Nas últimas semanas o mundo esteve de olho no conflito entre Rússia e Ucrânia pela posse da península da Crimeia (Figura 1).
A crise começou em novembro na Ucrânia, cujo desfecho foi a renúncia do presidente Viktor Yanukovich, no final de fevereiro, cujo cargo foi assumido por um governo interino pró União Europeia.
O governo russo entendeu que as manifestações populares pró-renúncia fora um golpe de estado. Em função disso, alegando que cidadãos russos, que vivem na Crimeia, estariam ameaçados, o governo russo, aos poucos, tomou o controle da área.
No último dia 16 de março houve um referendo na Crimeia sobre a união à Rússia ou à Ucrânia. O resultado foi que 97% dos votos foram a favor da anexação pela Rússia, entretanto, os problemas não terminaram com o referendo, pois a Ucrânia, União Europeia e Estados Unidos, consideraram-no ilegal . A Rússia prossegue tomando o controle da Crimeia e já considera anexada a seu território.
A disputa pela Crimeia é antiga e esse estado de tensão acabou por afetar o Brasil.
Reflexos para o Brasil e o mundo
Entre as commodities agrícolas comercializadas globalmente, a Ucrânia tem importância no cenário mundial para o trigo e o milho.
Segundo o departamento de agricultura dos Estados Unidos (USDA), a Ucrânia encerrou a safra 2013/14 com uma produção de 30,9 milhões de toneladas de milho, detendo a quarta posição entre os maiores produtores mundiais.
A estimativa é de que 51,8% desse volume seja exportado, o que faz do país o terceiro exportador mundial, atrás somente dos Estados Unidos e do Brasil.
Para o trigo não é diferente. O país é o quinto exportador, com 10,0 milhões de toneladas embarcadas em 2013. Esse volume representou 44,9% da produção ucraniana em 2013/14, cujo volume foi de 22,28 milhões de toneladas.
Vale destacar a importância da Ucrânia em negócios com o Brasil quando falamos em commodities agrícolas.
Praticamente os produtos que exportamos para a Ucrânia provêm do agronegócio. Segundo o Comitê Estatal de Estatística da Ucrânia, em 2012, os principais produtos comprados do Brasil foram carnes (44,8%), fumo (17,3%) e café (9,9%).
Em 2013, no mercado de carne suína brasileira in natura, Ucrânia e Rússia ocuparam a terceira e primeira posição entre os maiores compradores, respectivamente.
Desde o inicio do conflito, em novembro de 2013, até fevereiro de 2014, foram exportados 6,8 mil toneladas de carne suína in natura para Ucrânia. Esse volume, quando comparado com o mesmo período do ano passado, quando foram exportadas 36,2 mil toneladas, caiu 81,2%.
Foi uma queda expressiva das compras de carne suína feitas pela Ucrânia, entretanto, ao observarmos os negócios ano a ano, é notável a irregularidade dos embarques, não podendo ser essa queda atribuída exclusivamente pelo conflito, mesmo com certa influência.
Para a carne de frango industrializada, miúdos e carne in natura, desde novembro, foram exportadas 314,9 toneladas, uma queda de 38,7% em relação ao mesmo período de um ano.
Para o fumo, no entanto, houve incremento nas exportações. De novembro do ano passado até fevereiro deste ano foram exportados 990,3 toneladas, aumento de 56,6% em relação ao mesmo período do ano passado.
Os negócios com a Rússia, nesse contexto, são mais expressivos.
Em 2013, a Rússia foi a principal compradora da carne bovina brasileira (in natura).
As exportações renderam ao país um faturamento de US$1,28 bilhão. O volume exportado foi de 326,77 milhões de toneladas, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Os embarques para a Rússia representaram 22,1% do faturamento com as exportações brasileiras e 19,5% do volume exportado de carne bovina in natura.
Com relação ao milho, a representatividade russa é menor, com 1,1% da produção mundial.
Já para o trigo, a Rússia é a quarta produtora, com 52,07 milhões de toneladas produzidas em 2013/2014. Desse total, 33,6% são exportados (USDA).
A Rússia é importante na produção de potássio, essencial para o setor de fertilizantes. O país é responsável pela produção de um quinto do potássio mundial.
Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), a produção brasileira atende aproximadamente 8,4% do potássio consumido no país. O Brasil importa mais de 90,0% do que consome.
Dos produtos comprados da Ucrânia, 63,5% são fertilizantes, entretanto, a Ucrânia é pouco expressiva, considerando o volume total importado pelo Brasil, sendo que nossos maiores fornecedores são a Bielorrússia, o Canadá, a Alemanha, Israel e a Rússia. Os negócios com a Rússia não foram afetados pela crise com a Ucrânia.
Considerações finais
Uma guerra seria ruim para o Brasil. Nosso comércio exterior tem relações com as duas nações.
Se a posição da União Europeia e dos Estados Unidos resultarem em embargos econômicos, os negócios com o Brasil serão afetados, tal como foram com os embargos ao Irã.
Segundo o governo Ucraniano, as exportações de grãos continuarão iguais, mesmo se a Crimeia for anexada à Rússia. A península é responsável por aproximadamente 7,0% do escoamento Ucraniano, e os outros portos do país tem capacidade para absorver esse volume.
Até o momento, o conflito refletiu pouco em nosso comércio e relações exteriores, entretanto fica a expectativa do desenrolar da crise.
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