O ano que passou não foi fácil. Em 2015 vimos a inflação alcançar os dois dígitos, situação inédita desde 2002, e o dólar romper a barreira dos R$4,00, com uma alta acumulada próxima de 50,0% no ano.
Esse cenário influencia todos os agentes econômicos, uns menos outros mais. Vantagem para aqueles que têm a receita atrelada à moeda norte-americana, como, por exemplo, o setor exportador.
Porém, para boa parte da economia, incluindo a atividade pecuária, este contexto é mais prejudicial do que benéfico. Além da pressão inflacionária, que corrói os ganhos, há insumos utilizados na operação que sofrem influência direta do dólar.
Um balanço anual
Anualmente, a Scot Consultoria faz um exercício para estimar as rentabilidades de atividades agropecuárias e compará-las entre si e frente a outras opções de mercado.
Para tanto, utilizamos modelos econômicos que levam em consideração fatores estimados pela Scot Consultoria para cada negócio agropecuário (índices técnicos, localização e estrutura produtiva), conforme o nível tecnológico em questão.
Neste sentido, ressaltamos que os resultados apresentados podem ter significativa variação, conforme alteração dos índices produtivos.
Uma última informação importante é que para o cálculo da rentabilidade (lucro operacional/capital médio) consideramos o valor da terra, já que este compõe o “valor investido” na operação.
De fato, este normalmente é o maior valor investido nas operações agropecuárias, o que naturalmente tende a reduzir bastante o resultado final.
Os resultados
Na figura 1 apresentamos os resultados de 2015.
Além do dólar (47,0%) e da inflação (10,7% medida pelo IGP-DI), fatores de impacto direto nas atividades agropecuárias, tiveram destaque no ano passado o desempenho do ouro (31,7%), de títulos atrelados ao IPCA (rentabilidade bruta de 15,5%) e do CDI (13,2%).
O ouro é conhecido como o ativo dos tempos de crise. Sua procura aumenta quando se deseja segurança. Convenhamos, 2015 foi um ano nervoso, tanto no ambiente doméstico, como no internacional.
Os títulos atrelados ao IPCA surfaram a onda da inflação e deram um ótimo resultado. E o CDI, referência para diversos investimentos em renda fixa, acumulou alta de 13,2%. Pela relação risco-retorno, pode-se dizer que 2015 foi o ano da renda fixa (a bolsa de valores, avaliada através do Ibovespa, gerou um resultado negativo de 13,3%).
Resultados agropecuários
Após os indicadores citados na seção anterior, aparece a primeira rentabilidade analisada para as atividades agropecuárias, a pecuária de corte de ciclo completo com aplicação crescente de tecnologia, com retorno de 8,8% sobre o capital investido.
Dentro da pecuária de corte, apareceram na sequência a recria e engorda e a cria, também com aplicação crescente de tecnologia, com resultados de 6,2% e 3,3%, respectivamente.
A terceira posição da cria dentre os sistemas da pecuária de corte reflete a dificuldade de aplicação de tecnologia neste sistema, incorporada em nosso modelo. Porém, em sistemas de cria mais eficientes, a rentabilidade pode ser muito maior que a apresentada, com potencial para liderar os resultados de corte, em função dos altos preços do bezerro em 2015.
Como tendências frente a 2014, o ciclo completo teve um melhor resultado em função da alta do boi e por não necessitar da compra da reposição, que, por sua vez, reduziu a rentabilidade da recria e engorda para 2015. A cria, por sua vez, teve incremento de resultados em função deste cenário.
A atividade de corte teve destaque frente às opções agrícolas, como produção de cana-de-açúcar, milho e soja, ou mesmo arrendamentos em regiões de cana, por exemplo.
Para facilitar a análise, resumimos as rentabilidades agropecuárias na tabela 1, com a comparação frente ao apurado para 2014.
A pecuária leiteira foi a grande prejudicada no ano passado. Os sistemas de alta tecnologia saíram de uma rentabilidade de 7,9% em 2014 para um resultado de 1,7% em 2015. Já o sistema de baixa tecnologia passou de um resultado de -3,8% para -7,6%, ostentando a pior posição dentre as atividades agropecuárias analisadas.
Os resultados do leite foram pressionados pela queda nos preços ao produtor e aumento dos custos de produção.
Comparando-se a média nacional de 2015 com a de 2014, o preço do leite caiu 3,3% em valores nominais, enquanto os custos de produção subiram, em média, 5,4%, segundo o Índice Scot Consultoria de Custos de Produção da Pecuária Leiteira.
Expectativas para 2016
Além da pressão inflacionária, que aparentemente chegou para ficar, teremos reajustes de insumos ainda provenientes da alta do dólar do ano passado a serem incorporadas nos preços, além de novas rodadas de valorizações previstas para a moeda norte-americana.
O alento vem para as atividades cujos produtos conseguem boa colocação no mercado externo (recebem em dólares) e que não sofrem transformação da fazenda até o porto, como os grãos.
Para atividades que têm maior dependência do mercado interno, o prognóstico é de economia enfraquecida, com possível deterioração adicional na demanda, principalmente para os produtos com demanda “elástica”.
Além disso, há o encarecimento do crédito. Devemos lembrar que a agropecuária é altamente dependente de crédito para investimentos.
Em resumo, muito cuidado em 2016.
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