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Carta Conjuntura - As oportunidades do Brasil em meio à crise do setor sucroalcooleiro


Quarta-feira, 8 de abril de 2015 - 18h21

Introdução

Entre os dias 23 e 25 de março foi realizada, em São Paulo, a Conferência Açúcar e Etanol 2015. Participaram do evento importantes entidades do setor brasileiro e internacional, que dentre outros pontos, discutiram o futuro e os desafios do etanol brasileiro nos próximos anos.

Veja alguns pontos abordados.

Contexto

Um dos desafios da cadeia produtiva da cana-de-açúcar é aumentar a produção e, simultaneamente, reduzir os custos, aumentar a produtividade e ter uma mercadoria de qualidade, com elevada competitividade nos diversos mercados consumidores e, que seja sustentável.

Tendo isso em mente, o etanol de primeira geração, produzido a partir do processamento da cana-de-açúcar, foi a menina dos olhos do Brasil na década passada, quando a indústria estava em franca expansão.

Isso foi reflexo, dentre outros fatores, do aumento da demanda internacional por açúcar e em função dos carros com motores Flex. Nesse período se fez pesados investimentos no setor sucroalcooleiro, com a fundação de usinas e disponibilidade de crédito, principalmente a partir de 2003.

Verificou-se forte aumento nas exportações de etanol, motivadas principalmente pelo compromisso internacional de redução dos gases do efeito estufa e a consequente assinatura do Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram alta de 32,3% nas exportações brasileiras de etanol em 2006, atingindo 3,43 bilhões de litros, e em 2008 as embarcações do biocombustível somaram 5,12 bilhões de litros, recorde.

A crise mundial

Em 2008/2009 a crise mundial repercutiu no setor canavieiro e afastou os grandes investidores. Houve forte retração de crédito, aumento das taxas de juros e, consequentemente, as vendas de veículos Flex despencaram.

A partir daí o que se observou foram uma sequência de fatos de uma crise anunciada. A indústria sucroalcooleira sofreu ainda com uma série de problemas climáticos, aumento dos custos de produção e perda de competitividade do etanol frente à gasolina.

Esta última estimulada por políticas governamentais de subsídio à gasolina, cujos preços ficaram menores do que os vigentes no mercado internacional. Além disso, em 2012 houve a desoneração da CIDE e do Pis/Cofins sobre os combustíveis fósseis. 

Durante a Conferência o diretor técnico do CEISE Brasil, senhor Paulo Gallo, comentou: "Estamos no meio de uma enorme turbulência. O que diferencia esta crise das outras é a intensidade e a duração".

De acordo com estimativas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e da União dos Produtores de Bioenergia (UDOP), nos últimos seis anos 50 usinas, de um total de 370, fecharam as portas e 67 unidades encontram-se em recuperação judicial. A dívida do setor na região Centro-Sul soma R$85,4 bilhões.

A região Centro-Sul é a maior produtora de cana-de-açúcar do país e sua representatividade na matéria-prima total processada foi de mais de 90% nas três últimas safras.

Esse cenário e a falta de caixa das usinas resultaram em envelhecimentos dos canaviais, queda da produtividade e falta de investimentos em mecanização. 

Mesmo assim, o tom do discurso durante a Conferência foi de otimismo e de acordo com o senhor José Carlos Correia Maranhão, diretor superintendente da Usina Santo Antônio, a indústria brasileira superará essa crise, mas, alguns ficarão pelo caminho.

O que esperar 

As expectativas para 2015 indicam um quadro de recuperação das margens para o setor, com a retomada dos investimentos a partir de 2016.

A senhora Miriam Bacchi, professora e pesquisadora da ESALQ/USP e com 22 anos de experiência no setor acredita que a indústria canavieira passará por uma reestruturação, com fusões, aquisições e volta do capital estrangeiro. Para isso ela defende uma definição precisa da matriz energética por parte do governo federal. 

O senhor Rui Chammas, presidente da Biosev e, o representante e diretor de relações com os investidores do grupo francês Tereos Internacional, que controla o grupo Guarani, senhor Marcus Thieme, completaram dizendo que o aumento esperado da produção de gasolina brasileira já aconteceu e a maior demanda global de etanol está no Brasil, daí a importância de políticas claras e consistentes de médio e longo prazos.

A senhora Miriam estimou que o país tem condições de absorver 5 bilhões de litros, mas falta divulgar e promover o etanol para o consumidor, explicitando as vantagens ambientais e de preço. 

O presidente da usina Coruripe, senhor Juscelino Oliveira de Sousa, completou destacando a importância de repensar formas alternativas de comercialização do etanol e a necessidade de aproximação entre indústria e consumidor.

