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Scot Consultoria

Parecer sobre a influência das commodities, dólar e safra sobre o agro brasileiro


Terça-feira, 8 de abril de 2025 - 06h00


Foto: Bela Magrela


Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro.

As commodities, o dólar e a safra (entende-se, a produção agrícola), desempenham papéis importantes no agronegócio brasileiro e na própria economia do país. O agronegócio brasileiro é sensível a esses três fatores, e o equilíbrio entre eles define a saúde econômica do setor. 

Por exemplo, de 2005 a 2011 a economia brasileira cresceu relativamente bem e um dos fatores que ajudaram nesse crescimento foi o constante aumento internacional dos preços das commodities, tanto as agrícolas, como as não agrícolas, como o minério de ferro. A partir de 2012, a economia brasileira começou a desacelerar e, por coincidência (ou não), os preços internacionais das commodities começaram a cair a partir desse ano também. É claro que existem diversos outros fatores econômicos que permeiam essa discussão. 

Agora, pensando nas commodities, como elas afetam o agro brasileiro? 

Podemos olhar por duas perspectivas: 

Primeiro: 

Em uma avaliação própria, entendo que a cotação das commodities em alta favorece o cenário exportador do Brasil, fortalecendo a economia interna. Com a economia interna aquecida, o consumo pela população por produtos agrícolas tende a crescer. 

Mas esse cenário também pode se inverter: commodities com a cotação em alta indicam maior repasse aos consumidores de maneira global, e consequentemente maior inflação global. Nesse sentido, bancos centrais aumentam taxas de juros, que tendem a reduzir o consumo e consequentemente os bens do agronegócio são menos consumidos.

O primeiro cenário tem uma força muito maior do que o segundo cenário. 

Segundo: 

É simples: Preços de commodities em alta favorecem o agronegócio do Brasil, simplesmente pelos preços em alta. Aumenta a rentabilidade dos produtores e estimula investimentos em tecnologia e expansão de área plantada. E o contrário é verdadeiro: cotação das commodities em baixa reduzem a margem de lucro e levam a menor investimento e ao endividamento dos produtores. 

Mas e os insumos, por exemplo, o diesel, o gás para fabricar a ureia, os insumos utilizados para fabricar defensivos agrícolas etc., quando as commodities estão em alta? 

Comentaremos, a seguir

Dólar: 

As commodities brasileiras são precificadas em dólares. A desvalorização do real permite que os produtores brasileiros vendam a preços mais altos em reais, o que melhora a rentabilidade. Basicamente, os produtores vendem em dólar, mas gastam em reais. 

Uma desvalorização acelerada do real impulsiona uma expansão da produção e das exportações agrícolas brasileiras. 

Por outro lado, insumos agrícolas, como fertilizantes, defensivos agrícolas etc., são importados, e a desvalorização também aumenta os custos de produção para os agricultores brasileiros, elevando o preço efetivo dos insumos importados, que são cotados em dólares. 

Mesmo assim, segundo um estudo realizado pelo Serviço de Pesquisa Econômica do USDA, a rentabilidade resultante do dólar mais elevado é maior do que os custos dos insumos que aumentam por causa do dólar. Veja a imagem abaixo:


Fonte: USDA 

Observe a soja, por exemplo. Os custos aumentam em 2%, mas a rentabilidade aumenta quase 13%. A cana-de-açúcar, por outro lado, fica quase em um impasse. Nesse sentido, a soja e o trigo são as duas commodities em que o Brasil mais se beneficia com a depreciação do real, (claro que no trigo, o benefício não é tanto, já que também somos grandes importadores, e por isso, também gastamos em dólares para trazer o produto ao Brasil). 

Caso o contrário venha a acontecer (o fortalecimento do real frente ao dólar), o valor das exportações é reduzido em reais e o volume exportado poderia diminuir. Ressalto que, ao longo de anos, o real SEMPRE se desvalorizou frente ao dólar. 

Um artigo do USDA relata que uma rápida desvalorização do real poderia aumentar as exportações do agronegócio brasileiro em até 5,6% acima das projeções até 2028. 

Dessa forma, podemos observar que a adoção de diferentes modos da política macroeconômica do Brasil (governos que façam o real se desvalorizar ou valorizar) podem afetar o mercado global agrícola, através da maior/menor exportação. 

Safras: 

Sobre safras, o cenário é mais simples:

O volume da safra brasileira influencia a oferta interna e os preços. Por exemplo, uma boa safra aumenta a disponibilidade de grãos para exportação e uma safra ruim reduz a oferta, que pode diminuir o volume exportado. 

Concluindo: 

Um cenário ideal para o agro brasileiro: Dólar alto, preços altos das commodities e safra recorde.

Um cenário desfavorável para o agro brasileiro: Dólar baixo, preços em queda e safra ruim.

Exemplos recentes:

2020 a 2022: Dólar alto, commodities em alta (pós-pandemia e guerra na Ucrânia) = lucros recordes

2023-2024: Queda parcial no preço das commodities + dólar mais estável + safra grande = menor crescimento, mas ainda com forte exportação. 


Alcides Torres e Lorenzo Cracco

Alcides Torres é engenheiro agrônomo, formado na Esalq/USP, Piracicaba/SP. Fundador e CEO da Scot Consultoria. Atua na área de ciências agrárias, análises e consultoria de mercados agropecuários. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Atuou como Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e dirige as ações gerais da Scot Consultoria.

Lorenzo Cracco é engenheiro agrônomo, formado pela Esalq/USP, Piracicaba/SP, com período de graduação no programa de intercâmbio na Katholieke Universiteit Leuven (KU Leuven), Bélgica. Atua como analista de mercado, na elaboração de análises setoriais nas áreas de pecuária, grãos, suplementos minerais e fertilizantes.

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