Estima-se que o Brasil produzirá na safra 2024/2025 mais de 166 milhões de toneladas de soja, distribuídas em uma área com 47 milhões de hectares, e com produtividade média de quase 3,3 t ha-1 (CONAB, 2024). No entanto, além desses números já impressionantes, há um potencial ainda maior a ser explorado. O Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB) relata casos excepcionais em que a produtividade alcança até 8 t ha-1. Essa narrativa de progresso e potencial mostra que ainda há espaço para crescimento e otimização da produção no Brasil.
Vamos, dessa forma, entender como os produtores de elite realizam o manejo do nitrogênio (N) em ambientes de alta produtividade. Para tanto, utilizamos os dados oriundos de campeões de concursos de produtividade do Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB), que possuem amplo relatório técnico disponível sobre o manejo e práticas culturais realizadas, além de possuírem auditoria para a participação de produtores, em especial para aferição da produtividade na colheita. O regulamento requer que o produtor adote práticas sustentáveis, uso de produtos registrados para a soja, previne confluência de interesses por parte de empresas do ramo agrícola e possui outros fatores que garantem a veracidade da produção. Ao todo, foram analisados 18 relatórios da categoria sequeiro, em todas as cinco regiões do Brasil.
A fim de tornar a análise possível, foram comparados alguns pontos sobre o manejo do N (tabela 1.)
Tabela 1.
Pontos que foram comparados.
Pontos | |
1. | Sistema de plantio direto com rotação de pelo menos duas culturas |
---|---|
2. | Crescimento radicular sem impedimento químico |
3. | Inoculação com Bradyrhizobium e Azospirillum brasilense |
4. | Aplicações de N |
Fonte: Scot Consultoria
A título de curiosidade, o crescimento radicular sem impedimento químico foi considerado quando a V% estava acima de 25,0% nas camadas de 0 cm a 200 cm. Geralmente quando a V% está abaixo de 25,0%, ocorre impedimento químico para o crescimento de raízes (QUAGGIO, 2022). Inoculação com Bradyrhizobium e Azospirillum brasilense foi quando os produtores utilizaram produtos à base dos microrganismos para a inoculação das sementes, sendo considerados tanto inoculantes turfosos como líquidos, no tratamento de sementes (TS) ou como aplicação no sulco de plantio. As aplicações de N foram consideradas quando os produtores aplicaram qualquer produto contendo N em sua formulação, em quantidades de até 20 kg ha-1, em qualquer estágio do desenvolvimento, tanto vegetativo como reprodutivo.
Os dados do primeiro gráfico mostram que 100% dos casos analisados utilizaram pelo menos duas culturas em alternância na mesma área (figura 1).
Figura 1.
Rotação de culturas.
Fonte: CESB / Elaboração: Scot Consultoria
O sistema de plantio direto favorece a proteção e estruturação do solo, além de favorecer a retenção de água diretamente através da redução da temperatura e indiretamente através do aumento de matéria orgânica ao longo do tempo (HUNGRIA e VARGAS, 2000), fatores que apoiam o processo de interação com o Bradyrhizobium (ZAMBON et al., 2023). A ideia de rotação de culturas dentro desse sistema aumenta a comunidade bacteriana através de exsudatos radiculares de diferentes espécies de plantas, isso aumenta a atividade enzimática do solo e o seu dinamismo (BEN-CHUAN et al., 2022). Todos esses fatores são capazes de favorecer a fixação biológica de nitrogênio, o que gera um ambiente mais propício para altas produtividades. Exemplos de plantas que compunham o escopo de plantas utilizadas pelos campeões na rotação são: Feijão, Aveia, Milho, Milheto, Braquiária, Algodão, Trigo, Arroz e plantas de cobertura, como o Nabo e a Crotalária.
A figura 2 evidencia a plena adoção da inoculação anual com estirpes eficientes de Bradyrhizobium pelos produtores. O número é superior à média relatada de inoculação no Brasil, que é de 78,0% (SANTOS et al., 2019). Nessa mesma lógica, o segundo gráfico indicou a adoção da prática de inoculação com Azospirillum brasilense por 66,7% dos produtores, um número muito superior à média brasileira de c. 26,0% (PRANDO et al., 2024).
Figura 2.
Inoculação com bactérias dos gêneros Bradyrhizobium e Azospirillum.
Fonte: CESB / Elaboração: Scot Consultoria
Os mecanismos de adaptação das bactérias no solo fazem com que ocorra perda de desempenho na FBN, e que a reinoculação anual é uma forma de sempre fornecer bactérias de alto desempenho para realizar o processo de simbiose com a soja. Diversos estudos evidenciam que a reinoculação anual contribui para o aumento da produtividade.
Dentre os campeões, 88,9% apresentaram perfis de solos que não continham nenhum impedimento químico desde a camada superficial até a camada mais profunda de 200 cm e 61,1% dos produtores optaram por aplicar o N na base em até 20 kg ha-1 (figura 3).
Figura 3.
Crescimento radicular sem impedimento químico e aplicações de N.
Fonte: CESB / Elaboração: Scot Consultoria
As aplicações de N na base e aplicações posteriores de até 20 kg ha-1 de N geram respostas de produtividade muito pequenas e são aplicações que resultam em produtividades que muitas vezes não pagam o custo operacional (MOREIRA et al., 2017). Cabe ressaltar ainda, que o N na base é somente utilizado muitas vezes por conta de ele ser intrínseco ao MAP, que é usado para fertilização no sulco de semeadura.
Alguns autores enfatizam que a soja poderia ser capaz de absorver quantidades consideráveis de N em subsuperfície (SALVAGIOTTI et al., 2008). De fato, 88,9% dos campeões analisados possuíam perfis de solos muito bem construídos quimicamente, sem qualquer impedimento químico para o crescimento de raízes até os 200 cm, o que poderia ter relação com a absorção de N em profundidade, converge com o N obtido através da fixação biológica de nitrogênio e contribui para as altas produtividades obtidas.
Concluindo, a rotação de culturas atenua os fatores ambientais limitantes para a FBN, o que aumenta a disponibilidade de N. O uso de inoculantes a base de microrganismos aumenta a disponibilidade de N, o que aumenta a produtividade. A correção química do solo nas camadas de 0 a 200 cm pode ser um fator importante para a absorção de N mineral em profundidade, converge com o N obtido através da FBN.
Ainda, cabe ressaltar que em todos os relatórios analisados, as áreas de alta produtividade continham alto teor de argila, um fato que é relevante considerando as altas produtividades obtidas.
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