Foto: Bela Magrela
A Scot Consultoria publicou em 2019 um artigo sobre o rendimento de carcaça bovina e os cortes cárneos considerando gado brasileiro. Esse rendimento de carcaça varia de acordo com a raça e consequentemente o de coprodutos como couro e sebo bovino também.
Veja na tabela 1.
Tabela 1.
Rendimento médio, em %, de carcaça de couro e sebo bovino, por raça a partir do peso vivo.
Raça | Carcaça (%) | Couro (%) | Sebo (%) |
Angus | 60 - 64 | 7 - 10 | 10 - 15 |
---|---|---|---|
Charolês | 55 - 65 | 7 - 10 | 8 - 12 |
Zebu | 50 - 60 | 7 - 10 | 5 - 8 |
Simental | 55 - 65 | 7 - 10 | 10 - 14 |
Fonte: UT Austin et al / Elaboração: Scot Consultoria
As raças europeias (angus, charolês e simental) apresentam rendimentos maiores de carcaça quando comparadas às raças zebuínas (tabela 1).
A raça Angus se destaca na qualidade da carne e no rendimento de carcaça. O marmoreio (gordura intramuscular) é influenciado pelo gene DGAT1 (diacilglicerol aciltransferase), associado ao aumento do marmoreio, e pela maciez da carne, beneficiada pelos genes CAPN1 (calpaína 1) e CAST (calpastatina). A calpaína é uma enzima que degrada proteínas musculares, enquanto a calpastatina é um inibidor dessa enzima. Por fim, a seleção genética para uma maior área do olho de lombo, que é uma medida da musculatura, contribui para um maior rendimento de carne magra.
Na raça charolês, o que sobressai é o crescimento rápido, influenciado por genes como o IGF2 (fator de crescimento semelhante à insulina), que atua no rápido aumento da massa muscular. Também se destaca na raça a conformação de carcaça e o rendimento de massa magra. A seleção para características de conformação, como a área do olho de lombo e a espessura de gordura, resulta em carcaças com maior proporção de carne magra e menor quantidade de gordura.
No caso da raça simental, destacam-se a versatilidade da raça e a eficiência alimentar. A versatilidade é devida a uma seleção genética que possibilita aptidão tanto para produção de carne quanto de leite, favorecendo a robustez e animais com menor espessura de gordura subcutânea, o que melhora o rendimento de carne magra. No caso da eficiência alimentar, a genética do animal possui genes associados à eficiência alimentar, como o gene SLC13A1 e BTA4, que têm papéis no processo de desenvolvimento muscular, além da LEP (leptina), que influencia a capacidade dos animais de converter alimento em massa muscular de forma eficiente.
Apesar do menor rendimento de carcaça, as raças zebuínas (como o gado anelorado, por exemplo) apresentam benefícios em sua genética que os tornam melhor adaptados para regiões de clima tropical, como no Brasil. Os genes que conferem ao gado zebu a resistência ao calor e a pragas são resultado de uma longa adaptação evolutiva em climas tropicais e subtropicais. Destacam-se os genes relacionados à resistência ao calor, como o HSP70 (proteína de choque térmico 70), que codifica uma proteína que ajuda a proteger as células do estresse térmico, permitindo que o gado zebu tolere temperaturas elevadas, e o gene SLICK, ligado a um fenótipo de pelagem curta e lisa, que melhora a capacidade de dissipação de calor.
No caso da resistência a pragas e doenças, destacam-se na genética do gado zebuíno os genes BoLA-DRB3 (bovine lymphocyte antigen), relacionado à resposta imunológica e à resistência a doenças parasitárias, e NRAMP1 (natural resistance-associated macrophage protein), envolvido na resistência a infecções bacterianas, como a tuberculose bovina.
Além disso, o gado zebu também possui em sua genética fatores que auxiliam na adaptação geral, como o GHR (receptor do hormônio de crescimento), que influencia o crescimento e a eficiência alimentar, permitindo que o gado zebu se adapte melhor a condições de pastagem de baixa qualidade, e o LEP (leptina), ligado à regulação do apetite e ao metabolismo energético, ajudando o gado Zebu a manter a condição corporal em ambientes desafiadores.
Desta forma, apesar do menor rendimento de carcaça do gado zebuíno quando em comparação com outras raças, suas características genéticas o tornam mais bem adaptado para as condições ambientais da maioria das regiões brasileiras.
Figura 1.
Máximo e mínimo potenciais de rendimento de carcaça, por raça bovina, em quilogramas, considerando um bovino com peso vivo de 570 kg.
Fonte: UT Austin et al / Elaboração: Scot Consultoria
Em relação ao couro bovino, o rendimento por animal abatido é semelhante, variando entre 39,9 kg e 57 kg com peso vivo de 570kg. Vale destacar que as raças zebuínas têm um couro de espessura e resistência satisfatórias, porém há uma perda devido à “corcova”, “hump hole" ou cupim.
Já em relação ao sebo bovino, rendimento varia entre 28,5 e 85,5 kg por animal com peso vivo de 570 kg, em média, considerando todas as raças.
Para todos os bovinos, tanto para o rendimento de carcaça quanto para a qualidade de couro e sebo, é importante ter uma série de cuidados no manejo. Em relação ao couro bovino, o primeiro ponto é a dieta, que influencia a qualidade do couro. Uma alimentação balanceada, rica em nutrientes essenciais, promove um crescimento saudável da pele, resultando em um couro de melhor qualidade.
Outro ponto é manejo e o bem-estar animal. O manejo adequado, incluindo a redução do estresse e a prevenção de lesões, é importante para o couro de alta qualidade. Animais que sofrem menos estresse e lesões têm menos cicatrizes e marcas na pele. A idade e o peso também são fatores determinantes da qualidade.
Animais mais jovens tendem a produzir couro de melhor qualidade, pois a pele é mais macia e menos propensa a cicatrizes. Além disso, o peso do animal pode influenciar no rendimento do couro. Por fim, as condições ambientais em que os animais são criados podem afetar a qualidade do couro. Ambientes limpos e bem mantidos ajudam a prevenir infecções e parasitas que danificam a pele.
Em relação ao sebo bovino, a composição da dieta do animal está relacionada à quantidade e à qualidade. Dietas ricas em grãos tendem a aumentar a produção de sebo em até 20%
A raça também é importante, pois algumas raças são geneticamente predispostas a produzir mais sebo (como angus, por exemplo).
A idade e o peso também influenciam a produção de sebo, com animais mais velhos e mais pesados geralmente produzindo até 30% mais sebo devido ao maior acúmulo de gordura ao longo do tempo.
O manejo pré-abate, incluindo o jejum e o transporte, pode influenciar a quantidade de sebo. Procedimentos que minimizam o estresse e as lesões ajudam a manter a qualidade do sebo.
E em todos os aspectos mencionados, a saúde geral do animal, incluindo a ausência de doenças e parasitas, favorecem o rendimento. Animais saudáveis tendem a produzir produtos e coprodutos de melhor qualidade.
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