O diferencial de base é a diferença entre o preço das regiões pecuárias brasileiras e a região de São Paulo, considerada a base de mercado do boi gordo.
Alguns fatores fazem de São Paulo a referência para os preços do boi gordo, mesmo sem ter o maior rebanho.
Entre eles, abriga o maior mercado consumidor, com 21,6% da população nacional (IBGE).
Foi o maior exportador de carne bovina em 2013, com 27,1% da carne in natura embarcada (MDIC). Também é a referência para os preços do mercado futuro na BM&F Bovespa.
Em função desses fatores, quando o pecuarista usa ferramentas de gestão de risco de preços fora de São Paulo, ele precisa ter uma referência de diferencial, para basear o uso de contratos futuros ou de opções, ou para negociar o diferencial dos animais vendidos a termo para o frigorífico.
O que gera o diferencial de base
Se a demanda estiver aquecida em determinada região, em relação à disponibilidade de produto, as cotações tendem a ser maiores que em outra praça pecuária, na qual a oferta atende tranquilamente o consumo.
Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, a demanda é menor que em São Paulo, tanto no mercado interno como para exportação.
Associando esse quadro a um rebanho maior, as boiadas tendem a valer menos, assim como em Goiás e Minas Gerais, quando comparamos com a praça de referência (São Paulo).
Com a cotação da arroba mais baixa passa a ser interessante transportar boiadas, por exemplo, de uma praça para a outra. Então, a diferença de preços acaba ficando ao redor dos custos com frete e impostos.
Se um boi de Mato Grosso do Sul posto em São Paulo fica mais barato que o do próprio estado, a tendência é que aumente este fluxo, o que gera maior demanda na praça vizinha e,esse movimento tende a valorizar essas boiadas, ajustando o diferencial.
Obviamente, esta movimentação de preços sempre é influenciada pelas peculiaridades de oferta e demanda em cada região, além do efeito de frete e impostos.
Quanto mais distante a praça, menor tende a ser a correlação dos preços com os de São Paulo. Veja a tabela 1.
A figura 1 mostra a as correlações das séries de preços em relação às distâncias das praças mais próximas a São Paulo.
No gráfico as praças de Mato Grosso não foram incluídas, devido à menor relação comercial direta de boiadas com São Paulo.
Quanto mais distante, menor a relação entre os preços regionais e os de São Paulo.
Vale ressaltar que diversos fatores alteram os preços, mas as correlações mais altas em distâncias menores sugerem que haja influência de uma sobre a outra, ou vice-versa, não necessariamente São Paulo sobre as demais.
Diferenciais de base médios
Como São Paulo é a referência para a BM&F Bovespa, o diferencial de base ditará o resultado do hedge, seja com contratos futuros ou de opções, uma vez que nestas situações os ajustes e garantias se referem aos preços em São Paulo.
Se o diferencial de base se alongar, o pecuarista não recebe este "distanciamento", caso use opções ou contratos futuros.
Já no mercado a termo existe a possibilidade de negociar antecipadamente o diferencial de base. Isto é positivo, pois permite que o pecuarista saiba antecipadamente o quanto receberá.
Por outro lado, existe a possibilidade de o diferencial se estreitar mais que o negociado, o que faria com que o pecuarista "deixasse de ganhar".
A tabela 2 mostra os diferenciais médios nas praças vizinhas a São Paulo. Duas praças mato-grossenses também foram incluídas devido à importância do rebanho e confinamento do estado.
Com base nestas diferenças, o pecuarista que usa mecanismos de gestão de preços pode ter um parâmetro para as negociações no mercado a termo ou estimar o que será recebido, quando somar a receita da venda das boiadas aos ajustes (contratos futuros) ou à realização das opções de venda.
Considerando o mercado futuro em 5/3, com o fechamento em R$126,00/@, à vista, para o contrato de outubro, e o diferencial médio para o mês, foram projetados os valores da arroba nas diferentes praças.
Ou seja, trabalhando com diferenciais médios para outubro, um mercado futuro ao redor de R$126,00/@, à vista, para São Paulo equivale a algo em torno de R$121,00/@ em Campo Grande e R$118,18/@ em Goiânia.
Atualmente o diferencial de base está especialmente curto em Mato Grosso do Sul, com preços se igualando aos de São Paulo em determinadas ocasiões. É provavél que 2014 seja mais um ano de diferença menor entre as cotações nas duas praças, como observado em 2013.
Considerações finais
O uso de ferramentas de gestão de risco de preços deve se manter em pauta no gerenciamento da propriedade rural, principalmente do confinamento, uma vez que este sistema não permite a retenção dos animais à espera de preços melhores.
Os diferenciais mostrados são as médias para cada mês nos últimos anos, mas podem ocorrer variações. Veja a figura 3.
Como pode ser observado, o diferencial oscila. Em 2013, a maior parte dos diferenciais de base teve aumento (distanciamento dos preços de São Paulo), exceto pelo de Campo Grande.
Uma explicação pode ser a maior oferta de fêmeas para abate, em relação a São Paulo, que possui menor expressividade na cria e, consequentemente, disponibilidade de fêmeas, mas isto não explica o movimento distinto de preços em Campo Grande.
Outro ponto que pode ter influenciado este comportamento foi a redução do rebanho. Entre o início de 2010 e de 2013, segundo dados do IBGE, houve aumentos de 6,7%, 5,6% e 5,1% em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, respectivamente. Em São Paulo e em Mato Grosso do Sul os efetivos caíram 3,9% e 3,7%, respectivamente.
O diferencial de base é mais uma variável a ser analisada na gestão das fazendas de pecuária de corte. No entanto, o risco de alteração do diferencial ainda é menor que o de vender a produção sem considerar as ferramentas de mitigação de risco de preços disponíveis.
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