Consultoria
Um ponto importante, é que a oscilação da cotação do milho, pode afetar o custo da diária e consequentemente na rentabilidade do sistema.
Em curto e médio prazos (até agosto/setembro), a expectativa é de que os preços do milho caiam no mercado interno, o que poderá reduzir ainda mais o custo da diária utilizado nesta simulação, tornando a relação de troca ainda mais interessante para o pecuarista.
Com isso, a rentabilidade do setor mostra sinais positivos, impulsionada pela queda nos custos de produção de insumos como soja e milho e na perspectiva de preços futuros. Essa tendência leva a possibilidade de aumento no volume de bovinos confinados, o que, por sua vez, pode resultar em uma oferta maior de carne bovina até julho.
Entretanto, há incertezas em relação ao consumo doméstico. O escoamento da carne ainda enfrenta desafios, com compras pontuais e uma demanda irregular.
Se não houver um aumento firme no consumo quando a oferta de bovinos provenientes de pastos secos chegar ao mercado, há o risco de uma queda semelhante à ocorrida em agosto/setembro do ano anterior, quando o consumo fraco e o recorde de abates resultaram em uma pressão de baixa sobre os preços.
Ou seja, além da queda prevista no preço do milho, espera-se uma pressão nas cotações da arroba do boi gordo no segundo semestre.
Para o pecuarista que ainda não se programou para o confinamento, o momento é favorável para a compra do milho e posicionamento com relação aos preços de venda do boi gordo.
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