Para o senhor Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, diretor comercial da Alta Mogiana e presidente da Câmara de Açúcar e Etanol da BM&FBovespa, a demanda por etanol flutua de acordo com os preços, se estes recuarem a demanda, consequentemente, aumentará.

O senhor Juscelino declarou que nos próximos anos a expectativa é de aumento de consumo de combustíveis, não restando dúvidas de que haverá mercado para o etanol. Ele frisa que a questão não é a fatia de mercado, mas a participação nos lucros (profit share).

Mesmo com a quebra de 4,6% da safra 2014/2015 de cana, os estoques mundiais de açúcar deverão ser suficientes para manter o cenário baixista ao longo desse ano. Com isso, as usinas manterão uma produção mais alcooleira, o que poderá favorecer a recuperação da receita em função da maior liquidez do biocombustível.

De acordo com as palavras do senhor Luiz Gustavo (Alta Mogiana) durante a Conferência, o mercado está abastecido de açúcar e por isso não deveremos produzir em grande quantidade.

Atrelado a isso, o governo da Tailândia, segundo exportador mundial de açúcar, modificou a política interna de subsídio, garantindo preços mínimos aos produtores e incentivando o aumento da área de cana em detrimento da do arroz. Além de gerar excedente da commodity no mercado, tem-se um novo fator baixista sobre os preços internacionais.

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), as exportações tailandesas de açúcar bruto deverão ter incremento de 13,3% frente à 2013/2014, totalizando 8,5 milhões de toneladas. Nos últimos cinco anos os embarques aumentaram 72,4%.

Embora o cenário esteja desfavorável, principalmente pela instabilidade econômica, do crescimento negativo do PIB e a inflação acima da meta, é importante buscar oportunidades em meio à crise.

O senhor Marcus Thieme acredita que o retorno da CIDE (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) e o aumento da participação do etanol anidro na gasolina para 27% foram decisões importantes para o setor, além do ProRenova, linha de crédito do BNDES de apoio à renovação e fundação de canaviais.

O representante do grupo francês terminou dizendo que para a safra 2015/2016 existe um potencial incremento de 10% na demanda de etanol anidro e de, mais ou menos, 18% para o hidratado.

Com as novas medidas anunciadas pelo governo sobre a tributação dos combustíveis fósseis, o impacto sobre o preço da gasolina e do diesel nas refinarias foi de R$0,22/l e R$0,15/l, respectivamente.

Outro ponto positivo e citado pelo senhor Luiz Silvestre Coelho, diretor da ED&F Man é a desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar, que foi a mais significativa diante de outros países. Isso deverá favorecer a demanda internacional pelo etanol brasileiro por estar mais barato frente ao produto concorrente.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterio (MDIC), alguns países da África entraram para o ranking dos dez maiores importadores de etanol do Brasil, como  Angola e Gana, que juntos adquiriram 30,43 milhões de litros em 2014.

Na Ásia, Taiwan (Formosa) e Cingapura ocupam a 5o. e a 6o. posições, respectivamente, com uma participação de 3,3% dos embarques do biocombustível brasileiro.

A Coréia do Sul se consolidou como segundo mercado importador, fechando 2014 com 417,06 milhões de litros. Os Estados Unidos, desde 2011, são os maiores compradores do etanol do Brasil.

O senhor Luiz Gustavo, da Alta Mogiana, considera que o produtor precisa perceber e entender o mercado como um todo e pensar em longo prazo, continuar produzindo etanol, mesmo que os preços não estejam atrativos. 

Por fim, o senhor Paulo Gallo (CEISE BR) observou que os participantes da Conferência estão com uma impressão melhor do que em 2014, mas com cautela diante das dificuldades que virão. E terminou dizendo: "finalmente existe uma luz - esperamos que não seja um trem vindo na contramão".

Bibliografia consultada

Conferência Sugar & Ethanol 2015. Disponível em: http://www.novacana.com/n/eventos/cobertura-conferencia-sugar-ethanol-2015/?kmi=pg@scotconsultoria.com.br&utm_source=Etanol&utm_campaign=6f63c0284d-BNDES_por_usina_Mar_26_2015&utm_medium=email&utm_term=0_9fda3940f1-6f63c0284d-71087053. Acesso em 27 de março de 2015.

Outlook Fiesp 2024: projeções para o agronegócio brasileiro/Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. -- São Paulo: FIESP, 2014. 100 p. : il. Disponível em: https://docs.google.com/file/d/0B_TnzM-Mu2qVWVQ1cVpTWEpQWnc/view. Acesso em: 30 de março de 2015.


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