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Scot Consultoria

O cenário da carne bovina após eleições norte-americanas


Terça-feira, 12 de novembro de 2024 - 06h00

Alcides Torres é engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - ESALQ, da Universidade de São Paulo, é diretor-fundador da Scot Consultoria. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.

Pedro Gonçalves é engenheiro agrônomo pela Unesp de Jaboticabal e analista de mercado da Scot Consultoria.


Foto: Bela Magrela


Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro da Agência Estado.

Em 5 de novembro foram realizadas as eleições estadunidenses. Nela, o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris fariam, o que até então era chamado, a eleição mais acirrada da história. As previsões eram de uma disputa muito próxima, com Harris obtendo até mais intenções de votos nas pesquisas em relação ao republicano.

Porém, por lá, intenções de voto não dizem muito. Os estados-chave tem um peso importante sobre a eleição, assim como os chamados estados-pêndulo. E, em todos, a vitória foi de Donald Trump, superando expectativas.

E, como essa eleição pode afetar o mercado do boi gordo, que nos últimos meses trabalha em alta?Primeiro, precisamos contextualizar a situação. O ano, com dados fechados até outubro, já é recorde no volume exportado de carne bovina, com 3,21 milhões de TEC embarcadas.

Gráfico 1.
Carne bovina total (carne fresca ou refrigerada, carne congelada, miúdos, carne salgada, tripas de bovinos e industrializados) exportada por ano.Fonte: Secex / Elaborado por Scot Consultoria
*até outubro

Nessa conta, existem países-chave que ajudam a entender o porquê desse recorde. 

China

É o principal comprador de carne bovina brasileira, e parceiro comercial para a maior parte dos produtos agropecuários comercializados. Esse ano o dragão chinês esteve com fome, e esteve bastante ativo no mercado do boi gordo.

Até o momento, foram destinados 1,59 milhão de toneladas para a China, o que corresponde a 49,62% do volume exportado. São 170 mil toneladas a menos que o ano anterior, com 2 meses para fechar a conta.

Participação que caiu ao longo dos três últimos anos, devido a novos mercados compradores e aumento do volume comprado por outros.

Gráfico 2.
Exportação de carne bovina para a China, e a participação no volume total embarcado.

Fonte: Secex / Elaborado por Scot Consultoria
*até outubro

Os bons volumes destinados à China devem se manter em alta, visto o consumo chinês crescente e uma produção que não acompanha o mesmo apetite. Segundo dados do USDA, o consumo doméstico chinês está estimado em 11,56 milhões de TEC e a produção está em 7,80 milhões de TEC.

Para 2025 o cenário é ainda animador, tendo em vista um consumo doméstico que deve crescer para 11,59 milhões de TEC, com uma produção um pouco menor, estimada em 7,78 milhões de TEC.

Ou seja, a exportação de carne para nosso principal comprador deve se manter e até aumentar.

Estados Unidos

A intensão do presidente Trump de proteger os produtos norte-americanos, e que provoca uma guerra comercial com a China, pode beneficiar o Brasil. Não pela benevolência, mas por estimular um comércio firme do Brasil em relação a outros países.

Se a China não compra dos Estados Unidos, ela compra do Brasil.

Para carne bovina, os últimos anos foram favoráveis para o Brasil. Desde 2014 a exportação para os cresceu em volume.

A participação está em 7,85%, são 41,77 pontos percentuais abaixo da China. A participação dobrou em relação a 2020. Em 2020 era de 3,59% em 2020.

O volume embarcado, até outubro, foi de 251,61 mil tec, recorde de vendas para os Estados Unidos. E, o final de ano promete volumes maiores, aproveitando a cota de exportação com isenção de impostos para a importação de carne bovina. Sem a isenção, a taxa é de 26,4%.

Essa cota é discriminada em pacotes-limites. Dentro das cotas, quatro países são amparados com taxas personalizadas: Argentina, Austrália, Nova Zelândia e Uruguai. O Brasil está em "Outros países", aba cuja cota é de 65 mil toneladas de carne bovina com a isenção de imposto. Dessas 65 mil toneladas 90% são preenchidas pela carne brasileira, entre os outros 16 países que compõem a cota. Existem tratativas para dobrar o volume brasileiro com isenção dos impostos.

Demais países

Além da China e dos Estados Unidos, o Brasil exportou carne bovina para mais de 150 outros países, entre recentes aberturas comerciais, e antigos parceiros que voltaram às compras depois de anos.

Destaque para Emirados Árabes Unidos, que de carne bovina in natura, ocupam a segunda posição em volume embarcado. Neste ano, adquiriu 168,9 mil tec, representando 5,27%.

Outros países que valem ser mencionados são: Rússia, em sétimo lugar no ranqueamento de compradores (95,25 mil tec), Filipinas em quinto lugar (109,50 mil tec) e, Chile em quarto lugar (117,55 mil tec).

E o futuro?

Para 2024, o recorde de produção e exportação já estão garantidos. O abate deve beirar a marca de 40 milhões de cabeças, um tremendo salto. E a exportação acompanhou isso, e mesmo assim a disponibilidade interna voltou a patamares dos 30 a 35 kg/habitante/ano.

Em 2025 a expectativa é essa:

A exportação deve ser recorde, se a necessidade de compra chinesa maior: um consumo interno crescente, e produção sem mudança. E, para o segundo maior comprador, os EUA, o cenário deve ser o mesmo.

Os Estados Unidos são os maiores consumidores mundiais de carne bovina, e a produção está caindo ano a ano. Como mencionado, há um espaço de tempo considerável até que incentivos governamentais cheguem e recomponham o rebanho e a produção de carne.

Até lá, o olhar de Trump, mesmo que protecionista, deve ser de manter uma agenda de garantia de abastecimento para a população. Portanto, o mercado ainda está garantido. A relação pode estremecer, com comentários oficiais sobre a eleição, e a Austrália ganhar espaço, porém sem capacidade de atendimento do mercado norte-americano.


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