Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.
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Na parte 2 dessa série de artigos sobre “manejando e controlando plantas daninhas da pastagem” descrevi as modalidades de manejo preventivo e cultural e os métodos de controle mecânico, biológico e o uso do fogo. Nas partes 3 e 4, será descrito o método de controle químico.
O método de controle químico é realizado com a utilização de herbicidas, que provocam a morte ou impedem o desenvolvimento de plantas daninhas. Esse método de controle tem se apresentado consistentemente o mais eficaz em todos os experimentos em que se comparou os métodos químico com métodos mecânicos, tais como com uso de roçadas manual e tratorizada, uso de rolo-faca etc., principalmente quando a análise foi feita num prazo maior que três anos.
Na agricultura houve avanço significativo no controle químico de plantas daninhas com o desenvolvimento de produtos específicos para a aplicação em pré-plantio (incorporado ao solo ou não. Controla até mais de 85,0% da germinação do banco de sementes de plantas daninhas), em pré-emergência e em pós-emergência das daninhas e da cultura. Entretanto, para pastagens ainda não se tem registrados herbicidas para a aplicação em pré-plantio (incorporado ou não) e em pré-emergência, restando apenas a alternativa da aplicação em pós-emergência. Por isso, esses produtos devem controlar as daninhas e serem seletivos às plantas forrageiras.
A seletividade é devido a aspectos morfológicos das plantas como também a habilidade da planta forrageira em degradar metabolicamente parte do herbicida que é absorvido (seletividade bioquímica). Aqui está mais um desafio para a consorciação de pastagens com gramíneas e leguminosas, pois estas últimas são sensíveis aos ingredientes ativos seletivos que foram desenvolvidos nas últimas seis décadas para o controle de plantas daninhas de folhas largas (latifoliadas) em pastagens de gramíneas (os capins, de folhas estreitas).
Quando o plantio da forrageira é feito por via vegetativa (por meio de mudas), algumas variedades e cultivares de capim-elefante (por exemplo, cultivares Cameroom, Napier ...) e de gramas Cynodon sp. (por exemplo, cultivares de Tiftons) toleram ingredientes ativos de herbicidas graminicidas (que controlam gramíneas, ou seja, que controlam capins) que podem ser aplicados em pré-plantio, em pré-emergência e em pós-emergência.
Os herbicidas utilizados em pastagens, de modo geral, além de seletivos são sistêmicos, ou seja, após a sua absorção, necessitam ser translocados até o local de ação na planta daninha, por exemplo, até a raiz. Agem regulando o crescimento ou mimetizando hormônios de crescimento do grupo das auxinas, atuam nos meristemas (pontos de crescimento da planta) causando divisão celular e crescimento irregulares, e desbalanceamento hormonal.
Os métodos de aplicação de herbicidas em pastagens basicamente são a aplicação foliar e aplicação localizada e dirigida no caule, ou no toco ou na gema (no ponto de crescimento da planta).
Aplicação foliar: muito eficaz no controle de plantas daninhas de portes herbáceo (caules finos, flexíveis e de cor verde; folhas macias, sem ou com pouca pilosidade, sem cerosidade) e subarbustivos (apresenta em sua parte superior as mesmas características das plantas herbáceas, mas apresentam maior porte e altura e tem caule lignificado e suberizado em sua base). Devem ser aplicados, de preferência no estádio de desenvolvimento pós-inicial, enquanto a planta ainda se encontra em crescimento vegetativo, o que possibilita um controle eficaz com menores doses de herbicida. Estas condições da planta daninha são encontradas principalmente durante a estação de crescimento das pastagens, sob condições de chuvas e altas temperaturas.
A aplicação na estação de primavera de herbicida à base dos ingredientes 2,4 D + picloram em campo nativo no Rio Grande do Sul controlou 100% das plantas daninhas caraguatá, carqueja, chirca e mio-mio, enquanto sua aplicação do mesmo tipo de herbicida na estação de outono não resultou em qualquer controle da chirca e carqueja, e controlou apenas cerca de 50% do caraguatá e 58% do mio-mio.
Se o pasto estiver alto, deve ser rebaixado pelo pastejo antes da aplicação do herbicida evitando o “efeito guarda-chuva” que é provocado pela interceptação das gotículas do herbicida pelas folhas da planta forrageira.
A aplicação de herbicidas foliares pode ser feita localizada e com jato dirigido para a planta daninha com pulverizadores costal (bomba costal carregada por uma pessoa ou no dorso de animais) e com pulverizador tratorizado com mangueiras. A aplicação com bomba costal deve ser a alternativa apenas para áreas com menos de 35% de infestação e em áreas não mecanizáveis. Em áreas mecanizáveis, a aplicação pode ser tratorizada e em área total com pulverizadores dos tipos fluxo de ar (conhecido por jatão) e de barras. Ainda há o método de aplicação aérea.
