Foto por: Bela Magrela
Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro, da Agência Estado.
O ano de 2024 foi marcado por eventos extraordinários que afetaram o setor agropecuário, como secas severas, aumentos expressivos nos preços dos fertilizantes e combustíveis e, uma política econômica que balançou algumas das dinâmicas do mercado.
Esses fatores mexeram com os custos de produção, a produtividade e a mecânica dos mercados interno e externo.
Os eventos climáticos extremos em 2024, com secas severas e queimadas, além da destruição, propriamente dita, da lavoura e das pastagens, acaba por pressionar a oferta de alimentos e bens.
Esse impacto foi notável, em dois produtos : o café e a laranja. Ambos impactados, além de outros fatores, pela seca severa ao longo de 2024.
A produção de cana-de-açúcar, principal cultura econômica de São Paulo, também sofreu. A cotação dos produtos oriundos da cana, subiram.
As pastagens também sofreram. Os incêndios não só prejudicaram a disponibilidade de alimento para o gado, como na sua retomada (rebrota).
Além, dos produtos citados (café, laranja, açúcar e carne) a cotação do feijão também subiu. E esses aumentos é repassado para o consumidor final. A inflação sobe.
As alterações na legislação tributária implementadas em 2024 trouxeram desafios e oportunidades, afetando diferentes segmentos do setor agropecuário.
Os itens agropecuários da cesta básica desonerada beneficiou, especialmente, os produtores de leite e de carnes, enquanto, setores dependentes de insumos importados enfrentaram maiores custos, devido ao aumento da carga tributária em fertilizantes e defensivos.
Essas mudanças repercutiram nas regiões produtoras, acentuadamente, em polos como o Centro-Oeste e o Sul do Brasil.
Com a taxa de juros encerrando 2024 em 12,75% ao ano, o crédito rural ficou difícil. Além disso, a alta nos preços dos fertilizantes em 2024 deverá refletir nos custos de produção em 2025.
A taxa de câmbio, projetada para acima de R$6,00/US$, em 2025, continuará sendo positiva para as exportações agropecuárias.
Essa alta é uma oportunidade de ampliação de receitas em moeda local, potencializando a competitividade no mercado internacional.
No entanto, os produtores de menor porte, enfrentam desafios adicionais, pois o aumento nos custos diminuirá a rentabilidade.
A produção de grãos, considerando algodão, amendoim, arroz, aveia, canola, centeio, cevada, feijão, gergelim, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, trigo e triticale, está estimada em 322,25 milhões de toneladas para a safra 2024/25 (Conab).
Um aumento de 8,16% na produção, com apenas 1,80% no aumento da área. Ou seja, a expectativa é de recuperação da produtividade, após uma safra 2023/24 impactada pelo clima.
Para milho e soja, as duas principais culturas no Brasil (fora as pastagens), a produção deverá crescer 3,33% e 12,60%, respectivamente. Destaque para a retomada da produtividade dessas culturas, ainda mais para o milho, cuja estimativa de redução na área cultivada é de 0,42%.
Figura 1.
Produção de grãos no Brasil, soja e milho, representados pelo eixo da esquerda.
*estimativa
Fonte: Conab / Elaborado por Scot Consultoria
Dessa forma, as expectativas de preços futuros podem variar, principalmente, devido a demanda mundial por grãos. A oferta interna, como apontado, deverá crescer, o que pode ser um fator limitante para grandes movimentações nos preços.
Porém, cabe o olhar global. Milho, por exemplo, visto a possível quebra de safra estadunidense, e menor estoque global, além de uma demanda aquecida (visto que o grão é disputado para alimentação humana, arraçoamento animal e produção de etanol e outros destinos.
O algodão, por sua vez, poderá ter uma retomada do consumo global, que deve girar na casa dos 3%, porém com uma oferta em maior volume, algo próximo de 6%. Essa condição, e a competição com o preço do petróleo (principal concorrente da fibra), deve dar um ar mais morno para as negociações.
Para a soja, o cenário é distinto nos principais produtores globais. A Argentina está com problemas em função da seca nas principais regiões produtoras. Nos Estados Unidos a colheita foi recorde na última safra, enquanto o Brasil sofreu com a seca no período produtivo.
Outro fator para ficar de olho é a mudança de concentração da mistura de biodiesel para o B15 (15% de biodiesel no combustível fóssil).
Pecuária
O preço do boi gordo em 2025 deverá ser melhor que em 2024. O momento é de transição para a fase de alta do ciclo pecuário de preços. No mercado futuro as apostas de janeiro a julho, estão entre R$325,00/@ e R$330,00/@.
Figura 2.
Indicador da Scot Consultoria e preços no mercado futuro em São Paulo, em R$ por arroba, à vista e descontados os impostos, em valores nominais.
Fonte: Scot Consultoria, B3 (15/1/2025)
Neste começo de ano, os frigoríficos devem ter dificuldade para a aquisição de boiadas, pela melhor condição das pastagens.
O dólar acima de R$6,00, deve fazer com que a indústria se esforce para comprar boiadas, o que deve manter o mercado firme.
A demanda interna normalmente é menor no início do ano, devido ao peso dos impostos no bolso do consumidor e por causa das férias escolares.
A cotação da arroba mais alta, movimento que deve perdurar ao longo de todo ano, trará uma carne mais cara. A expectativa é de que a exportação cresça 0,70% em relação a 2024, ou seja, novo recorde.
Uma produção menor, devido a menor oferta de fêmeas, já sentidas pela indústria frigorífica, aliada a uma exportação em bom volume, devem conferir firmeza ao mercado.
Com relação à reposição, após dois anos de forte participação de fêmeas nos abates, a oferta de bovinos para reposição deve cair, e encontrar pontos de alta ao longo do ano.
O ano mal começou, e já recebe um bombardeio de fatores interessantes. O ano típico na agropecuária é sempre um ano atípico. Não há moleza.
Engenheiro agrônomo, formado na Esalq/USP, Piracicaba/SP. Fundador e CEO da Scot Consultoria. Atua na área de ciências agrárias, análises e consultoria de mercados agropecuários. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Atuou como Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e dirige as ações gerais da Scot Consultoria.
Engenheiro agrônomo, formado pela FCAV/Unesp, Jaboticabal/SP. Atua na área de ciências agrárias, análises e consultoria de mercados agropecuários. Analista de mercado, com elaboração e realização de análises setoriais e pesquisas nos mercados do boi, carne e mercados internacionais, com enfoque para commodities agrícolas. Técnico da pesquisa-expedicionária “Confina Brasil” e coordenador da equipe de mídias sociais da Scot Consultoria
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