A maioria dos fabricantes recomenda o uso de óleos minerais (1 l/ha para aplicação terrestre com pulverizador tratorizado e 0,5% para aplicação terrestre localizada com pulverizador costal), surfactantes, adesivos para quebrar a resistência da cutícula das folhas e aumentar a aderência do produto à folha. Para adjuvantes (tensoativo iônico e não iônico) a dose é de 0,3% do volume da calda para aplicações tratorizada e 1 l/ha quando for aplicação aérea.
A vazão da calda varia de acordo com o método de pulverização: quando com pulverizador costal (bomba costal) aplica-se a calda até o ponto de escorrimento da mesma; quando terrestre com pulverizador tratorizado as recomendações dos fabricantes de herbicidas de pastagens variam de 200 a 400 l/ha e quando aérea 50 l/ha. Entretanto, cada vez mais a vazão tem sido reduzida. Com base em pesquisas de campo foi possível reduzir a vazão para pulverizadores tratorizados de 200 a 400 para 150 l/ha e para aplicação aérea pode ser reduzida de 50 para 30 l/ha se as aeronaves conseguirem voar numa altura de 15 metros. Quando há arvores na pastagem a altura de voo precisa ser acima de 30 metros (entre 30 e 40 m) e a vazão de 50 l/ha deve ser mantida. Em áreas agrícolas a vazões variam entre 10 e 12 l/ha porque o voo é mais baixo, ou seja, o “caminho” que as gotas tem que percorrerem entre os bicos e o alvo é muito curto. Para a aplicação por meio de drones a vazão da calda é de 20 l/ha.
As condições climáticas deverão ser adequadas para permitir a melhor interceptação das gotas de pulverização pelas folhas das plantas daninhas alvo, com menor evaporação possível das gotas no trajeto, com menor deslocamento horizontal possível (deriva) e evitando condições de inversão térmica (deslocamento vertical). Para alcançar estes resultados a temperatura ambiente deve estar abaixo de 30oC, umidade relativa do ar acima de 55%, velocidade média do vento entre 3 a 10 km/hora, ausência de orvalho e na presença de luz solar. Estas condições geralmente ocorrem no início da manhã (das 6 até as 10 h) e ao entardecer (a partir das 16 h). Evitar a aplicação com previsão de chuvas até seis horas após. Para o ingrediente 2,4 D bastam 30 minutos, para os ingredientes fluroxipir, picloram e triclopir, são três horas; para aminopiralide são quatro horas.
Os parâmetros de aplicação através de equipamento tratorizado ou aéreo, como ângulo de barra, tipo e número de pontas, pressão de trabalho, largura da faixa de aplicação, velocidade do pulverizador ou da aeronave etc., deverão seguir as recomendações do modelo do pulverizador definido pelo fabricante.
Os herbicidas para o controle de plantas daninhas por meio de aplicação foliar são à base dos ingredientes ativos 2,4 D, aminopiralide, fluroxipir, picloram, triclopir e misturas entre esses ingredientes. Para a aplicação de herbicidas que contém o ingrediente 2,4 D é preciso tomar medidas de mitigação de risco para os residentes e os transeuntes de áreas próximas.
A atenção deve ser redobrada se houver áreas próximas com cultivos de culturas dicotiledôneas sensíveis a ingredientes ativos de herbicidas de pastagens (mimetizadores de auxina), tais como algodão, batata, café, eucalipto, feijão, flores, hortaliças, soja, tomate. O cultivo destas espécies só deverá ser feito pelo menos dois anos após a última aplicação do herbicida.
Para áreas de integração lavoura/pecuária (ILP) ou áreas de pastagens onde no futuro se pretende cultivar culturas dicotiledôneas sensíveis, o controle de plantas daninhas deverá ser feito com herbicidas a base dos ingredientes ativos fluroxipir-meptilico e triclopir-butotilico. Estes ingredientes são eficazes no controle de plantas daninhas de crescimentos herbáceo, subarbustivo e arbustivo.
Os animais excretam por meio de suas fezes e urina os ingredientes dos herbicidas em até 96 horas após a sua ingestão. Por isso, não utilizar por, no mínimo, 60 dias o esterco de animais que pastejaram em área onde foram aplicados herbicidas de pastagens para adubar culturas sensíveis aos ingredientes destes herbicidas.
Na parte 4 dessa sequência de artigos descreverei o método de controle químico localizado no caule, no toco e na gema das plantas, e finalizarei apresentando a relação de benefício/custo do controle, os avanços e os desafios no controle de plantas daninhas da pastagem.
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